Na imagem temos o Bucha e Estica numa pose dançante cuja graciosidade e o equilíbrio só podemos admirar. Mudando radicalmente de assunto, aqui há uns tempos, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa afirmou que uma das soluções para o desenvolvimento da cidade era ter unicórnios.
Tempos depois dessa primeira afirmação, o mesmo presidente disse que já temos doze unicórnios com sede em Lisboa. Esta segunda afirmação causou alguma polémica, mas o Polígrafo SIC, acabou por tudo esclarecer:
Para que serve a educação? Esta é uma questões para a qual, provavelmente, não há uma qualquer resposta certa. O que certamente existe, são inúmeras respostas erradas ou, pelo menos, equivocadas. Nós vamos hoje também responder a essa relevante pergunta, sabendo de antemão, que temos a solução para tal interrogação: binómio.
Como todos saberão, um binómio é um ser distinto de unicórnio, enquanto que o segundo se caracteriza por ser um animal mitológico com um só chifre, o primeiro designa uma relação algébrica entre dois elementos, como por exemplo, a que existe entre o Bucha e o Estica, na qual um não existe sem o outro.
Claro que no presente contexto, quando falamos de educação, não estamos simplesmente a falar de ter boas maneiras, como dizer bom dia e boa tarde, obrigado e se faz favor, comer de faca e garfo e mastigar de boca fechada. Com efeito, falamos de muito mais do que isso.
Poder-se-ia dizer que quem tem educação, para além das tais boas maneiras, tem também uma ampla e profunda visão de si mesmo, dos outros, da vida, do mundo e até do universo.
Quanto mais ampla e profunda for a visão que alguém tem, tanto mais consistente será a sua educação. Significa isto, que a nossa resposta à questão inicial, para que serve a educação, é a de que esta serve para nos dar amplas e profundas vistas.
Em síntese, para nós, educação é o binómio: amplitude e profundidade. Para prosseguirmos esta nossa conversa, vejamos um a um, os dois termos do binómio, comecemos pela amplitude.
O modo como aqui usamos a palavra amplitude, significa literalmente aquilo que é vasto, extenso ou tem uma enorme dimensão. Na imagem mais abaixo, podemos observar uma daquelas íngremes e labirínticas ruas medievais, que existem em certas cidades antigas do sul de Itália, e que são tão grandes, longas e compridas, que quem as percorre não lhes vê o fim, parecendo-lhe que nunca mais acabam.
Mas mais do que isso, na imagem abaixo pode igualmente constatar-se que a amplitude, no sentido de vastidão, extensão e longuidão, traz problemas e escolhos para quem se mete ao caminho.
Digamos que a imagem abaixo, é rica em termos metafóricos e poderia muito bem ilustrar as dificuldades que os docentes têm em cumprir a totalidade do programa escolar do princípio ao fim, sem de repente terem de parar num qualquer momento do percurso.
Dada a sua excessiva amplitude, grande extensão e imensa longuidão, o programa escolar acaba por ser o equivalente de uma muito comprida e labiríntica rua medieval, razão pela qual, há sempre algum escolho ou obstáculo pelo caminho, uma qualquer pedra no sapato, que inevitavelmente faz como que o docente tenha de se deter por um tempo e já não consiga dar a matéria toda.
De tudo o que fica, uma conclusão há já a retirar, amplos, extensos, variados e vastos conhecimentos, por si só, não são de modo algum o equivalente a uma excelente educação.
Com efeito, um docente pode optar por lecionar as matérias todas de fio a pavio, em toda a sua imensa amplitude. Contudo, se porventura for sempre em frente, sem nunca se deter, não parando para lidar com as pedras no sapato que lhe surgem pelo caminho, o mais certo é que os seus alunos cheguem ao final do percurso com a matéria toda dada, mas coxos e a cambalear. Em síntese, chegarão ao fim, mas educados é que eles não estarão, quando muito, se tudo correr bem, sabem bastantes coisas das diversas matérias.
Fora do contexto escolar, também há quem saiba muitas coisas e de todos os tipos e se julgue dono de uma boa educação, esses, por vezes, aparecem nos concursos televisivos em que se fazem questões de cultura geral, infelizmente também surgem nos cafés e em outros lugares do quotidiano.
Há pois concorrentes de TV e outras gentes, que sabem qual é a capital do Zimbábue, que rio passa pela Renânia, qual é o petisco favorito dos transmontanos, em que data se iniciou o reinado de D. João III, quem venceu o Festival da Canção em 1972, quem ganhou o Prémio Nobel da literatura o ano passado e como se chama a atriz principal da telenovela atual mas, sabendo tudo isso e muito mais, na verdade não sabem quase nada, ou seja, falta-lhes o segundo elemento do binómio educativo, a saber, profundidade.
Quem sabe muitas coisas de todos os tipos de saberes, ou bem que é um autêntico sábio, ou bem que sabe tudo pela rama, o mesmo é dizer, a sua “sabedoria” é tão-somente superficial.
A “sabedoria” superficial é frequentemente inútil e até prejudicial. Imaginem, por exemplo, a senhora da imagem anterior, a que caminhava pela longa rua medieval de uma cidade do sul de Itália e teve de se deter para retirar uma pedra do sapato. Já não se lembram dela? Bom, assim sendo, voltem lá atrás para se recordarem. Não há dúvidas que fazer revisões da matéria dada, é sempre proveitoso quando o objetivo é de carácter educativo.
Uma vez revista a matéria, prossigamos. Imaginem então que a referida senhora tem problemas com o seu autoclismo. Tendo a dita dois conhecidos, o Bucha e o Estica, pede-lhes auxílio. O Bucha imediatamente começa a discorrer sobre sistemas hidráulicos, sobre como estes terão sido concebidos pelos antigos egípcios, qual foi a sua evolução durante a época renascentista e ainda como a engenharia aéreo-espacial os reinventou de modo a serem usados numa nave espacial. Em resumo, o Bucha tem uma grande amplitude de conhecimentos acerca do tema.
Já o Estica, tudo o que sabe sobre autoclismos, foi o que aprendeu num curso de formação profissional. Dada a situação, quem hesitaria em contratar o Estica ao Invés do Bucha?
E claro está, foi isso mesmo que a senhora fez, pois não necessitava para nada de um conhecimento tão amplo e vasto acerca de sistemas hidráulicos, apenas de alguém que soubesse do assunto com a profundidade suficiente para que o mecanismo voltasse a funcionar.
Uma vez feito o conserto, a senhora deixou o Bucha a falar sozinho e agradeceu ao Estica por poder novamente sentar sossegadamente o seu binómio, sem ter de se preocupar com o eventual mau funcionamento do autoclismo, pois já tem chatices que lhe cheguem com as pedras que lhe entram pelo sapato adentro.
Relativamente ao primeiro elemento do nosso binómio, não ao do da senhora, estamos conversados. Resumindo, ter alguma amplitude de conhecimentos é indispensável para se ter uma boa educação, mas se a amplitude for demasiado vasta e extensa, o resultado é que se fica a saber tudo apenas de um modo simples e superficial.
Assim sendo, passemos então ao segundo elemento do binómio, a profundidade. Há um provérbio chinês em que se diz que mais vale ler mil vezes um livro, do que mil livros uma vez. É provável que o provérbio seja um tanto ou quanto exagerado, mas lá que é profundo, é algo que ninguém poderá negar.
A profundidade por si só também é um problema, quem sabe tudo, tudo, tudo, sobre algo, mas não sabe mais nada, também não sabe grande coisa, nem pode dizer que tem uma excelente educação.
Pensemos num médico, mais concretamente num ortopedista. Enquanto rapaz esfalfou-se a estudar para tirar altas notas e poder entrar na Faculdade de Medicina. Enquanto a rapaziada da sua idade ia passear, ao cinema, convivia e lia romances e poemas, ele passava o tempo de volta dos manuais e sebentas a decorar a matéria.
Uma vez chegado à faculdade, levou a mesma vida, e ainda intensificou o seu esforço, quando chegou a altura de tirar a especialidade, ortopedia. É certo e sabido que os corpos têm ossos que nunca mais acabam e para se ser ortopedista é necessário conhecê-los a todos a fundo. Terminado o curso, imediatamente se pôs a laborar, e entre noites nas urgências e consultas diárias, nenhum tempo livre lhe resta. Dito isto, o que poderá o senhor doutor saber das gentes, do que lhes vai na alma e do que sentem, se a única coisa que conhece em profundidade são os seus ossos.
Imaginem agora, que um dia lhe entra pelo consultório adentro, uma senhora vinda do sul de Itália a queixar-se da coluna e da restante ossatura. Se o senhor doutor tivesse alguma cultura, saberia imediatamente a causa dos queixumes, pois saberia, que as ruas do sul de Itália são muitos íngremes e compridas, e que frequentemente se metem pedras no sapato, tendo uma pessoa que andar constantemente a dobrar-se para as retirar. Em síntese, o diagnóstico estava feito e a cura era simples. Era só dizer à senhora que não pode andar pela rua sempre a dobrar-se e que provavelmente era melhor usar um calçado mais cómodo e confortável.
No entanto, como o senhor nada sabe da cultura do sul de Itália, não acerta no diagnóstico, manda que faça abundantes exames e radiografias, perdendo-se assim uma imensidão de tempo sem chegar a resultado algum.
O quê? Já não se recordam outra vez de quem é a senhora italiana? Bom, vão lá rever a matéria novamente, que nós aguardamos. Já está? Sim? Continuemos então.
Na verdade não temos muito mais a dizer, que não seja repetirmos que uma boa educação é o resultado de um bom equilíbrio entre os dois elementos do binómio constituído por amplitude e profundidade.
Por um lado, temos de ter amplitude suficiente para sabermos olhar para os largos horizontes e não nos ficarmos pelas vistas curtas, mas também não podemos ter por diante uma tal vastidão e extensão de conhecimentos, que não nos consigamos orientar e que tudo saibamos apenas pela rama.
Por outro lado, convém termos um conhecimento profundo de alguns assuntos, mas não de modo a que não saibamos mais nada sobre todos os restantes, pois o saber é sempre transdisciplinar, e quem só sabe sobre os assuntos em separado, também sabe pouco. Em síntese, para se ser educado, o que é preciso é que os dois elementos do binómio estejam em equilíbrio.
Por vezes não é fácil, é tão difícil como andar de saltos altos nas íngremes, labirínticas e extensas ruas medievais do sul de Itália e ainda assim não perder o equilíbrio, no entanto, o certo é que compensa. Abaixo uma imagem da ancestral cidade de Matera, situada a sul da península transalpina.
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