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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2023

O fotógrafo estava lá

  Se a fotografia não tivesse sido inventada, alguém teria de a inventar, pois que sem ela, as nossas vidas seriam certamente bem mais tristes e pobres do que são. Muitas vezes, do muito que nos sucedeu, aquilo que verdadeiramente nos resta, nem são tanto as memórias, mas sobretudo umas quantas fotos.   E não é pouco, essas fotos que nos restam, pois elas são momentos das nossas vidas resgatados ao rio do tempo e ao seu contínuo fluir, que consigo tudo leva e arrasta.   O tempo escorre-nos velozmente por entre os dedos das mãos, ainda agora éramos crianças e brincávamos no recreio da escola e de repente, não mais do que de repente, passaram-se décadas, quase sem que déssemos por isso.   Olhamos para o nosso passado, e como numa velha canção francesa, questionamo-nos sobre “Que reste-t-il de nos amours? Que reste-t-il de ces beaux jours?” .   E também, tal e qual como nessa mesma canção, concluímos que, o que agora nos resta desses amores e desses dias belos, é apenas “U

Que futuro para a claque docente?

  Não caros leitores, não nos equivocámos. Não queremos mesmo falar-vos da classe docente, queremos sim falar-vos da claque docente. Uma coisa não é o mesmo que a outra, mas descobrimos nos últimos tempos que há intersecções entre ambas.   Presumimos que parte dos nossos leitores, tal como nós, aos domingos à noite, assiste ao programa televisivo “Isto é gozar com quem trabalha”. Com toda a certeza que não havemos de estar muito enganados, uma vez que este é um dos programas que maior audiência tem. Algo que nos chamou a atenção nas mais recentes emissões, foi que, de cada vez que o assunto em questão se relaciona com educação, a plateia que assiste ao referido programa ao vivo, manifesta-se ruidosamente com uns uh-uh-uh-uh e um longo eeehhh acompanhados de entusiásticas palmas. Pelo desenrolar da situação, não ficam dúvidas absolutamente nenhumas, de que pertencem à classe docente, aqueles que assim se manifestam, e não à Juve Leo, aos No Name Boys ou aos Super Dragões. Logo

Nas escolas há pormenores que entram pelos olhos adentro

  Talvez não haja no mundo país algum em que a atenção aos pormenores seja tão intensa como em Itália. É precisamente isso, o que distingue os italianos do resto do mundo.   Com efeito, a atenção aos pormenores explica muitas coisas acerca de Itália, desde a elegância no vestir até à tipicidade única da sua gastronomia popular, passando pela sua beleza urbana, pela arte e, inclusivamente, por certas características no modo como as equipas italianas jogam futebol.  A esse propósito, lembrámo-nos da seguinte história. Há uns anos, em 2016, numa escola no centro de Itália, Matteo, um “ragazzo” de oito anos, escreveu um texto no qual descreveu uma flor como sendo “petaloso”, ou seja, cheia de pétalas.   Em italiano, pétala é uma palavra do género masculino, daí o “petaloso”. Como em português, pétala é uma palavra do género feminino, nós vamos traduzi-la por “petalosa”.   A palavra não existia, nem em italiano, nem em nenhuma outra língua. Nenhum dicionário a acolhia. Contudo, a pr

O domingo passou a ser o dia mais odiado. Minha odiada segunda-feira: Te quiero todavía…

Hoje é sábado e muda a hora, razão pela qual, vamos falar-vos do domingo. Ou talvez não. Talvez vos falemos antes da segunda-feira, em que a conversa vai ser a mesma de todos os anos, ou seja, a de que dormimos uma hora a menos. Ou será uma hora a mais? Nunca nos entendemos com esta coisa da mudança da hora. Mas daí, se calhar não vale a pena falarmos-vos disso, é assunto sem grande interesse, esse da mudança de hora e dos dias da semana. O melhor é falarmos-vos de coisas mais excitantes e calientes, como seja por exemplo, da música da América Latina: da Rumba, do Bolero, do Merengue, do Mambo e do Cha-Cha-Chá. Enfim, estamos indecisos entre ser fiéis à nossa tristonha origem lusitana e falar-vos de assuntos insípidos e desinteressantes como as horas e os dias da semana, ou rendermo-nos aos hispânicos encantos, e falarmos-vos de coisas mais excitantes. Estamos verdadeiramente indecisos...   Mas porque hoje é sábado, talvez comecemos afinal por arranjar um modo de sermos ao me

O direito a não ser ofendido, não existe

O Tio Patinhas foi censurado. Dois contos clássicos da banda desenhada do referido personagem, vão ser revistos pela Disney no âmbito do seu (e passamos a citar) “compromisso com a diversidade e inclusão” . “Os Cinco”, livros mundialmente conhecidos pelo público juvenil ao longo de várias gerações, foram igualmente alvo da censura. Nalgumas bibliotecas do Reino Unido, as versões originais estão a ser armazenadas em zonas fora do alcance do público, para evitar que os leitores tropecem em livros com (e passamos a citar) “linguagem datada e potencialmente ofensiva” . Nós somos defensores dos direitos de todos. Somos absolutamente contra o racismo, a xenofobia, o machismo, a homofobia e demais parvoíces do mesmo género. Respeitamos o direito de cada um a ser quem é, e a viver a vida como melhor lhe aprouver. Dito isto, temos muita dificuldade em entender, em que medida, a revisão censória dos contos do Tio Patinhas ou o afastamento dos livros de “Os Cinco” das estantes das bibliotecas,

A Oeste Nada de Novo

  Assinalou-se esta semana o Dia Mundial da Poesia. De norte a sul e a este, há inúmeros acontecimentos poéticos por todo o país. E a oeste também, claro está. Grande parte deles prolongam-se até ao próximo fim de semana. É o que sucede em Lisboa, com a Feira do Livro da Poesia. A feira está instalada no Jardim da Parada em Campo de Ourique, não muito longe da casa onde outrora habitou o Fernando Pessoa e todos os seus heterónimos. Era uma casa pequena e acanhada, mas cabiam lá todos.   Também em Campo de Ourique, situa-se o antigo Cinema Europa. Também aí há, durante a presente semana, acontecimentos poéticos que estão integrados na Feira do Livro da Poesia. O Cinema Europa foi inaugurado em 1930 e funcionou até 1981. A partir da década de 80, funcionou como estúdio de televisão. Atualmente é um espaço cultural dividido em três secções, uma biblioteca, uma ludo-biblioteca para crianças e jovens até aos 16 anos e uma sala polivalente. Aposta também na projeção de filmes de anim

Rankings, ratings e ratas

  Os ratings de Portugal nunca são lá essas coisas, nem a nível económico, nem noutros. Desde há já uns bons anos a esta parte, a ONU publica anualmente o ranking dos países mais felizes do mundo. O resultado de 2023 saiu agora. Portugal continua na mesma posição do ano passado, um medíocre 56° lugar. https://cnnportugal.iol.pt/nacoes-unidas/onu/estes-sao-os-paises-mais-felizes-do-mundo-em-2023-portugal-nao-esta-nos-50-primeiros-lugares/20230320/6418933b0cf2dce741b0a5b8   Os rankings valem o que valem, isso já nós sabemos. Os rankings das escolas, por exemplo, abrem telejornais, ocupam páginas e páginas dos jornais, são motivo para milhares de comentários, mas, feitas as contas, pouco ou nada nos adiantam.   Em boa verdade, praticamente todas as análises dos rankings das escolas se limitam a constatar o óbvio, que em média, os alunos provenientes de classes sociais mais favorecidas e cujos encarregados de educação dispõem de condições económicas para pagar as mensalidades dos colégios