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Cultura para todos, sobretudo para os super-ricos!

 


Hoje vamos falar-vos dos super-ricos, que é assunto do qual nós percebemos muito, apesar de sermos apenas remediados e termos somente o suficiente para comermos e bebermos todos os dias.

Desde os Anos 80 até há bem recentemente, havia um barómetro infalível de riqueza e opulência: a Hermès Birkins. Quem quer que exibisse uma peça dessa marca passava ao mundo uma mensagem muito clara: tinha pago no mínimo de 23 mil euros por ela e deixado uma lista de espera que muitas vezes chegava a dois anos e meio.

No entanto, tudo isso mudou, quando os supermercados Walmart começaram a vender uma versão praticamente idêntica da famosa bolsa Hermès Birkins por menos de 100 €. Essas imitações, chamadas Wirkins, começaram a proliferar pelas ruas do mundo e em muito pouco tempo, usar uma Birkin deixou de ser visto como um sinal de luxo e de riqueza, e passou a ser entendido como uma demonstração parola de ostentação.


Neste momento, serão muitos os nossos leitores que dirão de si para consigo, “mas se vós (no caso nós) sois uns pelintras, como é que sabem tudo isso?”. A resposta é simples, apesar de pouco possuirmos, fomos ler a revista “Fortune” e ficámos a saber quais são as tendências dominantes no mundo dos super-ricos.

Aqui fica o link com o artigo da revista “Fortune” para o caso de alguém que nos lê o queira ir consultar. Nós não aconselhamos ninguém a fazê-lo, a não ser que seja super-rico, caso contrário, mais vale continuarem a ler-nos, pois está mais de acordo com as vossas possibilidades monetárias.

O super-ricos são apenas 1% da população mundial, portanto estamos em crer que não havemos de ter perdido muitos leitores para a “Fortune”, assim sendo, continuemos em frente.
Mesmo sendo apenas 1% da população mundial, os super-ricos detém 95% da riqueza mundial, os 5% que restam são detidos pelos restantes 99% da humanidade. Não se pode dizer que seja lá uma distribuição muito equitativa, mas pronto, o que não tem remédio, remediado está.

O ponto é que os super-ricos estão a adoptar a cultura do pós-luxo e da pós-opulência. A amarga experiência sucedida com as Hermès Birkins, estendeu-se a outras marcas e produtos. Bens que antes eram um claro sinal de riqueza, são agora usados por muita gente, ainda que sejam tão-somente imitações baratas. Há de ser desagradável para alguém que gastou mais de vinte mil euros numa mala, andar pela rua e ver centenas de malas, que à vista desarmada em nada se distinguem da sua.


Tudo isto é também uma péssima notícia para a Dior, para a Versace, para a Burberry e para outras marcas de luxo, pois entre o super-ricos está cada vez mais difundida a ideia de que o que separa a verdadeira elite dos comuns mortais, tem mais a ver com preferências e estilos de vida do que com hábitos de consumo.

A verdade é que muitas destas marcas dependem dos super-ricos e se estes as abandonam ficam aflitas. Aliás, no anteriormente referido artigo da “Fortune” dá-se já conta desse facto, pela primeira vez em muito tempo, as marcas de luxo começam a perder terreno e a sentir algumas dificuldades.

Ora bem, se os super-ricos não estão a gastar pipas de massa em produtos de luxo, andam então a fazer o quê? Consultámos vários analistas culturais e descobrimos que os ultra-ricos do século XXI estão a gastar o seu dinheiro de um modo inteligente e criativo, porque o que compram, mais do que objectos perecíveis, são coisas como tempo de lazer, experiências significativas, e formas de se enriquecerem como pessoas.

Dito isto, o que os super-ricos agora querem adquirir são vastos horizontes mentais e cultura, ler livros e ver arte, e querem também conhecer gente interessante, ter conversas profundas e perceberem melhor quem são e experienciar a verdadeira poesia da vida.

Pensemos num lugar como Abu Dhabi, um sítio onde o que não falta é gente rica. Há uns anos o mais que lá havia eram hotéis de enorme luxo e gigantescos centros comerciais com lojas das mais prestigiadas marcas internacionais, mas agora a situação já não é a mesma, o Abu Dhabi equipou-se com instituições culturais de modo a proporcionar aos ricos que lá habitam e a turistas bem abonados experiências profundas e significativas.


A imagem acima é do Museu do Louvre de Abu Dhabi, uma instituição cultural, com uma belíssima arquitetura concebida pelo francês Jean Nouvel, para onde o Louvre original, o de Paris, deslocou parte da sua coleção a troco de muitos milhões.

Deste modo, podem agora apreciar-se perto das areias do deserto quadros de Cézanne, Gauguin, Van Gogh ou Toulouse-Lautrec, sem termos em nosso redor as multidões que frequentam diariamente o Louvre de Paris. Os nossos leitores hão de convir, que com tal tranquilidade, a experiência de visitar uma exposição artística será certamente mais enriquecedora e significativa.
Aqui fica o site do Louvre de Abu Dhabi:

Mas a coisa não se fica por aqui, pois em Abu Dhabi ergue-se também um museu Guggenheim, neste caso a arquitetura é de Frank Gehry. É certo que Nova Iorque é muito gira, e entre as suas atrações conta-se o Museu Guggenheim e a sua vasta coleção de arte moderna, mas dito isto, se uma pessoa for super-rica, ver parte dessa coleção em Abu Dhabi é muito mais exclusivo, agradável e poético.


Não se pense que no Abu Dhabi se limitaram, a troco de milhões, a trazer para a sua terra museus de outros sítios, nada disso, construíram também o seu, o Museu Nacional Zayed, cujo desenho arquitectónico é do inglês Norman Foster.


Como é evidente, a gente rica não gosta apenas de museus, na sua busca pelo seu enriquecimento cultural, as elites também apreciam a música, a dança, o teatro e demais artes performativas, nesse contexto, no Abu Dhabi também há uma sala de espectáculos à maneira, que foi desenhada por Zaha Hadid.


Há mais instituições culturais e recreativas em Abu Dhabi, mas nós ficamos por aqui, pois não queremos ser exaustivos. Terminamos congratulando-nos pelos super-ricos poderem ter sítios para as suas experiências significativas e conseguirem assim através da cultura estender os seus horizontes e aprofundarem o seu conhecimento do mundo e de si próprios, quanto a pelintras como nós resta-nos a consolação de nos tempos que correm podermos adquirir imitações de produtos de luxo a preços baratos.

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