Os ratings de Portugal nunca são lá essas coisas, nem a nível económico, nem noutros. Desde há já uns bons anos a esta parte, a ONU publica anualmente o ranking dos países mais felizes do mundo. O resultado de 2023 saiu agora. Portugal continua na mesma posição do ano passado, um medíocre 56° lugar.
Os rankings valem o que valem, isso já nós sabemos. Os rankings das escolas, por exemplo, abrem telejornais, ocupam páginas e páginas dos jornais, são motivo para milhares de comentários, mas, feitas as contas, pouco ou nada nos adiantam.
Em boa verdade, praticamente todas as análises dos rankings das escolas se limitam a constatar o óbvio, que em média, os alunos provenientes de classes sociais mais favorecidas e cujos encarregados de educação dispõem de condições económicas para pagar as mensalidades dos colégios privados, obtém notas mais elevadas nos exames do que alunos provenientes das classes sociais mais desfavorecidas.
A sério que em
média os alunos provenientes das classe sociais mais favorecidas obtém melhores
notas que os alunos provenientes das classes sociais mais desfavorecidas? Mesmo
a sério? Quem diria. Dessa é que ninguém estava à espera! Que grande novidade,
os rankings das escolas anualmente nos dão!
Se as análises
dos rankings das escolas só nos suscita ironias e sarcasmos, já o mesmo não
sucede com o ranking dos países mais felizes do mundo. Como também é óbvio, a
maior parte dos países mais felizes do mundo são os mais ricos e desenvolvidos,
como por exemplo, a Suécia, a Finlândia, a Suíça, o Canadá, a Alemanha, a
Austrália ou os Estados Unidos. Evidentemente que os países mais infelizes do
mundo são aqueles em que há pobreza extrema, fome e guerra, como por exemplo, o
Afeganistão, o Líbano, o Zimbábue ou o Bangladesh.
Quais são os
países mais felizes e mais infelizes do mundo, é óbvio. O topo e o fundo da
lista, qualquer um podia adivinhar, para isso não precisávamos de nenhum
ranking. Precisamos sim de um ranking, é para perceber por qual razão países
como El Salvador, a Nicarágua, a Guatemala, o Kosovo ou o Uzbequistão, são mais
felizes que Portugal.
Se lermos o
relatório sobre a felicidade mundial, mesmo que na diagonal, confirmamos que há
um factor óbvio que contribuiu para a felicidade de um país, a saber, o seu
nível de riqueza e desenvolvimento. Confirmamos também que há factores óbvios
que contribuem para a infelicidade: a fome e a guerra.
Dito isto, há
outros factores que pesam de forma absolutamente decisiva na felicidade ou
infelicidade de um país. Factores como, por exemplo, a generosidade das gentes e
a quantidade e qualidade das relações sociais que estabelecemos uns com os
outros. Ou seja, o quanto e de que modo nos relacionamos com os nossos
conhecidos, vizinhos, colegas, amigos, família e todos demais que nos
rodeiam, é um factor determinante para a nossa felicidade enquanto país.
Quanto mais solidários
e empáticos formos com todos aqueles com quem vivemos e convivemos, mais
felizes seremos. Quanto mais distantes e antipáticos formos,
mais infelizes seremos. Quanto mais restrito e apertado for o nosso círculo de
relações e interesses, pior. Quando mais intenso e alargado for, melhor.
A avaliar pelo
relatório anexo ao ranking dos países mais felizes do mundo, pelo seu mediano e
relativo desenvolvimento, Portugal deveria ser um país um pouco mais feliz do
que realmente é.
Aparentemente, são factores como a qualidade e a quantidade de relações que estabelecemos com os nossos demais compatriotas, que nos deixa assim meio para o tristonho, num apagado 56° no ranking da felicidade.
Talvez tenhamos
que ser mais uns para os outros, falarmos mais, convivermos mais e rirmo-nos
mais. Talvez desse modo consigamos ser mais felizes como país.
Tudo isto só vem
confirmar um estudo feito há uns anos pela Universidade de Chicago, no qual se
tentou demonstrar que ter boas relações sociais, é algo de fundamental para o
ser humano.
Para a consecução desse estudo, os cientistas usaram ratas de laboratório, que, como se sabe, são mamíferos que apresentam similaridades com os humanos no plano do corpo, nos sistemas orgânicos, nos mecanismos de regulação psicológica e em múltiplas áreas cerebrais. Análises genéticas comparativas indicam que humanos e ratos tiveram um ancestral comum há aproximadamente 75 milhões de anos atrás, o que sugere uma grande similitude genética entre estas duas espécies.
Os cientistas
fecharam uma rata num tubo em que havia uma portinhola que só se podia abrir do
lado de fora. Do lado de fora havia uma outra rata, que podia livremente optar
entre tentar ajudar a sua companheira rata presa ou ir comer um chocolate. A
experiência demonstrou que 23 em cada 30 ratas optavam por prestar ajuda e não
pelo chocolate.
Entre outras coisas, o que este estudo pretendia provar, era que relacionarmo-nos e cuidarmos dos outros, é um impulso inato cuja satisfação nos faz sentir bem e felizes. Bem e felizes ao ponto de abdicarmos de comer chocolate.
O estudo pretendia provar que, por muito difíceis que sejam as circunstâncias, a maioria das pessoas são naturalmente boas e quando colocadas perante uma escolha, normalmente optam por fazer o bem.
Daqui se pode concluir, que não temos de andar todos desconfiados uns dos outros e sempre com a pulga atrás da orelha, pois que no fundo há muitas pessoas boas. Ou se não isso, pelo menos pode concluir-se que há muitas ratas boas.
Quem quiser ler
mais sobre esta experiência, pode fazê-lo em:
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