Um dia numa qualquer conversa de circunstância,
repreenderam-nos dizendo-nos que temos de estar mais atentos ao outro lado das
pessoas. Gracejámos e respondemos “mas qual outro lado? Do outro lado é o
rabo”. Desde então para cá muito sucedeu e agora já não se diz “o outro lado”,
diz-se sim “O Lado B”.
“O Lado B” tornou-se uma expressão muito em voga,
basta uma breve pesquisa pela internet para verificarmos a enorme quantidade de
lojas, restaurantes, programas de rádio e TV e de muitas outras coisas mais,
cujo nome é “Lado B” ou “B-Side”, o que quer dizer o mesmo, mas em inglês.
No Porto há um restaurante “Lado B”, no Brasil há uma
marca de jeans e acessórios desportivos “Lado B”, em Braga há um bar “Lado B”,
em Nova Iorque temos a pizzaria “B-Side”, o site “Paris Lado B” organiza
excursões diferentes pela capital gaulesa, em Bangkok há um Dj Studio “B-Side”,
em Tóquio temos uma cooperativa de artistas Pop chamada “B-Side Label”, em
Maputo o “Lado B” é um Karaoke e o município de Silves organiza regularmente
espetáculos musicais mais descontraídos e intimistas aos quais chama “Lado B”.
O que é que deu de repente a toda a gente, para quererem
ser alternativos? Até uma vulgar churrascaria em Buffalo nos Estados Unidos
decidiu chamar-se a si mesma “B-Side”. Mas o que vem a ser isto? Hã? Anda tudo
virado ao contrário?
Mas não se pense que a expressão “Lado B” se aplica
apenas a frangos assados, a Karaokes, a pizzas e a momentos intimistas, não
senhor, cada um de nós e os que nos rodeiam também têm o seu “Lado B”.
Hoje em dia fazer uma graçola como noutros tempos
fizemos, associando “O Lado B” ao rabo, certamente que nos valeria uma forte
reprimenda, quando não uma acusação formal.
Nesse sentido, e para eventuais efeitos legais, fica
explicitamente declarado que nós respeitamos “O Lado B” e estamos atentos ao
outro lado de pessoas e coisas. Querem uma prova?
Por exemplo, apreciamos bastante traseiras. São
espaços que não estão à vista de todos, mas cujos pátios interiores têm os seus
encantos. Frequentemente há saguões que dão acesso a pequenas hortas e a
estreitas passagens secretas, que vale a pena visitar. Gostamos de traseiras
pois então, “O lado B” dos prédios.
Recorremos novamente à internet e numa breve pesquisa
descobrimos rapidamente a importância do “Lado B” para as relações humanas. Por
exemplo, a revista brasileira Exame publicou um artigo sobre “Como lidar com o
lado B dos amigos?”.
Se querem saber, vale mesmo muito a pena ler (ou não, se por acaso tiverem coisa melhor para fazer, por exemplo, irem até às traseiras do vosso prédio).
https://exame.com/colunistas/money-report-aluizio-falcao-filho/como-lidar-com-o-lado-b-dos-amigos/
Em Portugal também há uma revista Exame que se dedica
a temas económicos e financeiros. Na verdade não é lá essas coisas, sempre que
seguimos os seus conselhos de investimento perdemos todo o dinheiro. Se
porventura a revista Exame se dedicasse antes a assuntos emocionais e
relacionais, talvez a coisa lhe corresse mais de feição e a nós também.
Para já estão muito atrasados, ainda recentemente
publicaram um artigo intitulado “Olhar para as pessoas como pessoas que são”.
Mas como assim? Ainda não perceberam que a moda agora não é olhar as pessoas
como pessoas que são, mas sim para o seu “Lado B”?
Abaixo fica o artigo, avisamos desde já, que se tiverem coisa melhor para fazer…
https://visao.pt/exame/2023-12-11-girl-talk-olhar-para-as-pessoas-como-pessoas-que-sao/
Mas continuemos com outros exemplos. No site do muito
bem sucedido Instituto Personare de terapias holísticas e vibracionais, somos
exortados a aprender a abraçar o nosso “Lado B”.
Lendo o texto, ficamos a saber que se nos aceitarmos por inteiro, incluindo o referido lado, fortaleceremos a nossa auto-estima. Bom, nem vamos comentar, mas se por acaso alguém nada de melhor tiver para fazer e quiser aprofundar o tema…
https://www.personare.com.br/conteudo/aprenda-a-abracar-seu-lado-b-2-m3532
Há uma revista de grande tiragem chamada Vida Simples,
que desde 2005 dá conselhos a todos sobre o modo como gerir as emoções, os
relacionamentos, a carreira, o dinheiro, os negócios, a casa e a família, a saúde
e o bem-estar.
Aqui só para nós, que ninguém nos ouça, há muito que
seguimos os conselhos da Vida Simples relativamente a negócios e a dinheiro, e
a coisa tem corrido mesmo bem, já no que concerne aos conselhos
psico-emocionais, pff….
Pensando bem, talvez não fosse mal pensado a revista
Exame ir para o Brasil e dedicar-se preferencialmente às emoções e a revista
Vida Simples vir para Portugal dedicar-se antes à economia e finanças. Era
capaz de resultar melhor para ambas se trocassem de lado.
Na Vida Simples há um artigo que nos convoca para a
exploração do poder do "Lado B". Há passagens extraordinárias pela
sua musicalidade e poeticidade, como por exemplo esta: “Eu sei, você sabe, todo
mundo sabe, o Lado B das nossas vidas têm tanta relevância quanto o Lado A”. É
lindo, não há outro modo de o dizer.
A articulista chama-se Lu Gastal e segundo as suas
próprias palavras é advogada por formação e artesã por convicção. Ah valente,
por convicção, assim é que é!
A dita senhora escreveu o livro “Relicário de afetos” e fecha o seu artigo com, citamos, um simples e potente desejo: “que a gente olhe e aceite com mais generosidade nosso Lado B. Nossa saúde emocional há de agradecer.”
Se quiserem ler…
Mas a surpresa das surpresas, veio-nos de um site
norte-americano seguido por milhões de pessoas em todo o mundo. Nele há um
artigo que se intitula assim: “O que é o Lado B? Quatro visões
cristãs sobre sexualidade”. O site chama-se Medium e o artigo está traduzido
para português.
Nós não fazemos a mais pequena ideia das opiniões
filosóficas, políticas ou religiosas de quem escreveu o tal artigo. O autor
descreve a si mesmo como “Um presbiteriano que quando escreve às vezes
desagrada outros presbiterianos”.
Seja lá o que isso queira dizer, é mais um que também
nos parece ter convicções e ser valente. Assim sendo, e porque não é menos que
a Lu Gastal, também nos merece um grande Ah valente!
Em qualquer dos casos, não vos deixamos o link do dito
site, que não queremos cá entrar em temas disruptivos e polémicos. Se por acaso
não tiverem nada melhor para fazer, de certeza que o descobrem, fica à vossa
responsabilidade.
Mas se vermos que o “Lado B” já chegou à religião foi
uma grande surpresa, não nos causou espanto menor saber que também já o há na
educação. Miguel Gameiro Silva, presidente do Conselho Executivo da Escola
Canto da Maia em Ponta Delgada nos Açores, escreveu um vibrante artigo acerca
deste assunto.
O artigo intitula-se “O lado B do aluno” e nele Miguel
Gameiro Silva conta-nos alguns pormenores da sua vida de estudante. Só para vos
abrir o apetite, aqui vai um trecho: “Como aluno, nos anos oitenta, confesso
que chamei bêbado a um professor devido a uma injustiça, rasguei folhas de
trabalho em frente da cara de outro por causa do seu perfeccionismo, atirei giz
àquela professora impaciente que só sabia gritar e dar aulas desinteressantes,
ajudei a atirar tomates e ovos podres a um colega falso e aldrabão...”
Após esta descrição, o Miguel continua por aí afora,
mas no fim chega à seguinte conclusão: “Só uma escola moderna, facilitadora da
comunicação e das potencialidades, com moldes de funcionamento inovadores e
inclusivos, com metodologias de ensino diversificadas, permitirá o
desenvolvimento do lado B do aluno - o lado bom!”
Que mais poderemos nós dizer, que não seja exclamar um
vigoroso Ah valente!
Como sempre, se não têm nada mais com que se entreter…
https://www.apagina.pt/?aba=7&cat=179&doc=12820&mid=2
Finalizamos este nosso texto com um tema dos Beach
Boys de que muito gostamos, e que foi composto para o lado b de um single, “God
Only Knows". Como se verifica não gostamos só de traseiras, também
gostamos de música.
Ah, e já agora, fica o aviso, apesar do título, a
canção nada tem que ver com o artigo “Quatro visões cristãs sobre a
sexualidade”.
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