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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2023

Aventuras e desventuras de um professor com vocação para os serviços mínimos

Nós há muito que cumprimos os serviços mínimos. Nós quem? Perguntará quem nos lê. Nós, o personagem que aqui vos narra a história que se segue, respondemos nós. Com efeito, temos levado uma vida inteira em serviços mínimos e, por estranho que pareça, até nos temos dado bem com isso. Tudo terá começado há umas décadas atrás, quando entrámos para a primeira classe. Para nossa sorte, quando chegámos à escola primária, já sabíamos ler e escrever. Logo passados os primeiros dias de aulas, verificámos que a nossa professora não sabia muito bem o que fazer connosco. Nós também não sabíamos muito bem o que estávamos para ali a fazer na sala de aula, quando tínhamos coisas bem mais interessantes na vida com que nos entreter. No entanto, ao que parece, a escola era obrigatória e portanto tínhamos mesmo de ir. A professora fingia que nos ensinava a ler, e nós fingíamos que aprendíamos o “a,e,i,o,u”, quando na verdade já líamos perfeitamente qualquer tipo de texto sem a mais leve dificulda

Orientem-se!

Na Assembleia da República os deputados acusam o governo de ter causado o desnorte e o “abandalhamento” no ensino público. O governo devolve as acusações.  Nos jornais e televisões, os comentadores comentam, havendo também inúmeros debates onde cada um expressa uma opinião diferente da do outro.  Os sindicatos concorrem entre si convocando simultaneamente diversos tipos de greve, umas por distrito, outras ao primeiro tempo letivo e ainda outras por tempo indeterminado. Há reuniões de negociação, após as quais, uns dizem que houve importantes avanços e outros dizem que pouco ou nada se avançou.  Neste entretanto, os professores manifestam-se e aguardam uma resolução para a sua situação.  Por fim, há encarregados de educação que afirmam estar solidários com a luta dos docentes, enquanto outros correm a matricular os seus filhos no ensino privado.  Em síntese, isto é cada um para seu lado, estamos num impasse e a desorientação parece ser geral. Quem visitar o Museu de Arte Antiga em Lis

Há sempre quem diga sim à burocracia

  É kafkiano, mas há sempre quem diga sim à burocracia. Gramaticalmente, a burocracia é uma palavra do género feminino, exclusiva razão pela qual, e por mais nenhuma outra, vamos dizer que, por analogia, a burocracia é como uma mulher ciumenta. Não nos venham para cá acusar de machismo, a culpa não é nossa se a gramática é o que é. Se a palavra burocracia fosse do género masculino, não teríamos qualquer problema em dizer que o “burocracio” é, por analogia, como um homem ciumento. Viram? Burocracio!!! Soa mal, não soa? Pois claro que soa. Assim sendo, com a vossa licença, continuemos com a analogia no feminino. Em termos analógicos, a burocracia gosta de tudo saber e de tudo ter sob controle. Por exemplo, onde tudo se poderia resolver com um simples “até logo, vou ali já venho”, a burocracia complica e faz inúmeras e repetitivas perguntas sobre o assunto: A que horas vens? Demoras muito? Vais ficar muito tempo? Onde vais? Com quem vais? A lambisgóia também vai? ….e por aí adia

Os filhos dos ricos e os dos pobres

  Estamos em janeiro de 2022 e já não há vagas nas escolas privadas para o ano letivo 2023/2024. A avaliar pelo que está acontecer, parece que a tendência dos últimos tempos vai acentuar-se consideravelmente no próximo ano letivo, ou seja, mais privado, menos público. O número de escolas públicas tem vindo a diminuir, havendo quase nove mil estabelecimentos a menos relativamente aos que havia há 20 anos, de acordo com dados do Ministério da Educação. Em contraste, os colégios privados têm crescido, assim como o número de estudantes que os frequentam. Deixamos-vos a notícia: https://www.dn.pt/sociedade/colegios-privados-com-inscricoes-esgotadas-para-o-proximo-ano-letivo-15704308.html   Ou muito nos enganamos, ou daqui a uns poucos anos já não vai haver escassez de professores nas escolas públicas, pois o seu número será tão diminuto, que uns poucos professores bastarão para dar conta do recado. Pelo caminho que vamos, num futuro próximo, frequentarão a escola pública tão-somen

Que caminho seguir na Educação?

  Um sinal de sentido obrigatório é desesperante. E há lá coisa mais irritante do que parar num semáforo vermelho ou num sinal de stop? Tanto faz que vamos a pé, de bicicleta ou de automóvel, é sempre uma maçada quando nos obrigam a parar ou a seguir num certo sentido. Fica-se até com a sensação de que estão a restringir a nossa liberdade. Bem sabemos que os sinais de trânsito são úteis e necessários e que os devemos respeitar para que não haja acidentes, no entanto, lá por sabermos tudo isso, tal não significa que não nos sintamos irritados quando nos obrigam a parar ou a ir obrigatoriamente por ali.   Caso algum leitor esteja a pensar que os parágrafos antecedentes não são reveladores de uma grande coerência da nossa parte, nós chamamos em nossa defesa uma citação do maior de todos os poetas norte-americanos, Walt Whitman (1819-1892): “Contradigo-me? Pois bem, então contradigo-me. Sou extenso, contenho em mim multidões”.   A coerência não é portanto uma das nossas virtudes. Gostamos

A greve

  Nos anos 80 ainda havia singles. Em princípio, do lado A do disco estava uma música bem boa, do lado B, uma menos boa. Por vezes, para surpresa dos próprios autores, a música bem boa estava no lado B. Outra vezes, nem de um lado, nem do outro. E, em casos raros, era tudo bem bom, fosse de que lado fosse. Na década de 80, éramos nós ainda uns adolescentes inconscientes, e todos os dias ouvíamos falar em greves. Foram os anos de uma enorme crise económica. Havia continuamente fábricas a fechar, ordenados por pagar com muitos meses de atraso, uma inflação a atingir os 30%, muita miséria e até fome. Como seria previsível, perante tal panorama, as greves sucediam-se.   Se consultarmos os dados da Pordata, vamos verificar que o número de greves desde esses anos para cá baixou consideravelmente. Os anos com valores mais elevados, foram o de 1986, no qual houve 363 greves que envolveram 232 000 trabalhadores, e o de 1989, em que houve 307 greves, com 296 000 trabalhadores envolvidos. A

Let’s do it

  Por vezes consegue-se, outras vezes não. Neste caso, estamos em crer que, por pouco que seja, alguma coisa se conseguiu. A criação deste blog surgiu como complemento à criação de uma disciplina para o 3° e 4° ano de escolaridade intitulada Perfil XXI, que foi implementada nas escolas do 1° ciclo do Agrupamento de Escolas de Alvalade em Lisboa, a saber, a Escola Básica São João de Brito e a Escola Básica Teixeira de Pascoais. É através deste blog que temos divulgado publicamente muitos dos guiões de aprendizagem que temos construído e aplicado. Todavia, os conteúdos publicados neste blog vão para lá disso. Escrevemos frequentemente sobre os filmes, os livros, as músicas, a arquitetura e as obras de arte que inspiram o nosso trabalho e também, porque não dizê-lo, as nossas vidas. Queremos que inspirem outras vidas, as dos alunos e, se não for pedir muito, também as vidas de quem aqui nos lê. Não raramente fazemo-nos de engraçados ou, pelo menos, tentamos que nos achem graça. De qua