Queremos
hoje falar-vos do uso das novas tecnologias na sala de aula, da capacitação
digital e de tudo isso. Mas antes, falemos primeiro da foto que vos
apresentamos. Foi tirada no Rijksmuseum em Amsterdão. Ao fundo na imagem, vemos
uma das maiores obras-primas da História da Arte: “A Ronda da Noite” de Rembrandt. Em primeiro plano, um grupo de
jovens numa espécie de experiência imersiva.
Com uma
simples pesquisa, descobrimos que atualmente, apenas em Lisboa, há múltiplos
eventos que se anunciam como sendo uma experiência educativa e artística
imersiva. Temos Monet, Michelangelo, Da Vinci, Frida Kahlo, Banksy e Vieira da
Silva, isto só para referir meia dúzia de exemplos.
Em Atenas,
há cerca de 2400 anos, Platão escreveu um dos textos fundadores da nossa
civilização: “A Alegoria da Caverna”. No
fundo de uma caverna há pessoas acorrentadas e forçadas a olhar somente para a
parede à sua frente. Nunca conheceram mais nada que não isso. Atrás dos
prisioneiros, ao cimo da caverna, há uma fogueira. De dentro, nada se vê do que
se passa no lado de fora. Veem-se apenas as sombras vindas do exterior que a
luz da fogueira projeta na parede interior da caverna. Por consequência, os
prisioneiros julgam que as sombras são a realidade.
“A Alegoria da Caverna” é uma metáfora da
condição humana perante o mundo, nomeadamente, no que concerne à importância do
conhecimento e da educação como formas de nos libertarmos da prisão e das
sombras da ignorância e podermos contemplar a verdade.
Mil amigos
nas redes sociais não substituem um único amigo verdadeiro. O ensino à
distância não substitui o ensino presencial. Ver imagens artísticas imersivas
não é o mesmo que olhar para uma obra de arte. Um amigo conhece-se, numa escola
aprende-se e uma obra de arte contempla-se.
Nada temos
contra quem quer distrair-se com as chamadas experiências artísticas imersivas,
no fundo, é como ir a uma petiscada e servirem-nos delícias do mar. Não é o
mesmo que marisco fresco, é apenas um sucedâneo, ou seja, uma sombra de “The
Real Thing”. Se
porventura não conhecermos melhor, come-se por bom. Para quem quer conhecer e
saber, é uma banhada.
Museus e
marisqueiras não faltam para quem queira saber mais e conhecer melhor.
Natureza morta, Jan Davidsz De Heem (1606-1684)
Casa Museu Medeiros de Almeida, Lisboa
Relativamente
ao uso das novas tecnologias na sala de aula e à capacitação digital, afinal, fica
para outra ocasião. Por hoje preferimos dedicarmo-nos à única experiência
imersiva que realmente nos satisfaz, a de enchermos a banheira de água,
deitarmo-nos no seu interior e deixarmo-nos estar. Talvez a ler Platão. Porque
não?
Woman in
Bath, Roy Lichtenstein (1923-1997)
Museu
Thyssen-Bornemisza , Madrid
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