“We choose to go to the moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard."
Completaram-se, no passado dia 12 de setembro, seis décadas desde que o Presidente John F. Kennedy proferiu estas históricas palavras perante uma multidão em Houston.
À época, para o homem comum, ir à Lua parecia uma coisa fantasiosa e destinada a fracassar. Com tantas coisas úteis e prementes que havia para se fazer na Terra, a que propósito se iria gastar tempo e recursos para se ir à Lua? Ainda para mais, sem sequer se ter qualquer certeza que efetivamente se conseguiria lá chegar. Todavia, em 1969, a Apolo 11 aterrou na superfície lunar e toda a humanidade aclamou entusiasticamente esse enorme feito.
O que antes parecia uma excentricidade, ou seja, ir à Lua, é o que hoje nos permite comunicar quase instantaneamente com alguém que está do outro lado do mundo. Como seriam as comunicações neste nosso século XXI, se há décadas atrás ninguém tivesse lançado um programa espacial que levou à colocação de satélites no espaço? Uma coisa é certa, nem os telemóveis nem os GPS’s existiriam e as redes sociais também não.
Façamos uma analogia com as salas de aula. Do Minho ao Algarve, passando pelo Porto, Entroncamento e Lisboa, não raras vezes, ouvimos afirmar que não se consegue “dar a matéria”, pois que se perde muito tempo com projetos, inovações e “experimentações”.
Em síntese, perde-se muito tempo com coisas que parecem ter sido pensadas por gente que anda com a cabeça na lua, ao invés de se estar focado no que é útil e importante, ou seja, em “dar a matéria” e desse modo preparar os alunos para os exames, para os testes, para o ciclo seguinte e assim sucessivamente.
Mas será mesmo tal e qual como se ouve dizer? Nuns casos certamente que sim, noutros casos certamente que não. Em qualquer dos casos, vejamos se as lições históricas que podemos retirar do discurso do Presidente John F. Kennedy e da subsequente viagem à Lua nos podem iluminar.
A primeira lição a retirar é a de que, o que em determinado momento nos parece fantasioso e pouco útil, transforma-se mais tarde em algo concreto e de extrema importância. Ir ao espaço e à Lua parecia uma fantasia, mas se essa fantasia nunca tivesse sido levada a cabo, nunca teriam existido comunicações por satélite e a nossa vida atual seria completamente diferente da que é.
Por outro lado, “dar a matéria” parece algo de extremamente importante, mas frequentemente acaba por não o ser. A matéria a dar depende sempre de quem manda. E como todos sabemos, quem manda muda, consequentemente, a matéria a dar. Hoje é uma, amanhã pode ser outra.
Ponhamos um exemplo, entre muitos outros possíveis. Se recuarmos algumas décadas, precisamente ao tempo em que Kennedy lançava o programa espacial, nas escolas portuguesas tinha-se obrigatoriamente de aprender todas as linhas de comboio da metrópole, mais as de Angola e as de Moçambique.
Podemos agora perguntarmo-nos: Mas para que serviu dar toda essa matéria?
Como já na época era previsível, as antigas colónias tornaram-se naturalmente países independentes. A C.P. foi fechando linhas atrás de linhas, sendo que hoje, o comboio é o menos usado dos meios de transporte. Tanto esforço, tanto estudo, tanta reguada e tudo para nada. Tanto tempo que se perdeu nesse tempo a “dar a matéria”.
Se quisermos um exemplo bem mais recente, pensemos nas zonas da Ucrânia ocupadas pela Rússia. Uma das primeiras medidas tomadas pelo governo ocupante, foi precisamente rever toda a matéria a dar, desde da Língua à História, passando por muitos outros conteúdos. Às escolas ucranianas das zonas ocupadas, pode-lhes faltar muitas coisas, mas manuais escolares a estrear com as novas matérias a dar, isso de certeza que não lhes falta.
Mas não dando a matéria, faz-se o quê? Ah pois, isso é que é difícil. Ou talvez não. O verdadeiro conhecimento, aquele que interessa, permanece e floresce muito para lá dos bancos da escola e não se esgota no dia dos testes ou dos exames, não é feito de matérias dadas. Faz-se sim pensando, discutindo, questionando, pesquisando, falando, escrevendo, lendo, desenhando, experimentando, ouvindo, vendo, imaginando e, sobretudo, fantasiando. Desde sempre que assim é e para sempre assim será.
O verdadeiro conhecimento faz-se também falhando. Antes do primeiro foguetão ter chegado à Lua, outros houve que explodiram e se despenharam. O que não explodiu nem se despenhou foi a vontade de lá chegar.
Há alunos com dificuldades que falham constantemente no que lhes é pedido, ou seja, que saibam a matéria que lhes foi dada. Em grande parte dos casos, falham porque a matéria não lhes interessa para nada. Daqui não se deduz que o conhecimento não lhes interesse, não lhes interessa é o modo como lhes é servido, ou seja, como matéria.
Talvez para evitar que se tornem uns falhados para a vida, se lhes possa dar e pedir outras coisas, como por exemplo, que fantasiem com uma viagem à lua, porque não?
Com um elevadíssimo grau de probabilidade, no futuro próximo que em muitos casos já é presente, fantasiar vai ser uma competência muito mais útil para a vida do que qualquer matéria dada. E isto não apenas a um nível pessoal, mas fundamentalmente ao nível profissional. Basta ver quais são atualmente os empregos melhor remunerados para perceber que o futuro pertence aos criativos, aos que andam com a cabeça na Lua...
Guião de aprendizagem "Onde é que está a matéria?"
https://drive.google.com/file/d/1eH0pQdLq-JYeWnmESuqhvcpdqkds0b5D/view?usp=sharing
Ficha de exploração "Onde é que está a matéria?"
https://drive.google.com/file/d/14Z7QbtyvMLulIfwbBDF9fmsKhapgWHVE/view?usp=sharing
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