Há coisas que são mesmo feias e sem qualquer interesse, diz-se por vezes. Talvez não, dizemos nós. Provavelmente certas coisas, só nos parecem malfeitas e desinteressantes, porque não as olhamos do ponto de vista correto, nem à luz certa, nem damos o devido valor às linhas que lhes dão forma.
É esta a nossa tese, existindo o ponto de vista correto, a luz certa e a atenção às linhas que lhe dão forma, não há coisa alguma, que não seja bela.
Comecemos pelas linhas e com a imagem abaixo. Se víssemos apenas os riscos abstratos à direita, desenhados por Kandinsky, provavelmente pouco lhes ligaríamos, dado serem bastante elementares. Já se virmos essas mesmas linhas acompanhadas pela dança e pela bailarina que as inspirou, à esquerda na imagem, tais triviais traços, por muitos simples que sejam, parecem-nos logo mais interessantes, o mesmo é dizer, belos, complexos e até poéticos.
Cremos que a imagem acima, é um exemplo inequívoco, de que as linhas que delimitam e dão forma às coisas, podem por si só ser belas, complexas e poéticas, desde que percebamos o que as inspira e nelas saibamos deter o nosso olhar.
Pensemos num vulgar túnel de ventilação. À partida poucos serão os que estarão disponíveis, para afirmar que um mero túnel para passar o ar pode ser um exemplo de beleza, um modelo de complexidade estética e um paradigma de poesia, todavia, olhemos para a fotografia abaixo do Wind Tunnel, situado em Montana, nos Estados Unidos.
No nossa opinião, na fotografia acima de 1936 de Margaret Bourke-White, há beleza, complexidade e poesia. Basta para tudo isso se ver, olhar para as linhas e ver que formas elas desenham.
Mas se a atenção às linhas e às formas que elas desenham e delimitam é importante para vermos a beleza de todas as coisas, não menos o é, termos o ponto de vista correto.
Contemple-se a imagem abaixo e perceba-se que, não há quem não possa ser belo, desde que seja fotografado da perspetiva apropriada.
Pensemos num imenso prédio de escritórios, mais concretamente no chamado Palácio do Buriti, em Brasília. É nesse grande edifício que funcionam muitos serviços administrativos ligados ao governo do Brasil. É uma das poucas construções da capital brasileira, que não foi projetada pelo genial Oscar Niemeyer.
Há muito quem diga que o Palácio do Buriti não entusiasma, que de belo, complexo e poético nada tem, e que a sua fachada é simplesmente repetitiva e feia. No entanto, o norte-americano Bernie DeChant fotografou-o de um certo ponto de vista, ou seja, do correto.
Relativamente à nossa tese, já falámos de saber ver linhas e formas, e também de pontos de vista corretos, falta-nos falar de luz. Ao falar-se acerca da luz, o que nunca se pode esquecer, é que a relação entre ela e as coisas, não raras vezes produz sombras.
Muitas vezes se crê, que tudo tem de estar debaixo de luz clara e definida, contudo, há muitas coisas que se tornam belas, precisamente quando têm uma relação distinta com a luminosidade, como por exemplo, quando delas nos apercebemos não por estarem iluminadas, mas sim pelas suas sombras.
As coisas tornam-se por vezes belas, complexas e poéticas, quando a luz sob a qual estão não é clara e definida, e isto acontece não só pelas suas sombras, mas também quando as vemos desfocadas e desvanecidas.
Abaixo uma imagem de um edifício de escritórios, The Toronto Dominion Centre, fotografado por Balthazar Korab. É ou não certo que dele se desprende uma atmosfera poética, que tem algo de belo?
E dito isto terminamos, convictos que existindo o ponto de vista correto, a luz certa e a atenção às linhas que lhe dão forma, não há coisa alguma, que não seja bela.
Mesmo antes de findarmos, fica ainda uma foto de Boris Bochkarev, na qual se retrata prédios dos populosos subúrbios de Moscovo. Há ou não neles uma certa poesia?
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