Todos sabemos que nem toda a gente é um excelente docente, mas também todos sabemos, que há quem o seja e não tenha quota para como tal ser avaliado. Da chamada Avaliação de Desempenho Docente resultam frequentemente coisas abstrusas e isso acontece independentemente da boa vontade e seriedade de todos os envolvidos no processo.
O processo é a palavra exata para descrever todo esse procedimento. Quem quiser ter uma noção aproximada de toda a situação deverá dedicar-se a ler Franz Kafka, e mais concretamente, uma das suas melhores e mais célebres obras: "Der Prozeß" (O Processo)
Para quem for
preguiçoso e não quiser ler, aqui fica o resumo animado da Ted Ed (Lessons Worth Sharing):
Tanto quanto sabemos, num agrupamento de
escolas há quota apenas para dois a cinco docentes terem a menção de excelente,
isto dependendo da dimensão do dito agrupamento.
Aparentemente, quem concebeu e desenhou todo este sistema de avaliação optou por seguir uma determinada escola de pensamento, a saber, a do Minimalismo. Dever-se-á ter inspirado na máxima do grande arquiteto e designer Mies Van Der Rohe: “ Less is more”.
O Minimalismo foi um
movimento artístico, cultural e científico que percorreu diversos momentos do século XX e que produziu
obras tão fascinantes como a da imagem abaixo do norte-americano Sol LeWitt
(1928-2007).
Nós propomos que o
Ministério da Educação adquira a escultura da imagem acima e faça dela um
símbolo da chamada Avaliação de Desempenho Docente.
Talvez se possa tirar o
Marquês de Pombal de cima do seu pedestal e colocar lá a dita escultura. Assim,
quando saíssem os resultados da Avaliação de Desempenho Docente, certamente que
teríamos peregrinações ao Marquês de todos os professores que tiveram menção de
Excelente, claro que não seria tanta gente como quando o Benfica ganha um
campeonato, mas ainda assim, era uma festa. Fica a ideia.
Mas a nossa proposta vai mais longe, pois
queremos também que todos os outros docentes, ou seja, aqueles não obtiveram
quota para o excelente, tenham igualmente um lugar de peregrinação. Neste caso, não
propriamente um sítio para festejarem, mas sim um local onde possam recolher-se
em paz para se lamentarem da sua avaliação, uma espécie de memorial funerário, portanto.
Propomos para esse local uma outra obra minimalista,
desta vez o minimalismo à italiana de Mario Merz (1925-2003) cuja imagem podem ver mais abaixo.
Claro que esta não seria adquirida pelo Ministério de Educação, mas sim por uma quotização mensal, criada para esse efeito, de todos os docentes QZP e QE. Dispensar-se-iam dessa
contribuição os contratados.
Como é evidente, este local de
peregrinação tem um público potencial muito mais numeroso do que o do Marquês
de Pombal, por consequência, estabelecer-se-iam quotas de entrada diária e as
pessoas inscrever-se-iam e esperariam pacientemente pela sua vez.
Propomos que esta obra seja colocada no concelho de Cascais, junto à Boca do Inferno, que é um sítio turístico, arejado e com
excelentes vistas. Já que não têm excelente na avaliação, têm as vistas.
Mas ainda não ficamos por aqui, no que
toca a propostas. Temos mais uma. Já temos um sítio para festejos e um outro
para lamentos, o que na verdade nos falta, é um sítio para se ir rezar por um
milagre.
Uma espécie de altar ecuménico, em que
possamos pedir a Deus, a Buda, a Alá, aos orixás e a todos os santos, que façam um milagre e iluminem o caminho de quem nos vai avaliar para que nos seja
concedida uma menção de excelente.
Para esse local sugerimos mais um clássico do estilo minimalista, Dan Flavin (1933-2006).
Parece-nos que em Almada, mesmo junto ao Cristo-Rei, ficava bem. E servia até para quem fosse de cacilheiro, esse dedicado companheiro, pequeno berço do povo, em que navegando a idade foi chegando, o cabelo branqueando, pudesse também dirigir as suas preces a bem da avaliação docente...
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