É kafkiano, mas há sempre quem diga sim à burocracia.
Gramaticalmente,
a burocracia é uma palavra do género feminino, exclusiva razão pela qual, e por
mais nenhuma outra, vamos dizer que, por analogia, a burocracia é como uma
mulher ciumenta.
Não nos venham
para cá acusar de machismo, a culpa não é nossa se a gramática é o que é.
Se a palavra burocracia fosse do género masculino, não teríamos qualquer
problema em dizer que o “burocracio” é, por analogia, como um homem ciumento.
Viram? Burocracio!!! Soa mal, não soa? Pois claro que soa. Assim sendo, com a vossa licença, continuemos com a analogia no feminino.
Em termos analógicos, a burocracia gosta de tudo saber e de tudo ter sob controle. Por exemplo, onde tudo se poderia resolver com um simples “até logo, vou ali já venho”, a burocracia complica e faz inúmeras e repetitivas perguntas sobre o assunto: A que horas vens? Demoras muito? Vais ficar muito tempo? Onde vais? Com quem vais? A lambisgóia também vai?
….e por aí adiante, até um nunca mais acabar de questões.
Por ser controladora, a burocracia, em termos analógicos, para além dos constantes interrogatórios, impõe-nos uma série de regras e procedimentos, de modo a que tudo esteja sempre em ordem: Arrumaste os sapatos? Fechaste a gaveta? Limpaste os pés? Já despejaste o lixo? As compras estão no lugar?
… e o mais que se quiser.
É assim a burocracia, ciumenta e controladora.
Se atentarmos em como habitualmente é definida a palavra burocracia, ou seja, significando uma organização com muitas divisões, regras, controles e procedimentos redundantes e desnecessários ao funcionamento do sistema, teremos obrigatoriamente de concluir, que a nossa analogia, não é de todo em todo desajustada.
Algo que anda frequentemente associada à palavra burocracia, é o papel ou os papéis. Não é de modo algum incomum, que as pessoas se queixem sobre para que serve tanto papel ou para que servem tantos papéis...
Como os nossos leitores mais atentos hão de ter notado, falámos em papel e em papéis. Por consequência, fomos gramaticalmente inclusivos, usámos o singular e o plural. Connosco, o singular e o plural são iguais, e são ambos para ser usados. Connosco não há cá discriminações.
Como se pode verificar, através deste nosso texto, já admitimos que ao invés de usarmos a palavra do género feminino burocracia, podíamos perfeitamente ter usado a (inexistente) palavra do género masculino “burocracio”. Palavra essa, que só descartámos porque soava mal, e não por qualquer razão discriminatória.
Um ponto para nós.
Mas não nos
ficámos por aí, dando mais uma vez mostras que somos campeões da inclusão,
usámos também o singular e o plural numa mesma e única frase. Palmas para nós,
que somos gramaticalmente inclusivos quanto ao género e quanto ao número. Nem
todos podem dizer o mesmo.
Mas não estamos
sozinhos, pois que já séculos atrás, o Padre António Vieira fez o mesmo.
Deixamos-vos a citação: “Em nenhuma parte tanto como em Portugal se gasta tanto
papel, ou se gasta tanto em papéis.”
Nos últimos tempos, temos visto televisão. Do que gostamos mais é de “O preço certo” e dos noticiários. Através de “O preço certo”, ficámos a saber que, com a inflação, a vida está pela hora da morte. Através dos noticiários, ficámos a saber que os professores se queixam de que, o que ganham, não lhes dá para viver. Ficámos também a saber, que se queixam da burocracia, ou seja, do papel e dos papéis.
A burocracia, o
mesmo é dizer, Isto de preencher papéis ou papel, tem muito que se lhe diga.
Conta-se que há muitos, muitos anos, no tempo em que os animais falavam, uma
equipa de futebol brasileira veio fazer uma digressão por Portugal.
O Atlântico
atravessado e chegados ao aeroporto, mesmo antes de entrarem em território
nacional, os jogadores tiveram de preencher por escrito um impresso do serviço
de estrangeiros e fronteiras. Um dos jogadores, cujo nome agora nos escapa, lá
foi preenchendo o documento.
Sobre qual era o seu nome, respondeu sem dificuldades com o respetivo nome. Acerca da sua nacionalidade, não teve igualmente problemas. Relativamente à pergunta sobre a sua idade, também não houve hesitações. O problema surgiu quando foi questionado sobre o sexo. Perplexo, o jogador estranhou a pergunta, todavia, após uns momentos sem saber o que escrever, lá acabou por responder. À questão sexo, respondeu sim.
Com a burocracia
a história é sempre a mesma, por muito controladora e ciumenta, que seja, há
sempre quem lhe diga sim...
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