Há já algum tempo que
os professores são uma das classes profissionais que mais recorre aos serviços
de psicólogos e psiquiatras. Parece que agora, os adolescentes lhes fazem
companhia. Aparentemente, uns por umas razões, outros por outras completamente
diferentes, tanto os professores como os adolescentes, são atualmente dos
melhores e mais assíduos clientes de psicólogos e psiquiatras.
Se quiserem saber o que
pensam os técnicos e especialistas sobre o que se passa com os adolescentes,
abaixo deixamos-vos dois links, um do jornal Público e outro do Expresso. Ambos
nos parecem ser um bom ponto de partida para aprofundar o conhecimento sobre
esse tema.
Quem porventura quiser antes saber o que pensamos nós, que não somos técnicos nem especialistas, nem nada que vagamente se assemelhe, pode ignorar os links e continuar a ler-nos. Não irão certamente aprender nada que se aproveite, mas pronto, a escolha é vossa.
Depois de longamente
refletirmos sobre o assunto em questão, para aí mais de um quarto-de-hora, a
nosso ver, o traço comum que leva a que docentes e adolescentes recorram com
tanta frequência a psicólogos e psiquiatras, é que quer uns, quer outros, se
sentem demasiado observados, vigiados e avaliados e, por consequência,
excessivamente pressionados.
Não concordam
connosco? Ai sim! Se calhar o melhor então é irem ler a opinião dos técnicos e
especialistas. Desta vez os links para que o possam fazer não estão abaixo, mas
sim acima. Nós por aqui continuaremos com quem nos restar. A continuação está
abaixo, claro está.
Em boa verdade, há
poucas coisas na vida que nos causem tanta pressão, como sermos observados,
vigiados e avaliados. A nós e a toda a gente. Se centrarmos esta nossa reflexão
no contexto escolar e mais concretamente na avaliação, é certo que aos alunos
adolescentes, as provas, os testes e os exames, lhes causam grande pressão,
disso não haverá dúvida. Mas nesse mesmo exato contexto, é igualmente certo,
que aos professores, a observação de aulas decorrente da chamada Avaliação de
Desempenho Docente, semelhante pressão lhes causará.
Sentirmo-nos
pressionados por sermos avaliados, não é bom. Mas ainda assim, uma coisa é
sermos adolescentes e prestarmos contas num teste ou num exame que incide sobre
uma matéria concreta e calha mais ou menos sempre na mesma época do ano letivo.
Nesse caso, podemos estudar e preparamo-nos, pois sabemos exatamente ao que
vamos.
Coisa totalmente
diferente, é que nos venham avaliar e observar sem sabermos concretamente ao
que vêm, quem virá e numa data que tanto pode calhar em janeiro, como em abril
ou em novembro.
Vejamos, uma coisa é
sermos regularmente avaliados num determinado período sobre as nossas
competências em Português, em Matemática, em Inglês, em Filologia, em
Astrofísica ou em Antropologia. Até aí tudo muito bem. Ou as temos, ou não as temos, às competências, claro está.
Coisa distinta, é
sabermos que vamos ser observados e avaliados, mas temos apenas uma vaga ideia
do quando e do como. Também não sabemos verdadeiramente qual é a “matéria” em
que efetivamente nos irão avaliar.
Dizerem-nos que vamos ser observados e avaliados sobre o modo como “damos aulas” não é nada. É tanto como dizer a um aluno que vai ser avaliado sobre o modo como “tem aulas”.
Na observação de
aulas, há uns quantos domínios, uns científicos e outros didáticos, uns quantos
parâmetros e mais uns quantos objetivos e procedimentos a cumprir, mas tudo por
junto, quase ninguém percebe nada daquilo. E isto é algo que já constatámos com
muitas e diversas pessoas ao longo de muitos anos.
Em síntese, em
contexto avaliativo, dificilmente se sentirá maior pressão de que quando não se
percebe bem aquilo em que se está a ser avaliado, nem quem o fará, nem como, nem
quando.
Na chamada Avaliação
de Desempenho Docente, relativamente à avaliação externa e à correspondente
observação de aulas, sabemos apenas que seremos observados mais ou menos no ano
tal e tal, mas só lá muito mais para a frente, se verá concretamente o mês, o
dia e a hora.
Sabemos também que
alguém nos há de vir observar. Mas quem será, só Deus saberá. Pode ser a Maria,
o José ou o Pintassilgo.
Sabemos ainda, que os
documentos a preencher e os relatórios a fazer, hão de ser estes ou aqueles, ou
seja, que há uns quantos fixos e uns quantos variáveis, dependendo isso de
muitas e diversas circunstâncias, que não vale a pena estar aqui a elencar.
Em conclusão, bastaria só a chamada Avaliação de Desempenho Docente para deixar um professor completamente perplexo, confuso e revoltado, tal e qual fosse um adolescente a necessitar de auxílio emocional.
Abaixo, uma avaliação
de uma professora feita por um aluno. Talvez neste caso valesse a pena
comprovar a opinião do aluno com uma aula observada.
Mas deixemos a Avaliação de Desempenho Docente e voltemos aos adolescentes.
A enorme quantidade de notícias que lemos nos jornais relativas aos graves problemas emocionais e de saúde mental que atualmente os adolescentes apresentam, é de facto uma das coisas que mais estranheza nos causa.
A estranheza advém da
facto da adolescência ser umas das mais belas e descontraídas idades da nossa
vida. Bem sabemos que há, e sempre houve, problemas nessa idade, mas isso faz
parte de se crescer. Ainda que por vezes na adolescência haja situações que temporariamente
entristeçam, não deveriam ser de molde a deprimir e a causar perturbações
emocionais.
Seja qual for a
opinião de técnicos e especialistas, a nós, como já antes dissemos, parece-nos
que esta espécie de epidemia está relacionada com as pressões que os jovens de
hoje em dia sofrem. Ao que julgamos saber, são iguais às de sempre, contudo, a
sua intensidade é muito maior que noutros tempos.
Dantes, os pais não se
metiam tanto na vida dos adolescentes, agora metem-se em tudo. Basta que se
tenha assistido a eventos desportivos para jovens adolescentes há umas décadas
e que se assista agora ao mesmo, para se compreender imediatamente a diferença.
Há umas décadas eram raros os pais aparecerem em tais eventos, atualmente estão lá todos entusiasticamente a apoiar e a incentivar. Haverá meninos e meninas que até gostam disso, mas se tivéssemos de apostar, diríamos que uma grande parte da rapaziada até se deve sentir incomodada, quando não fortemente pressionada, com tanto apoio e incentivo.
Todavia, as
intromissões e pressões parentais vão muito para além dos eventos desportivos.
Graças aos “Smartphones” é possível saber-se a cada momento, onde se está, com
quem se está e aonde se vai. É quase impossível a um jovem adolescente atual
pisar o risco, sem que seja rapidamente detectado. Ainda que à distância, está
a ser constantemente vigiado, observado e avaliado.
Para além disso tudo,
que já não é pouco, há ainda a escola. Quando em adolescentes fazíamos alguma
asneira, éramos chamados à pedra por alguém com responsabilidades na escola. Em
princípio, só se a coisa fosse mesmo grave é que chegaria aos ouvidos dos
nossos pais. Agora, faz-se uma coisinha de nada e cinco minutos depois já
seguiu um e-mail ou uma mensagem de WhatsApp com queixinhas aos pais. Deve ser
horrível andar-se um dia inteiro, sabendo-se que quando se chegar a casa vai
haver caldeirada, passe a expressão.
Mas aparentemente, segundo se diz, o pior de tudo nem são os pais. Parece que, as pressões que mais perturbam os jovens adolescentes, são as dos seus próprios colegas. Pressões essas que se relacionam fundamentalmente com o que cada um é. Se és gordo és um badocha, se és magro és um pau-de-virar-tripas, se és alto és uma girafa, se és baixo és um caga-tacos, se tens boas notas és um marrão, se tens más notas és um calhau com olhos e por aí afora, pois que a lista é interminável.
Claro que alcunhas
sempre houve, não é de agora, todavia, dantes o seu uso restringia-se a um
determinado círculo, agora com as redes sociais, não há ninguém no mundo
inteiro que não possa ficar a saber que na escola os colegas nos chamam “cabeça
de atum”.
Imaginemos que somos
adolescentes e os nossos colegas andam um ano letivo inteiro a chamarem-nos
“cabeça de atum”. Chega o verão e vamos de férias para Vila Velha de Cima, para
Torremolinos ou para as Caraíbas. Lá ninguém nos conhece, estamos safos, não
nos vão chamar “cabeça de atum”.
Uma vez instalados,
conhecemos outra rapaziada da nossa idade e zás, alguém decide ir fazer uma
pesquisa na internet. Está o caldo entornado, a partir daí vamos ser o “cabeça
de atum” durante todo o verão.
Claro que qualquer
adolescente que seja um “cabeça de atum”, ainda antes de partir de férias para
Vila Velha de Cima, para Torremolinos ou para as Caraíbas, sabe perfeitamente
que existe a possibilidade de o detetarem nesse destino, consequentemente,
estará sempre sobre pressão na expectativa que consiga escapar incólume ao
verão.
Por tudo isto, não é
de admirar que os adolescentes se sintam pressionados e que andem meio-apanhados.
Mas então e os professores?
Como é evidente também
andam meio-apanhados e não apenas por causa da chamada Avaliação de Desempenho
Docente. Também no caso dos docentes, as pressões vêm a aumentar nos últimos
anos: mais papéis, mais reuniões, mais interferências dos encarregados de
educação e, claro está, mais alunos perturbados. Por consequência, também não é
de espantar que como os adolescentes, recorram ao serviço de psicólogos e
psiquiatras em busca de auxílio emocional.
Mas nós queremos terminar este texto com uma mensagem claramente positiva. Se não para todos, pelo menos para os professores portugueses. A nossa mensagem de incentivo e apoio resume-se do seguinte modo: podia ser pior.
“Podia ser pior” é uma
expressão com que frequentemente apoiamos e incentivamos todos os que nos
rodeiam:
-Então, foi bom?
-Hmm…ah…enfim…feitas
as contas, não foi assim tão mau, podia ser pior.
A avaliar por duas
capas de revistas estrangeiras, podia mesmo ser muito pior. A primeira é esta:
A segunda é esta:
Dito isto, para
terminarmos, deixamos-vos uma musiquinha doutros tempos que nos fala das
intermitências emocionais de se ser adolescente, que no fundo não serão muito
diferentes das de se ser docente: “One day, I feel so happy, the next day, I
feel so sad, I guess I'll learn to take the good with the bad.”
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