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Capítulo VIII- Como andar tristonho e mal-disposto em agosto…com arquitetura

 

Neste oitavo capítulo desta nossa série de verão “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”, vamos falar-vos de arquitetura. Não em termos técnicos, claro está, pois que disso nada sabemos, mas sim em termos estéticos e culturais.

Ficam portanto desde já avisados, hoje vamos falar em termos estéticos e culturais, que não são termos em que habitualmente falemos, normalmente as nossas conversas são mais banais, do tipo “o que é que hoje é o petisco”, “está de chuva ou vai fazer sol” ou “deixem-nos em paz que não estamos para vos aturar”.

Dito isto, está visto que hoje optámos por ser intelectuais e não nos perdermos com temas corriqueiros, como por exemplo, falar do que há para manjar, do tempo que faz ou daquela gente que só serve é para nos maçar.

Como é evidente, os leitores que nos quiserem seguir nesta nossa deambulação pelas mais altas esferas do pensamento arquitectónico estético e cultural, vão ser sujeitos a um exigente teste, pois terão de fazer um esforço conceptual semelhante ao nosso, ou seja, elevarem-se acima das vulgares minudências do dia a dia, para plenamente se concentrarem em questões de carácter transcendental.

Nós acreditamos em vós, de certeza que ides conseguir passar este teste, venham daí com confiança, força, toca a pôr a cabeça a funcionar.

Claro está que quando a gente se põe mesmo a pensar nas coisas da vida, ou seja, quando decidimos ser transcendentais e profundos à séria, ficamos logo mais tristonhos, para não dizer mal-dispostos, mas como é precisamente esse o objetivo desta nossa série de verão, está tudo em conformidade.


Vamos lá então falar de arquitetura em termos estéticos e culturais, mas sem nos esquecermos que o nosso contexto é sempre “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”. Por assim ser, não esperem que falemos de edifícios espetaculares, coloridos, vistosos e que encham o olho, nada disso, o nosso caminho é exatamente o oposto.

Ponhamos um exemplo, que configura a escolha de aqui vos falamos. Imaginem que estão ali na zona da Praça Marquês de Pombal em Lisboa. Podem estar lá por um qualquer motivo, para festejarem o título de campeão do vosso clube de futebol preferido, por terem ido à Feira do Livro, por terem ido à Wonderland por alturas de Natal ou simplesmente por morarem nas redondezas e terem ido apanhar ar.

Nisto, dá-vos um súbito desejo de apreciar arquitetura em termos estéticos e culturais. Não estranhem tal desejo, pois caso não saibam, apreciar arquitetura em termos estéticos e culturais, é um daqueles repentinos anseios que costuma assaltar as pessoas intelectuais e com interesses transcendentais. Nem toda a gente tem anseios tão terra-a-terra como “apetecia-me tanto comer um rissol” ou “agora caía-me mesmo bem uma cervejola”.

Estando então estabelecido que vos dá um súbito desejo de apreciar arquitetura em termos estéticos e culturais, e sendo o ponto onde se encontram a Praça Marquês de Pombal, há dois caminhos possíveis que conduzem a dois destinos distintos.

Um dos caminhos possíveis é dirigirem-se ao Centro Comercial Amoreiras, que fica pertinho, e apreciaram a arquitetura pós-moderna de Tomás Taveira, que é muito alegre, divertida, colorida, vistosa e enche o olho a quem passa.

O outro caminho possível, é dirigirem-se à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que também fica ali ao lado, só que na direção oposta, e apreciarem a difícil, austera e sóbria arquitetura de Nuno Portas e de Teotónio Pereira.

Vamos lá fazer um teste, qual é o caminho certo? Qual é a boa escolha? A resposta correta virá já em seguida.


Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, as paredes são de cimento e não têm qualquer revestimento, os elementos decorativos foram reduzidos ao mínimo, sendo mesmo quase inexistentes, e o edifício quase passa despercebido a quem anda pelo exterior.
De facto, o seu espaço serve mesmo de ligação entre várias ruas e é diariamente atravessado por muita gente, que provavelmente nem tem consciência que se encontra diante de um templo religioso.

Em síntese, entre a alegre e vibrante pós-modernidade arquitectónica do shopping das Amoreiras e a humilde e algo tristonha arquitetura da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, o caminho a escolher é obviamente o segundo. Quem respondeu certo, passou no teste.

Ainda a propósito de distintos caminhos, façamos uma nova comparação, desta vez com obras arquitetónicas inspiradas pelo verão. O primeiro termo da comparação é novamente um projeto do arquiteto Tomás Taveira, a Marina de Albufeira. Aí as cores e as formas são mais uma vez alegres e divertidas, ou seja, pós-modernas, tal como pela imagem abaixo se poderá verificar.


A Marina é um sítio perfeito para se comer marisco, beber vinho fresco e passear-se com trajes com motivos marítimos, ou seja, com calções com âncoras e blusas com riscas horizontais azuis e brancas. Em resumo, tudo aquilo que está errado, o certo é trajar num estilo mais cinzento e intelectual, e de cariz urbano-depressivo, esse sim, é o caminho que convém seguir.

O segundo termo da nossa comparação de obras inspiradas pelo verão, é um projeto de Siza Vieira e situa-se na fria Berlim. É um simples blocos de apartamentos, ao qual o arquiteto deu o nome de “Bonjour Tristesse”.

Perguntar-se-á quem nos lê, o que tem o edifico berlinense “Bonjour Tristesse” a ver com o verão. Nós não nos importamos de retorquir a quem tenha tais dúvidas, que a resposta a essa questão, é que o edifício de Siza tem tudo a ver com o verão. Vamos lá verificar o que diz a matéria a esse respeito.

“Bonjour Tristesse” é um romance de Françoise Sagan, que posteriormente foi maravilhosamente adaptado ao cinema. As cores da película são magníficas, sendo que toda a história decorre num luminoso verão, tendo como paisagem de fundo a esplendorosa Côte d’Azur. Há namoros, festas, banhos de mar, sol e diversão, mas infelizmente por causa de futilidades, de ciúmes, de amores e desamores, tudo termina numa tragédia.

A segunda parte do filme (e do livro) passa-se em Paris e já no inverno, após os tristes acontecimentos estivais. O ambiente é outro e a película deixou de ser as cores, agora é a preto e branco. Na cena final, Juliette Gréco, musa inspiradora dos filósofos existencialistas parisienses dos anos 50 e 60, canta-nos assim:

I live with melancholy
My friend is vague distress
I wake up every morning
And say, "Bonjour tristesse"



Ora foi precisamente inspirado por esse filme (e livro), que relata uma história de um verão que acaba mal e do inverno que se lhe segue, que Siza Vieira desenhou um prédio de apartamentos em Berlim.
Pela imagem abaixo, que retrata a referida obra de Siza, cremos que todos percebem o quão difere o caminho que escolhemos das divertidas, coloridas e veraneantes pós-modernidades do Taveira e de outros que tais.


Estando portanto o nosso caminho escolhido, vejamos então em termos estéticos e culturais outros projetos de arquitetura que a esse propósito venham. E já que estamos em Berlim, fiquemos por lá.

A capital germânica está indissociavelmente ligada a um dos mais tristes acontecimentos da história da humanidade, ou seja, ao Holocausto. No centro da cidade há uma obra arquitectónica que assinala esse trágico período, o Memorial do Holocausto. O projeto estende-se por uma área de 19 000 metros quadrados, na qual foram instalados 2.711 blocos de cimento.

O projeto foi concebido pelo arquiteto norte-americano Peter Eisenman, sendo que os blocos foram desenhados para que quem viste o local e percorra os seus corredores se sinta intranquilo e confuso. A obra representa metaforicamente um sistema perfeitamente eficaz e ordenado, mas no qual se perdeu todo e qualquer sentido de humanidade.


Numa outra ponta da cidade de Berlim, podemos encontrar o Museu Judaico. As suas paredes interiores são de cimento e não têm qualquer revestimento. Tal e qual como na Igreja do Sagrado de Coração de Jesus em Lisboa, também neste caso o arquiteto, de seu nome Daniel Libeskind e que nasceu em Lodz na Polónia, optou por deixar que o humilde material, que é o cimento, falasse.

Por alguma estranha razão, o cimento consegue falar de um modo mais transcendental e espiritual, do que outros materiais considerados mais nobres e valiosos.


A cidade de Berlim está marcada pelo Holocausto mas também pela destruição que sofreu durante a Segunda Guerra Mundial, a maior parte da urbe ficou em ruínas, mas, para além disso, esteve durante décadas dividida por um muro que a cortou ao meio, bem pelo seu centro.

No filme de Wim Wenders “Der Himmel über Berlin”, título que traduzido à letra seria “O céu sobre Berlim” mas que em Portugal se intitulou “As Asas do Desejo”, há uma cena em que um velho regressa muitos anos depois ao que antes da guerra era o centro de Berlim, a Potsdamer Platz.

Aquilo com que agora se depara é com ruínas, da antiga Potsdamer Platz nada resta, para além de memórias. Não conhecemos outra cena em que se fale tanto de arquitetura em termos estéticos e culturais como esta. É uma cena emocionante, triste e bela, e tudo isso ao mesmo tempo:


Em 1506 em Lisboa aconteceu algo que não é referido nos manuais escolares de História de Portugal. No dia 19 de abril, que calhou a um domingo, os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste na Igreja de São Domingos junto ao Rossio.

Nisto, alguém viu no altar o rosto de Cristo iluminado, coisa que só poderia ser interpretado como um milagre. Um cristão-novo, portanto antes judeu, também participava da missa e tentou explicar que o milagre era afinal apenas o reflexo da luz, logo foi calado pela multidão, que o espancou até à morte.

A partir desse instante, os padres incentivaram as gentes, e os judeus da cidade tornaram-se o bode expiatório da seca, da fome e da peste. Sucederam-se três dias de massacre em que milhares foram mortos às mãos do bom povo cristão.

O cronista Garcia de Resende descreveu o evento:

"Vi que em Lisboa se alçaram povo baixo e villãos
contra os novos christãos,
mais de quatro mil mataram
dos que houve às mãos:
uns d'elles, vivos queimaram,
meninos despedaçaram,
fizeram grandes cruezas,
grandes roubos e vilezas
em todos quantos acharam.”

Como que por destino, a Igreja de São Domingos sofreu ao longo dos séculos vários desastres, o último dos quais em 1959, quando um violento incêndio destruiu quase por completo toda a sua rica decoração interior.
Depois disso, a igreja permaneceu encerrada durante largos anos, recebeu obras e reabriu ao público em 1994. O arquiteto responsável pela sua renovação, José Fernando Canas, tomou a sábia decisão de não esconder as marcas do incêndio, assim sendo, a igreja dá atualmente a ver as ruínas, as memórias e as cicatrizes que fazem parte da sua história.

Em termos estéticos e culturais, era difícil fazer melhor. As colunas quebradas como que derramam lágrimas e a cor ocre das paredes faz-nos lembrar o fogo, o sangue e todos os tristes acontecimentos que por ali sucederam.


Findamos esta nossa divagação arquitectónica em termos estéticos e culturais, com a notícia de que também Lisboa vai ter o seu Museu Judaico. É justo que assim seja e que se saiba que a História de Portugal não é só feita de gloriosos feitos e de heróis do mar. Nela também há canalhices imensas, colossais crendices e ignorâncias profundas.

Pelos vistos, o novo museu situar-se-á perto da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos, o que nos parece um sítio muito bem escolhido. O projeto é do arquiteto nascido em Lodz na Polónia, Daniel Libeskind.

Neste entretanto, há já quem se preocupe bastante com o impacto visual do novo museu judaico, que é coisa com que ninguém se preocupa em praticamente nenhuma outra ocasião, basta andar por Lisboa e pelo resto do país.

Na verdade, há anos que o museu estava previsto ser construído em Alfama, todavia, os moradores incentivados por associações de defesa do património foram contra o projeto arquitetónico, alegando que este iria destruir as características tradicionais do bairro.
Referiam-se certamente áquelas características que tão preservadas têm sido com o crescente número de alojamentos locais e consequente partida de grande parte dos habitantes locais, ou talvez às inúmeras casas que foram completamente esventradas para acomodarem um maior número de turistas ou ainda à permanente circulação de tuk-tuks.

Em síntese, em Alfama não pôde ser, vamos ver se será em Belém. Aqui fica a notícia:


E pronto, em breve neste blog, num outro dia, seguir-se-á o nono capítulo desta série de verão, “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto…”

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