Estamos em
crer que quanto mais desinteressante e inculto alguém é, mais firmes e
assertivas serão as suas opiniões acerca daquilo de que pouco ou nada sabe. Não
fizemos nenhum estudo acerca desse assunto em particular e dele pouco ou nada
sabemos, mas temos uma forte convicção que estamos absolutamente corretos no
que dizemos.
Claro que quem
nos lê, concluirá imediatamente, que também nós estamos a fazer uma afirmação
forte e assertiva acerca daquilo de que pouco ou nada sabemos, assim sendo, e
por consequência lógica, também nós seremos incultos e desinteressantes.
É uma maneira
de ver as coisas, só que, nós quando dizemos que pouco ou nada sabemos sobre um
qualquer assunto, é só por humildade, discrição e modéstia, não é para se levar
a sério.
Na verdade nós
sabemos tudo e mais alguma coisa sobre os mais variados assuntos, somos
enormemente cultos e interessantes, gostamos é de, em todas e quaisquer
circunstâncias, sermos humildes, discretos e modestos.
Neste momento como sempre, a despretensão e a singeleza são quem, como um farol, orienta todas as nossas razões e opiniões.
Um dos temas
onde há mais gente a ter opiniões é no sector da educação. Em Portugal, como em
todo o mundo ocidental, não há quem não tenha algo a opinar sobre o rumo que a
vida escolar deve tomar.
Claro que
estas opiniões não se limitam ao que muitos querem ou deixam de querer para os
seus próprios filhos e educandos, a coisa vai muito para além isso, pois
opina-se abundantemente sobre o destino do ensino como um todo.
Tais opiniões
são uma coisa gira de se ver e ler. Ponhamos um caso concreto. Discute-se
novamente publicamente a língua inglesa no 1° ciclo, ou seja, se deveria
iniciar-se logo no 1° ano de escolaridade, ou ficar tal e qual como está no 3°
e no 4°.
Há também quem
creia que o inglês só deveria ser lecionado a partir do 2° ciclo, em resumo, há
de tudo, inclusive, aprofundados estudos sobre o assunto, só que a esses, como
é evidente, ninguém lhes liga nenhuma.
Antes de continuarmos, um aparte, aqui uma tese de mestrado sobre o ensino do inglês no 1° ciclo:
https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/4005/1/DM_MónicaMelo_2013.pdf
Feito o aparte
académico, continuemos com as opiniões. Por exemplo, ainda aqui há uns tempos,
um blog que se chama “Educar com vida”, que nos parece ser bastante
respeitável, lançou aos seus leitores a seguinte questão: “Agora aprende-se
Inglês no 1° Ciclo ….concorda ???”
Como era expectável, os leitores responderam, uns opinaram que sim, outros que não, uns quantos têm dúvidas. Quase todos os opinadores fundamentaram as suas respostas nas suas próprias experiências ou nas dos seus filhos ou educandos. Vejamos alguns excertos de respostas ou comentários:
- Não tenho experiências neste campo, mas concordo com essa inclusão. Quanto mais cedo o contacto com uma nova língua, melhor!
- Olá, aprender Inglês é sempre bom, é uma língua necessária, só que há um misto de dúvidas nisso. É bom aprender desde pequenino? É, mas se ainda nem Português sabem a 100%, deverão já estar com outra língua? Talvez faça sentido, talvez não.
- Sim e não! Sim, porque cada vez mais vivemos num mundo globalizado e é importante saber uma outra lingua, principalmente o inglês. Não, porque nessa fase, o importante (para mim) é aprender corretamente a lingua materna. Mas isso sou eu ...
- Creio que quanto mais cedo se puser a criança em contacto com outra língua melhor. O problema e, aí, sou eu e as minhas "esquisitices" é nunca deixar que a língua estrangeira se sobreponha à língua-mãe!
- Eu sou a favor de começarem cedo com uma nova língua, mas, sempre com a prioridade de não esquecer a língua mãe! E já agora...nada contra, cada um sabe de si, mas vejo e ouço muitas crianças portuguesas a falar com sotaque brasileiro...muito Youtube... Entre Youtube e uma nova língua…
Se quisermos fazer uma resenha destas opiniões, poderíamos dizer que relativamente ao inglês no 1° ciclo, há quem opine que talvez isso faça sentido, quem opine que talvez não, há quem tenha “esquisitices" e quem diga que “mas isso sou eu”, e há ainda quem não tenha experiência nesse campo e concorde.
Apesar da
questão colocada se referir ao inglês, o que mais perpassa pelas várias
respostas é uma extrema preocupação com a salvaguarda do português, ou melhor,
com o português de Portugal, isto porque se for o português com sotaque
brasileiro, aí já não.
Nós não
conhecemos quem emitiu tais opiniões, que com certeza serão pessoas muito
simpáticas e cordatas, no entanto, apesar de verificarmos que relativamente ao
inglês no 1° ciclo em nada serem firmes e assertivas, constatamos também que no
que concerne à defesa da relevância do português, a firmeza e a assertividade
já são maiores.
Ninguém discordará da importância da língua materna, todavia, o que tem isso a ver com o inglês? Imagine-se por analogia, que a questão colocada era a seguinte: “Agora aprende-se a geografia europeia no 1° Ciclo… concorda ???”. E imagine-se que as respostas eram deste tipo:
- Sim e não! Sim, porque cada vez mais vivemos num mundo globalizado e é importante saber sobre outros locais do mundo , principalmente sobre a Europa. Não, porque nessa fase, o importante (para mim) é aprender corretamente a geografia nacional. Mas isso sou eu ...
Mas que terá
uma coisa a ver com a outra? Será que saber-se que Baden-Württemberg fica na
Alemanha é impedimento para se saber que Trás-os-Montes existe e que para lá do
Marão mandam os que lá estão? Sim ou não? Porventura conhecer
Stratford-upon-Avon exclui a hipótese de se conhecer a região de Entre Douro e
Minho e os seus vinhos? E será que ter um certo savoir-faire para se apreciar
as belas praias da Côte D’Azur nos afasta definitivamente de ir banhos ao Algarve?
A nossa
assertiva e firme resposta é um não a qualquer uma destas três questões. O que
se pressente nestes e noutros abundantes opinares sobre educação, é que há
muito quem queira impor os seus pareceres, mesmo que de assuntos educativos
pouco ou nada saiba.
Diga-se aliás
de passagem, que frequentemente nem sequer é a educação o que mais lhes
interessa, o que verdadeiramente os move são razões políticas e morais.
Imaginemos que
o assunto, ao invés de ser o inglês no 1° ciclo, era a educação sexual. Aí a
música seria logo outra, e fosse em Portugal, fosse noutros cantos do ocidente,
as opiniões deixariam de ser apenas firmes e assertivas e passar-se-ia para a
pancada.
Ainda no ano passado houve cinco escolas incendiadas na Bélgica devido à Educação Sexual. Aqui fica a notícia:
https://pt.euronews.com/2023/09/14/cinco-escolas-incendiadas-na-belgica-devido-a-educacao-sexual
O nosso ponto
é que como sucede relativamente ao inglês no 1º ciclo, há muito quem opine de
modo muito firme e assertivo e, neste caso até agressivo, acerca daquilo de que
pouco ou nada sabe. Mas dito isto, por hoje ficamos por aqui.
Estas primeiras considerações sobre este tema são apenas preliminares. Numa posterior publicação vamos penetrar mais profundamente neste assunto…
Neste entretanto, deixamos-vos uma musiquinha para irmos aquecendo o ambiente.
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