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A mostrar mensagens de junho, 2022

Espelho meu, espelho meu, há professor mais patusco do que eu?

  Ao terminar as aulas, é muito normal que qualquer professor diga bye-bye aos seus alunos, suspire de alívio e comece a pensar em destinos tropicais, dias passados junto ao mar e no “dolce far niente” .  Todavia, nós por aqui gostamos de remoer os assuntos e de aborrecer quem nos lê, razões pelas quais, vamos    continuar a falar-vos sobre professores e alunos. De que haveríamos nós de falar? De festivais de verão? De saladas e de refeições leves e frescas? De como proteger a nossa pele dos raios solares? Da temperatura da água do mar? Nada disso é a nossa onda. A nossa praia é outra. O querido mês de agosto nada nos diz. Somos mais para o macambúzio. Consequentemente, neste (quase) final de ano letivo, propomo-nos matutar sobre em que medida os alunos são um reflexo dos seus professores. Outro tanto é dizer, em que medida os professores marcam os seus alunos.  Imaginamos que neste momento parte dos nossos leitores professores mudaram de canal, mandaram-nos passear e ir dar uma volta

Que bela vida a de professor

  Quem sendo professor já não ouviu a frase “Os professores estão sempre de férias”. É uma expressão recorrente e todos a dizem, seja o marido, o filho, a vizinha, o merceeiro ou a modista. Um professor inexperiente e em início de carreira, dar-se-á ao trabalho de explicar pacientemente aos seus interlocutores a diferença conceptual entre “férias” e “interrupção letiva”. Explicará que nas interrupções letivas há todo um outro trabalho, para além de dar aulas, que tem de ser feito: exames para vigiar e corrigir, elaborar relatórios, planear o ano seguinte, reuniões, avaliações e por aí afora. Se o professor for mais experiente, já sabe que toda e qualquer argumentação sobre este tema é inútil, pois que inevitavelmente o seu interlocutor tirará a seguinte conclusão : “Interrupção letiva?! Chamem-lhe o quiserem, são férias”. Não nos vamos agora dedicar a essa infrutífera polémica, o que queremos afirmar é o seguinte: os professores não necessitam de mais tempo desocupado, necessitam sim d

Só nós e alguns vadios te queremos, ó Tejo

  Há por esse país afora uma corrente pedagógica, segundo a qual as aprendizagens seriam tão mais significativas, quanto o currículo de cada escola estivesse adaptado à realidade económica do local onde se situa. Neste sentido, ao dia de hoje, no Algarve  haveria   um currículo em cujo turismo fosse o tema central, na Serra da Estrela  seria   a pastorícia e na região do Douro era   o vinho o que mais importava. Não discordamos totalmente da ideia. Em boa verdade, gostamos de ir a banhos ao Algarve, de saborear um bom queijo da serra e consideramos que uma pinga de vinho nunca fez mal a ninguém. Consequentemente, se a escola puder contribuir para que as atividades locais prosperem e sejam fonte de riqueza e desenvolvimento das populações, por nós, tudo a favor. Dito isto, ainda bem que somos de Lisboa.  E ainda bem porquê? Não por termos um qualquer complexo de superioridade relativamente à província, não é disso que se trata, as nossas razões são poéticas e de espanto. Não somos cont

Lisboa o Tejo e tudo

Pedimos a cada aluno que desenhasse a sua Lisboa. Cada um desenhou uma Lisboa: o castelo, a ponte, um elétrico, a Torre de Belém e o Tejo. Juntaram tudo o que tinham desenhado.  Todas as ruas, passeios e avenidas.       As casas, as pontes e os jardins.    Nasceram novas perspetivas de Lisboa.  Lisboa existe porque nós a inventámos.   Esta publicação está ilustrada com trabalhos dos alunos e com a pintura "B ailarico no Bairro" de 1936, de Mário Eloy.                                                                                      

A carne é fraca mas o tempero ‘tá bom

  Há nomes que apenas os evocamos e somos imediatamente levados para um mundo de exóticas aventuras, de intensos aromas e de condimentados sabores . Basta pronunciá-los e é como se iniciássemos a viagem de uma vida.  Dizemos Expresso Oriente  e na mente surgem-nos imagens de sultões, odaliscas e das cúpulas douradas de antigas mesquitas refletidas nas águas do Bósforo. Dizemos Rota da Seda e passam-nos pelos olhos longas caravanas, as dunas de imensos desertos e cidades milenares: Constantinopla, Antioquia, Damasco… Dizemos Transiberiano e imaginamos uma locomotiva vermelha a avançar veloz por nove mil duzentos e oitenta nove quilómetros de uma linha que se inicia em Moscovo, atravessa a gélida Sibéria, as extensas planícies da Mongólia    e continua até à Grande Muralha da China. Abrimos um manual escolar, dizemos Rota das Especiarias e de repente tudo é insípido, insosso e sem tempero. Folheamos as páginas, percorremos a Rota das Especiarias, mas ao longo do percurso não sentimos

Sobre as emoções tenho curiosidade. Sobre os factos, quaisquer que venham a ser, não tenho curiosidade alguma. (Fernando Pessoa)

Porquê levar os miúdos a um museu para ver arte? Sim, porquê? Ele há sítios tão mais divertidos para se ir. E ele há também coisas tão mais interessantes para se fazer. Ir a um museu ver arte, para uma criança, pode certamente ser uma grande maçada.  Recentemente, um consagrado artista britânico, Jake Chapman de seu nome, causou alguma controvérsia ao afirmar numa entrevista, que levar crianças a um museu de arte é um autêntico desperdício de tempo. Acrescentou ainda, que quem pensa, que as crianças conseguem compreender a complexidade de uma obra de arte, está simplesmente a ser intelectualmente arrogante.  A acreditar nas considerações acima, ir a um museu de arte com miúdos, é submetê-los a uma tortura e para demais perfeitamente inútil. Mas será que é mesmo assim?  É certo que uma criança não possui ainda as ferramentas conceptuais que lhe permitam compreender a complexidade de uma obra de arte, mas e se a ida a um museu, ao invés de ser uma aprendizagem intelectual, fosse primordi

O que tu vês com os teus olhos, as tuas mãos o traçam na tela

  Hoje é a noite de Santo António. O Santo António é tido pelos lisboetas como sendo casamenteiro. É um santo popular, pois claro. A própria palavra “casamenteiro” reflete esse lado marialva e pagão dos encontros e namoricos por ele abençoados. Os manjericos e as quadras populares que os acompanham, mais não fazem que acentuar todo esse arraial associada ao santo.   O dia de amanhã, 13 de Junho, está ligado ao nascimento de Maria Helena Vieira da Silva. Se o Santo António é a personagem que encarna a faceta mais popular e dada à brejeirice das gentes de Lisboa, Vieira da Silva encarna a faceta recatada e intimista. Para essa tendência ao recolhimento de Vieira da Silva, terá contribuído o facto de ter passada uma infância solitária:  " Era a única criança, numa casa muito grande, onde me perdia, onde havia muita coisa, muitos livros … não tinha amiguinhas, não ia à escola…" Estreou recentemente um documentário que resulta da pesquisa sobre a correspondência íntima entre Vieir