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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2022

Em casa é que se educa e na escola é que se instrui

  “O fado é que educa, e o vinho é que instrói” , é um dito popular que tem uma certa graça. O que já não tem assim tanta graça, é quando se diz que “Em casa é que se educa e na escola é que se instrui” . Quem assim o diz, só o pode dizer por desconhecimento do que daí resultaria, pois caso soubesse, certamente que não o diria.  Comecemos por falar da palavra educação .  Por vezes, a palavra educação é usada como sendo um sinónimo de boas maneiras. Diz-se de alguém que nunca dá os bons dias e as boas tardes a ninguém ou que não sabe usar os talheres à mesa da refeição, que é alguém sem educação nenhuma. Mas, em boa verdade, o que se está mesmo a dizer desse alguém, é que não tem maneiras nenhumas. A educação de que aqui vos queremos falar, vai para além das boas maneiras. Incluiu-as, mas consiste em algo de muito mais vasto, do que tão-somente saudar os outros com bom dia ou boa tarde, ou em saber usar corretamente os talheres. A palavra educação vem do latim educare , o que lite

Eu pecador me confesso...

  A intensa aceleração do tempo atual, em que todos e tudo parece estar à distância digital de segundos, não nos deixa tempo para respirar.  A rapidíssima sucessão de imagens, informações, vozes e mensagens, não nos permite viver num ritmo humano e compassado, em que como numa melodia, aos momentos de maior intensidade, se sigam outros mais lentos, acompanhados pelas respetivas pausas.  No mundo da incessante comunicação digital, nunca nada nem ninguém pode parar, a cacofonia é permanente, é quase proibido estar “off-line”, pois tudo é urgente. Há sempre mais uma mensagem para enviar, um e-mail para responder, um post para ler, um site para consultar, uma imagem para ver e um telefonema para fazer ou atender.   Diante dessa constante avalanche de imagens, informações, mensagens e telefonemas, somos impotentes para conseguirmos organizar mentalmente toda a imensidão de estímulos a que nos sujeitamos. Por consequência, não temos tempo para amadurecer as nossas experiências, temos dificul

O negacionismo educativo

  Há quem se desfaça em lágrimas e chore de eterna saudade pela escola de outrora. Há quem sonhe com esse tempo idílico em que os professores eram respeitados, os alunos esforçados, a matéria dada e no fim todos eram aprovados com distinção e louvor e viviam felizes para sempre.  Esse tempo em que as coisas eram simples e tudo estava arrumado no seu lugar, a alguma vez ter efetivamente existido, jamais voltará. Por muitos lamentos que haja, o tempo é outro, mais desarrumado. As escolas de agora não vivem felizes para sempre, vivem antes para dar respostas educativas a um mundo em constante mudança, complexo e incerto. Se já assim o é no presente, mais ainda o será no futuro.  O negacionismo é um fenómeno transversal a várias áreas do saber. Há quem negue as vacinas, há quem negue as alterações climáticas, há quem ache que a Terra é plana e há também quem negue que o homem alguma vez tenha pisado a lua. Os negacionistas acreditam que muitas descobertas científicas, são o resultado de um

Ai, ai ai, ai ai…

  Ler muito alto faz parte das aprendizagens essenciais? Sim. E ler à pressa? E muito devagar? E a murmurar? Também. O que é escrever em bom português? Depende. E o que é saber ler bem? Também depende. Mas se em ambos os casos depende, como ensinar alguém a escrever e a ler bem? Não sabemos, mas ainda assim, podemos polemizar sobre ambos os assuntos. Comecemos pelo escrever. O escritor Júlio Dantas (1876-1962)    é um autor consagrado. Deu o seu nome a umas quantas escolas e a outras tantas ruas e avenidas de cidades e vilas deste país. A sua escrita é arrumada, aprumada e bem pontuada.  Se atualmente frequentasse o ensino básico, certamente que arrancaria cincos atrás de cincos à disciplina de Português. Todavia, o grande Almada Negreiros, que dizia de si mesmo ser poeta, futurista e tudo, abominava-o. Citemos este último a propósito do primeiro: “O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, (…) saberá tudo menos escrever, que é a única coisa que ele faz! O Dantas nasceu para provar que

A Educação Artística na escola: espelho meu, espelho meu…

  Há duas formas de nos olharmos ao espelho. A primeira é olharmos para o nosso reflexo para vermos o quão lindos e jeitosos somos.  A segunda é olharmos para o espelho e refletirmos sobre quem somos. No primeiro caso, o olhar divaga à superfície, à flor da pele, foca-se na aparência. No segundo caso, o olhar foca-se na essência e dirige-se para lugares distantes, que se situam lá bem no fundo de cada um de nós.   Comecemos pela segunda forma de nos olharmos ao espelho, ou seja, comecemos pelo olhar que nos leva numa viagem pelo interior de nós mesmos, aos nossos lugares mais recônditos. Comecemos pelo olhar que nos conduz à reflexão sobre quem somos.   Podemos refletir sobre quem somos, olhando para o nosso reflexo na superfície envidraçada de um espelho. Podemos fazê-lo pelas manhãs, enquanto fazemos a barba ou enquanto retocamos a maquilhagem. Todavia, também o podemos fazer de um modo muito mais profundo e complexo:  olhando para uma obra de arte.   Uma obra de arte é um encontro d