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Entre nós e as palavras



Elsinore é o castelo de Hamlet, o antigo Príncipe da Dinamarca, que um dia disse assim: “Ser ou não ser eis a questão”. Disse-o como personagem da mais longa e célebre das peças de Shakespeare, cujo título é precisamente “Hamlet”.

O jovem Hamlet descobriu que o seu tio, Claudius, que é agora Rei da Dinamarca, casou com a sua mãe, Gertrude, logo após a morte do seu pai, o anterior rei, foi na realidade o autor dessa morte. Atormentado pelo conhecimento desse facto, mas impotente para se vingar e agir em conformidade, Hamlet perde-se em cogitações e hesitações.

Hamlet planeia vingar a morte do pai, declara-o a amigos, discursa de forma persistente acerca do assunto e conversa abundantemente sobre os seus planos. Emaranha-se em longos monólogos consigo próprio, vê e revê razões e argumentos, mas no entanto, é incapaz de passar das palavras aos actos.

Elsinore é o castelo onde Hamlet se enredou num labirinto de palavras sem fim, muitas delas belas, outras amargas e umas tantas melancólicas. Quase ao cair do pano, vencido pela vida, mesmo à beira da morte, o Príncipe da Dinamarca ainda tem algo a dizer, a sua derradeira fala: “The rest is silence”.

Ao contrário do que se poderia pensar, Hamlet não era um cobarde, talvez fosse simplesmente um poeta. Ou seja, alguém cuja vida e modo de agir se concretiza sobretudo pelo que escreve e diz.


Muitos séculos depois de Hamlet, Mário Cesariny escreveu um poema a que chamou “You are welcome to Elsinore”. Nele o poeta fala-nos do castelo em que cada um de nós vive e dos muitos e distintos tipos de palavras que connosco aí coexistem: “Ao longo da muralha que habitamos / há palavras de vida há palavras de morte / há palavras imensas, que esperam por nós / e outras, frágeis, que deixaram de esperar.”

Mais do que isso, Cesariny fala-nos inclusivamente das palavras, que como Hamlet, hesitam entre ser e não ser: “E há palavras nocturnas palavras gemidos / palavras que nos sobem ilegíveis à boca /palavras diamantes palavras nunca escritas / palavras impossíveis de escrever…”

Aqui fica o poema dito, pelo próprio poeta, o Cesariny:


Num poema que se inicia com “a minha cabeça estremece com todo o esquecimento”, há um verso em que diz: “eu quero dizer como tudo é outra coisa”. Na verdade é isso, o que não está dito, o que é importante dizer. É isso a poesia.

O poema em questão é de Herberto Hélder e mais à frente fala-nos do “fundo informulado de uma vida”, ou seja, daquilo que em nós ainda não encontrou uma forma de ser traduzido em palavras. Todavia, pela poesia, esse fundo informulado, não permanece para sempre no escuro e no silêncio, pois “Por vezes tudo se ilumina. Por vezes sangra e canta.”

No fundo informulado da nossa vida, por vezes existe uma casa, ou melhor dizendo, a longínqua memória de uma casa onde um dia fomos crianças, “Era uma casinfância”, na qual o poeta diz que “há copos, garfos inebriados dentro de mim”, mas dela diz igualmente que “As cadeiras ardiam nos lugares”.

“Era uma casabsoluta” onde também vivia gente, “minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento como seres pasmados. Às vezes riam alto”. A figura principal dessa habitação, dessa memória primordial, era a maternal, “Ah, mãe louca à volta, sentadamente completa”.

Não raras vezes, as nossas memórias são como sonhos loucos nos quais tudo se junta, mistura, roda e rodopia. Recordações vão e vêm num frenesim sem fim e há “flores bebendo a jarra”, “malmequeres fabulosos”, “maçãs centrípetas” e, como em certos quadros de Paul Cézanne (1839-1906), há uma qualquer “matéria sensacional no segredo das fruteiras”.


Em qualquer dos casos, o ofício do poeta é pegar nessa espécie de loucura que se desprende das nossos mais antigas memórias, na misteriosa matéria e em todo esse fundo informulado da nossa vida, e então fazer de seguida com que o “poema (vá) subindo pela caneta”.

Para o fazer, não lhe resta outra solução de que encontrar as palavras que estão entre o ser e o não ser, ou seja, as que dizem o nunca dito, as que nos dão a ver como tudo é outra coisa.

O modo vulgar, quotidiano e habitual de dizer, não serve à poesia. Esse modo é feito de palavras gastas, e daí apenas resultam clichés, banalidades e lugares comuns. A poesia precisa de “pensar com delicadeza” e de “imaginar com ferocidade”, bem como de “campos (que) imaginam as suas próprias rosas” e “pessoas (que) imaginam os seus próprios campos de rosas.”

Em síntese, um poema, só o é verdadeiramente, se nos fizer falar, pensar, sonhar sobre os tremendos ossos dos pés e estremecer a cabeça com tudo o que esquecemos. Aqui fica Herberto Hélder:



“as palavras celebram, mudas, a água na paisagem, verde ou azul, conforme desejaste”, é isso o que se diz num poema de António Franco Alexandre intitulado “As primeiras coisas”.

Podem ser esbatidas e mortiças, as cores daquilo de que nós nos recordamos, sobretudo, o que já aconteceu há um longo tempo, talvez na infância ou quiçá na adolescência.
São esses os tempos, em que acontecem muitos dos momentos inaugurais, que depois, muito mais tarde, recordamos como os primeiros. A esse propósito. diz-nos o poeta, o António Franco Alexandre, que “as primeiras coisas eram verdes ou azuis, como água pela cintura”.

Abaixo uma pintura de Joaquín Sorolla (1863-1923), com gente de outrora, banhando-se no mar Mediterrâneo, mesmo junto à costeira cidade de Valência.

O certo, é que como também diz o poeta, o que vai ficando para trás, cada vez mais distante, se vai desvanecendo, até que chega um momento, em que é só uma uma vaga recordação, uma espécie de quase nada:

“no entanto, visto à distância exacta, tudo se transforma:
o cenário do mundo é só um infinito espaço
cheios de coisa nenhuma”

Tudo isto excepto, como mais uma vez diz o poeta, e mesmo que em adultos ou já velhos, as palavras readquirem uma imensa força vinda sabe-se lá donde, e voltam a celebrar as coisas primeiras.

A quem “o tempo mal passado que apodrece”, que tudo no mundo vai transformando num cenário cheio de coisa nenhuma, propõe António Franco Alexandre uma solução: “quando fecho os olhos invade-me a luz por dentro compacta, completa, como as coisas primeiras.”

Em resumo, a sua proposta é simples, consistindo tão-somente em sabermos fechar os olhos e ter disponibilidade para que do fundo informulado da nossa vida, deixemos vir um qualquer estremecer, o mesmo é dizer, umas quantas palavras ilegíveis, que nos iluminem, sangrem e cantem, e nos devolvam o sabor das primeiras coisas verdes ou azuis, quando porventura, tínhamos água pela cintura.


Terminamos com um poema de Al Berto, que, de algum modo, faz uma resenha do que até agora dissemos. No seu poema “há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida”, o poeta Al Berto fala-nos do Algarve, mas não do atual e turístico, claro está, e sim daquele secreto e mítico, esse que Sophia qualifica como helénico, ou seja, como igual à Grécia de Homero.
Recordemos um poema de Sophia, dedicado à eterna aldeia algarvia de Cacela Velha:

As praças fortes foram conquistadas
por seu poder e foram sitiadas
as cidades do mar pela riqueza
Porém Cacela
foi desejada só pela beleza


Mas voltemos a Al Berto e ao seu poema, “há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida”. Logo pelo título se percebe, que o poeta não era nenhum Hamlet. Significa isto, que não queria sentir-se um vencido no crepúsculo da sua vida, cuja última frase fosse “The rest is silence”. Muito pelo contrário, acreditava que, mesmo nos derradeiros momentos, ainda visse, tal e qual como uma criança, uma cidade a flutuar.

Cria portanto, que a força das primeiras coisas estremeceria nele até ao último instante. Ainda assim, não deixava por isso de refletir no “tempo mal passado que apodrece”. Veja-se por exemplo, a seguinte passagem: “dantes escrevia cartas / punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua / assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar / se espantasse com a minha solidão…”

É verdade que Al Berto possuía em si uma certa melancolia, mas é igualmente correcto, que sentia as memória de outrora, as primeiras, tão verdadeiras e vivas como se fossem de agora, “por vezes uma gaivota pousava nas águas / outras era o sol que cegava” ou ainda, “os dias lentíssimos… sem ninguém / e nunca me disseram o nome daquele oceano.”

Se quisermos ser rigorosos, Al Berto tinha muitas incertezas, por isso disse no seu poema, “sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade”. Mas dito isto, com o passar do tempo, se não antes, inseguranças, receios e temores todos temos.
Para tal caso, ou seja, para duvidarmos, tanto faz sermos Al Berto, Cesariny, Herberto Heldér ou António Franco Alexandre.

Na realidade, é mesmo para isso que a poesia existe, ou seja, para que as palavras balancem entre o ser e o não ser e para que nos digam como tudo é outra coisa. Há poemas para que uns nos apresentem palavras imensas, que esperam por nós, e outros, nos apresentem palavras frágeis, que deixaram de esperar.

Em conclusão, o ofício do poeta é livrar-nos do modo vulgar, quotidiano e habitual de dizer, das palavras gastas, dos clichés, das banalidades e dos lugares comuns. O poeta é quem nos faz pensar e sonhar sobre os tremendos ossos dos pés e estremecer a cabeça com tudo o que esquecemos. Aqui fica para terminarmos, o poema de Al Berto:


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