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Uma escola com nome de poeta, mas cuja poesia está na arquitetura

 


A fotografia que encima este texto ilustrou uma notícia do jornal Público e retrata um corredor da Escola Teixeira de Pascoais em Lisboa. A escola esteve anos em obras, sendo que, nesse longo período, foram muitas as reportagens que as TV’s e jornais dedicaram a tal empreitada.

Para além de todos os habituais inconvenientes que as obras sempre trazem, durante esse tempo ninguém pôde usufruir desse belo edifício escolar e da sua delicada, sofisticada e poética arquitectura.

Abaixo fica o link da dita notícia, cujo título reza assim: “Os alunos da Escola Básica Teixeira de Pascoais já não têm aulas em contentores”:


Houve um tempo em que por Portugal inteiro se construíam escolas primárias todas iguais umas às outras, ou somente com umas leves diferenças. O objetivo nessa época, era que a arquitectura das escolas fosse uma espécie de ilustração dos valores do regime de então. Valores esses que assentavam fundamentalmente na tradição, nas virtudes das gentes trabalhadoras, simples e humildes, ou seja, do bom povo português e, para além disso, na apologia da história e grandeza da nação lusitana.

O Plano dos Centenários foi o mais ambicioso desses projetos de construção, e consistiu na edificação de inúmeras escolas primárias pelo país afora entre os anos de 1941 e de 1969.
O plano deve o seu nome ao terceiro centenário da Restauração da Independência e ao oitavo centenário da Independência de Portugal, ambas solenidades que se assinalaram em 1940.

Abaixo uma imagem de uma típica escola nacional erguida no âmbito do Plano dos Centenários. 
 


Em Lisboa a situação era diferente, primeiro porque muitas escolas funcionavam em edifícios que não tinham sido originalmente concebidos para esse fim, e segundo, e mais importante, porque no início dos anos cinquenta do século XX, florescia pela cidade um desejo de modernidade. 
 
Um dos momentos decisivos da arquitectura moderna portuguesa é o Bairro das Estacas, na zona de Alvalade, na capital. O bairro foi finalizado em 1951 e logo à data foi premiado na Bienal de Arquitectura de São Paulo, uma das mais prestigiadas bienais do mundo, tendo igualmente recebido o prémio Municipal de Arquitectura no ano de 1954.

A característica que o distinguiu foi a de ter rompido com o modelo tradicional, que tanto agradava ao Estado Novo, afastando-se assim da arquitectura preferida do regime, e sendo ao invés radicalmente moderno.

No Bairro das Estacas abrem-se espaços verdes e públicos, que podem ser atravessados por qualquer um, contrariando desse modo o habitual quarteirão totalmente fechado, que era a tipologia usada à época.
Outra das propostas inovadoras foi a elevação do edificado, que está assente sobre pilotis e não no chão, como até então sempre se tinha feito. A esses pilotis, a população local chamou estacas, e daí o nome bairro.
 
Abaixo uma imagem do Bairro das Estacas na década de cinquenta. Como é visível na fotografia, havia imensos apartamentos, o que significava que ali vivia muita gente e que, por consequência, haveria crianças mais do que suficientes, para aí fazer sentido construir-se uma escola.
 
A escola foi construída uns tempos depois, no exato sítio que na fotografia abaixo nos surge em primeiro plano, um local onde então só havia vegetação. 



Para desenhar a dita escola, foi selecionado o mesmo arquiteto que antes tinha projetado o bairro, de seu nome Ruy Jervis D`Athouguia (1917-2006). Como já certamente se percebeu, o arquiteto Athouguia era um moderno, e por o ser, desse modo concebeu a escola que teve a incumbência de desenhar, ou seja, não num estilo antigo e tradicional, mas sim moderna.

Athouguia era um moderno num tempo em que poucos o eram ou se atreviam a sê-lo. É autor de uma obra arquitetónica superior, embora o seu nome não seja suficientemente celebrado. Quando nele se fala, mesmo entre pessoas cultas, é muitas vezes necessário associá-lo à sua obra maior, o edifício da Fundação Calouste Gulbenkian, para que haja uma reação de reconhecimento: “Ah, é o da Gulbenkian”. 
 
Para além da Fundação Gulbenkian, no seu trabalho sobressaem ainda o já referido Bairro das Estacas, a Escola Secundária Padre António Vieira, a Escola do Bairro de São Miguel, bem como grande parte dos edifícios da Praça de Alvalade.

Athouguia é de facto um dos grandes pioneiros da modernidade em Portugal, razão pela qual, a RTP produziu um documentário a seu respeito. No filme “Ruy D’Athouguia – um Moderno por Descobrir” faz-se uma viagem íntima, pessoal e poética com Duarte Jervis Athouguia Pinto Coelho, neto do arquiteto, pelos edifícios do avô.

O documentário pode ser visto na RTP Play através do seguinte link:
 
A escola em frente ao Bairro das Estacas começou a ser erguida em 1952 e foi concluída em 1956. Lá mais para baixo podemos ver uma imagem de como era na já distante década de cinquenta.

Nela há uma ampla entrada, as linhas são puras e retas, predomina a cor branca e estabelece-se uma constante relação entre o interior e o exterior. Cada volume fechado é uma sala de aula, mas tem imediata ligação com um pequeno pátio ao ar livre, a céu aberto. 
Pátio esse, que por sua vez, tem também uma relação com um espaço externo mais vasto. Através do rendilhado de um “brise-soleil” (ou quebra-sol), é possível simultaneamente estar-se resguardado num espaço interior, íntimo e recolhido, o pátio contíguo à sala, mas também ver-se e ter-se uma relação com o que há do outro lado, lá fora, no exterior.

A própria arquitetura da sala de aula configura uma ideia poética e pedagógica, ou seja, a de uma escola que nunca está encerrada entre quatro paredes, pois que a luz entra continuamente por ela adentro, dela se vê o céu imenso e o ar livre está logo ali, mesmo ao lado.
Para além disso, é igualmente possível vislumbrar-se pelo “brise-soleil”, o início do muito mundo que existe fora da escola. Um mundo que começa mesmo à beira do olhar, a um passo de distância, mas que vai muito para além do pátio da sala e do que daí se avista.

Em síntese, a ideia pedagógica presente na arquitetura de Ruy Athouguia é a da escola como um local íntimo e de recolhimento, mas que seja ao mesmo tempo arejada, aberta ao exterior e à vasta realidade que vai muito para lá da sala de aula.

A escola foi batizada como sendo a n° 101, tendo-se proposto depois que se chamasse Ruy Jervis D`Athouguia, no entanto, as autoridades municipais assim não o quiseram, e acabou por ficar com o nome da rua onde se situa, ou seja, o do poeta Teixeira de Pascoais.
 


A Fundação Docomomo foi criada em 1990, situa-se em Barcelona e é uma importante organização internacional que tem por objetivo inventariar, divulgar e salvaguardar o património arquitectónico do Movimento Moderno. Docomomo é o acrónimo de Documentation and Conservation of buildings, sites and neighbourhoods of the Modern Movement.

Em Portugal há uma certa tendência para só se considerar património o Mosteiro dos Jerónimos, o da Batalha, a Torre dos Clérigos ou outros antigos monumentos vindos do passado longínquo, sendo por tal razão, que a ação da Fundação Docomomo é tão importante no nosso país.
Sem ela, o nosso património moderno já teria sido quase totalmente destruído. Uns têm grandes interesses imobiliários e outros só gostam do que é antigo, assim sendo, e feitas as contas, são bem poucos os que amam o património moderno e nele vislumbram algo de poético.

No site da Fundação Docomomo há referências aos mais relevantes edifícios modernos situados em Portugal e noutros países. Entre esses edifícios, conta-se a Escola Teixeira de Pascoais. Vejamos um excerto do que aí se diz sobre essa escola e o seu arquiteto: “Obra que revela la búsqueda minimalista que caracteriza a este autor, se desarrolla con una gran serenidad dentro de una espacialidad que recuerda la sobriedad de la arquitectura japonesa.”
 
Se olharmos para a imagem abaixo, uma fotografia da Escola Teixeira de Pascoais na década de cinquenta, é quase impossível não vislumbramos nela um tom e uma vaga atmosfera poética nipónica.



Comparemos a fotografia acima com a gravura japonesa abaixo, há em ambas uma ambiência afim, uma certa placidez oriental, que resulta da harmonia que se estabelece entre o edifício, a árvore e o céu. Em conclusão, estamos em crer que a referência à arquitetura japonesa tem a sua razão de ser.



Mercês Tomaz Gomes é uma artista, fotógrafa e realizadora portuguesa. No seu currículo tem um prémio de Melhor Documentário no Festival Internacional do Documentário de Barcelona e também um prémio de Melhor Ficção no Arquitecturas Film Festival. Trabalhou na Dinamarca, no Congo e no Mumbai.

Em 2015 passou pela Escola Teixeira de Pascoais onde realizou uma curta-metragem intitulada “Escola Teixeira de Pascoais, Ruy D’ Athouguia 1952-1956”. Nesse filme há ecos, vozes, imagens de antigamente, momentos que nos mostram os danos causados pelo tempo, luzes e sombras, mas o que nele sobretudo há é um espaço que continuamente anda de dentro para fora e de fora para dentro, em que interior e exterior não se opõem, mas sim se completam.

O filme não chega a ter três minutos e entre os 44 e os 49 segundos, há um momento em que tudo se passa no interior de uma sala de aula. Aparentemente nada está a acontecer, todavia, se olharmos com atenção, veremos que há um cortinado branco que ondula ao sabor de uma breve brisa. Também esse leve movimento no interior da sala nos diz, que lá fora, no exterior, há ar, vento, sopros e mundo.
O filme pode ser visto em:

 E pronto, acabámos.

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