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Irlanda - Como fazer turismo sem sair de casa


Permanecemos no lar e o mais que fazemos é viajar. Escusam de nos vir dizer que é improvável que se viaje sem a casa largar, pois que ao longo desta série de verão, “Como fazer turismo sem sair de casa”, já fomos a muitos lugares, como por exemplo, ao Reino Unido, ao Rio, à Rússia e até mesmo ao Japão. Improvável? Talvez que sim, talvez que não, seja como for, nós somos apaixonados por improbabilidades matemáticas e outras viagens.
2 + 2 = 4, o que nos interessa isso? 2 + 2 = 5 é que nos excita. “So, let’s go”.
Verdadeiramente improvável é a ilha da Irlanda e contudo existe. É uma ilha perfeita para apaixonados por improbabilidades matemáticas. Muito apropriadamente, um dos principais símbolos que a identifica é o trevo-de-quatro-folhas.
Desde tempos ancestrais, que na ilha se acredita, que encontrar um trevo-de-quatro-folhas é sinal de boa sorte. O problema é que isso é coisa muito rara de suceder, até porque a palavra “trevo", deriva do latim trifolium (três folhas).
Dito isto, a expressão trevo-de-quatro-folhas significa algo como "um três-folhas de quatro folhas", o que à partida nos parece ser uma enorme improbabilidade matemática, mas sendo na Irlanda, tudo é possível.
No fundo, o trevo-de-quatro-folhas é mais ou menos o equivalente aos portuguesíssimos gambozinos, ou seja, é uma coisa que se procura, procura, procura e a probabilidade de se a encontrar é praticamente nula.
Ora bem, como já terão adivinhado, é para a matematicamente improvável Irlanda que vamos hoje numa longa viagem, neste nono episódio da série “Como fazer turismo sem sair de casa”.
A primeira improbabilidade matemática da ilha da Irlanda, é que numa só, há duas. Com efeito, a ilha divide-se por dois países: a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. A Irlanda do Norte é um país que faz parte do Reino Unido e ocupa 1/6 do território da ilha, a República da Irlanda é um país absolutamente independente, que ocupa os restantes 5/6.
Para além de haver duas Irlandas, cada uma delas têm dois nomes, a República da Irlanda também se chama Eire e a Irlanda do Norte também é conhecida por Ulster.
Mas para a complicação ser maior, três dos nove condados do chamado “Ulster histórico”, que não corresponde ao país Irlanda do Norte também conhecido por Ulster, fazem parte da República da Irlanda. Confusos?
Feitas as contas, temos aqui um doce imenso para os apaixonados por improbabilidade matemáticas, uma ilha chamada Irlanda constituída por dois países chamados Irlanda cada um deles com dois nomes, o que vem a dar quatro nomes.
Nela, na Irlanda, há um “Ulster histórico” com nove condados e um Ulster administrativo (a Irlanda do Norte) com seis, sendo que os restantes três condados do “Ulster histórico” pertencem ao território da República da Irlanda. Continuam confusos?
Em termos matemáticos a equação é a seguinte: se a ilha da Irlanda for x, significa que x = (1 + 3/9) + (1 = 6/9). Para além disso, o (1 + 3/9), a República da Irlanda, corresponde a 5/6 do território da ilha, e o (1 = 6/9), a Irlanda do Norte, corresponde a 1/6 desse mesmo território. Menos confusos?
Não há nada como uma boa equação matemática para nos clarificar a mente, mas para quem eventualmente ainda esteja um tanto confuso, abaixo fica um mapa com a República da Irlanda e com a Irlanda do Norte. Esqueçam a conversa dos condados e do “Ulster histórico”, que pelos vistos isso só vos atrapalha os raciocínios.

Mas há mais improbabilidades na Irlanda. Qual será a probabilidade matemática de numa pequena ilha nascerem tantas bandas musicais mundialmente conhecidas, como por exemplo, os U2, os The Cranberries, os Boomtown Rats, os The Dubliners ou os The Pogue? Isto já para não falar de músicos a solo, como Van Morrison, Enya ou a recentemente falecida Sinead O’ Connor.
Ainda no campo musical, qual foi o país que maior número de vezes venceu o Festival da Eurovisão? Pois cá está, foi a Irlanda. Sete vitórias, nem mais nem menos.
Em conclusão, também no campo da música, a Irlanda é uma improbabilidade matemática.
Não concordam connosco? Ai não? Então digam lá qual é a outra ilha do Atlântico que apresenta um tal currículo musical? Quantas bandas conheceis vós da Graciosa? E do Corvo? E da Terceira? E de Porto Santo? E já agora, de Tenerife e Lanzarote? Zero, pois claro, era o que nos queria parecer.
De entre todos os irlandeses cuja fama musical ultrapassou fronteiras, escolhemos Johnny Logan. Quem !? Johnny quê, perguntarão os nossos leitores. Johnny Logan, o triplo vencedor do Festival da Eurovisão. Desafiando todas as probabilidades matemáticas, venceu-o três vezes, em 1980, em 1987 e em 1992.
Vão fazer os vossos cálculos e digam-nos lá qual era a possibilidade estatística de tal suceder. Vamos lá ver, se já houve 67 edições do festival, se em cada ano participaram uma média de 18 a 20 concorrentes, se 67 a multiplicar por… ou a dividir por…é igual a….ora portanto…noves fora nada…
Continuem, continuem com os vossos cálculos, que nós aguardamos. Não temos pressa, sabemos que são contas complicadas e levam o seu tempo a fazer.
Enquanto fazem as vossas contas, nós vamos escutar o maior êxito de Johnny Logan, a canção vencedora do Festival da Eurovisão de 1980, “What’s another year”. Não vos pomos a música a tocar, para não se desconcentrarem com as contas.
Nunca mais acertam com as contas? Bom, então já chega, esqueçam a estatística. Não vamos ficar aqui um ano à vossa espera. Não somos o Johnny Logan, que ano após ano ficava à espera da sua amada e esta nada. Avancemos, pois então.
Dado o facto de até este momento termos sobretudo lidado com números complexos destinados fundamentalmente a apaixonados por improbabilidades matemáticas, decidimos arrepiar caminho e apresentar-vos agora uma questão mais simples, uma destinada a todos, até mesmo a quem não saiba a tabuada.
A canção “What’s another year?” desafia-nos com uma pertinente, mas fácil questão matemática, precisamente “What’s another year?”. Qual é a resposta…qual é…qual é?
Certo, certíssimo! “Another year” são efetivamente 365 ou 366 dias, conforme o ano seja ou não bissexto. Foi ou não foi simples? Para comemorar o termos acertado, oiçamos agora todos juntos a linda balada romântica de Johnny Logan:

Johnny Logan desafiou as probabilidades e esperou anos que a rapariga dos seus sonhos se tomasse de amores por ele. Não sabemos como tudo terminou, ou bem que sim, ou bem que não e Logan esteve só “à espera de Godot”.
Não pensem que Godot era o nome da moçoila, não era. “À espera de Godot” é de longe a mais importante peça teatral de todo o século XX. Foi escrita em 1952 por Samuel Beckett, que nasceu em Dublin em 1906, foi vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1969 e desapareceu em 1989.

O enredo é fácil de resumir, Estragon e Vladimir há muito que estão numa espera interminável por Godot. Não sabemos quem é Godot ou o que desejam dele. Há esperança de que talvez venha mais tarde, ou amanhã, ou no dia seguinte, mas o facto é que a espera prolonga-se infinitamente, e percebemos que é altamente improvável que Godot alguma vez apareça.
Há quem diga que Godot é um símbolo de Deus (God). Há também quem diga, que a espera por Godot representa a busca por um sentido para a nossa existência, que nos permita enfrentar o absurdo e o vazio da vida contemporânea.
Há quem diga muitas outras coisas, mas Beckett não forneceu qualquer pista interpretativa, apesar de ao longo de décadas jornalistas e estudiosos o terem abundantemente questionado sobre o assunto.
Com toda a probabilidade, só lendo ou assistindo à peça de Samuel Beckett, poderemos começar a compreender, o que andamos por aqui a fazer neste mundo nos dias que correm. Deixamo-vos uma síntese:

A Irlanda desafia também todas as probabilidades matemáticas em número de Prémios Nobel da Literatura, quatro. Não há nenhum outro país de tão pequena dimensão que tenha vencido tantos. Portugal ganhou um, assim como a Suíça, a Bélgica, a Áustria, Israel e outros. Mesmo países muito maiores, como a China, a Índia, o Canadá, o Japão, o Egipto ou o México, venceram menos vezes que a Irlanda.
James Joyce não venceu o Prémio Nobel, mas escreveu um dos romances fundamentais de toda a literatura mundial, “Ulysses”. Toda a narrativa se desenrola em dezoito horas do dia 16 de junho de 1904. Leopold Bloom viaja pela mundo inteiro e pela história da humanidade durante essas horas, isto sem nunca sair da sua cidade natal, Dublin.
Mote que pode perfeitamente servir de inspiração, para quem gosta de fazer turismo sem sair de casa, como é o nosso caso. No entanto, se alguma vez viajarem realmente para Dublin, façam-no num dia 16 de junho, pois nessa data a cidade recebe milhares de visitantes, cujo propósito é replicarem o percurso que Leopold Bloom realizou. É uma autêntica festa.

A obra de James Joyce não se reduz ao “Ulysses”, escreveu também o mais improvável dos livros, “Finnegans Wake”. É muito provável que os nossos leitores dominem a língua inglesa, todavia, tentem lá traduzir esta passagem de “Finnegans Wake”:
“riverrun, past Eve and Adam’s, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs. Sir Tristram, violer d’amores, fr’over the short sea, had passencore rearrived from North Armorica on this side the scraggy isthmus of Europe Minor to wielderfight his penisolate war: nor had topsawyer’s rocks by the stream Oconee exaggerated themselse to Laurens County’s gorgios while they went doublin their mumper all the time: nor avoice from afire bellowsed mishe mishe totauftauf thuartpeatrick…”
É complicado não é? James Joyce escreveu num inglês que era só seu, inventou-o. Ainda assim, houve matemáticos que tentaram desvendar a linguagem de “Finnegans Wake”, abaixo deixamo-vos uma imagem do esquema com as conclusões a que chegaram. Pode ser que o esquema aumente as vossas possibilidades de fazerem uma boa tradução, mas deixem isso para depois, pois não vamos ficar novamente à vossa espera. Sigamos viagem.

Este passeio pela Irlanda já vai longo, mas não nos vamos despedir sem mais uma paragem para os apaixonados por improbabilidades matemáticas.
Em Dublin existem 772 pubs, mas espantosamente, não é a cidade irlandesa com o maior número de pubs, Cork tem 995 pubs, o que significa um pub per capita de 543. Outras regiões irlandesas não se ficam atrás, Kerry tem um pub por cada 344 pessoas, Tipperary por cada 350 e Clare por cada 383. Nada mau, se o PIB per capita da Irlanda é alto, o Pub per capita também o é.
Um artigo do jornal El Pais intitulado “Dublín, la ciudad de los mil pubs” dá-nos conta desse amor do povo irlandês pelos pubs. Contudo, os espanhóis, ao contrário de nós, não são verdadeiros apaixonados por improbabilidades matemáticas e por isso fazem as contas sem rigor nenhum, tudo à balda. Não são 1000 pubs, são 772.
Mas deixemos os Pubs que o álcool só faz é mal, vejamos antes os PIB’s. Por curiosidade matemática, comparemos a evolução dos PIB’s da Irlanda e de Portugal nos últimos trinta anos.

Se pensarmos nisso, o enorme sucesso da economia irlandesa nas últimas décadas pertence também ele ao campo das improbabilidades matemáticas. Afinal de contas que bens se produzem na Irlanda? Conhecem alguma marca de automóveis irlandesa? E de eletrodomésticos? E de sapatos? E de têxteis? E de telemóveis ou computadores? E de chocolates ou bombons?
Nós não conhecemos e presumimos que vós também não. Mas que marcas irlandesas conhecemos nós então? Bom, conhecemos o licor Baileys Irish Coffee, os whiskys Jameson e Bushmills e a cerveja Guiness, “and that’s all”.
E com esta constatação, chegámos à maior de todas as improbabilidades matemáticas, nós que cultivamos hábitos de vida saudáveis e que só bebemos água, conseguimos enumerar quatro bebidas alcoólicas irlandesas. É absolutamente incrível.
Se calhar, para findar esta nossa viagem, o melhor é irmos experimentar beber uma pinguinha de cada uma delas. Se for com moderação, mal também não nos há de fazer. Ou faz? Qual é a probabilidade?
Não queremos saber mais de probabilidades, já estamos cansados de contas e matemáticas, acabou a viagem. Ciao, adeus, até uma próxima, que nós vamos descansar.

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