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Team building à portuguesa…é à mesa! (1ª parte)

Hoje vamos falar-vos de Team building. 

Em Portugal, o Team building faz-se à mesa. Seja com umas sardinhas na brasa, com um leitão assado, com uns frangos no churrasco ou com qualquer outra comezaina, é a manjar que se constroem sólidas equipas de trabalho na nossa amada pátria.


Uma refeição de Team Building é uma coisa complexa, sendo que, muitos não estão conscientes das nuances conceptuais que este tipo de eventos implica. Mas não faz mal, que nós estamos aqui disponíveis para elucidar quem nos lê.


Comecemos pelo início. Dir-se-ia que as pessoas comem para se alimentarem, nesse contexto, quando se tem fome vai-se em busca de comida. Ora não é esse o pressuposto conceptual presente numa refeição de Team building à portuguesa, pois ter ou não ter fome, para esse caso, não interessa absolutamente nada.


Vamos a um evidente exemplo disso mesmo. Normalmente neste tipo de refeições, começa-se a festa com um aperitivo, que claro está, serve para abrir o apetite. Todavia, se há necessidade de abrir o apetite, a conclusão lógica a retirarmos, é a de que o apetite não estava aberto, caso contrário, para quê abri-lo.


Esta é então a primeira complexidade conceptual a ter em atenção numa refeição de Team building, ou seja, ter ou não vontade de comer, apetite, não é minimamente importante.

Foi precisamente por o facto de se ter ou não fome não ter o mais leve interesse para tal caso, que se inventaram os aperitivos, que como toda a gente sabe, têm como exclusivo objectivo abrir o dito apetite.


A lógica conceptual é complexa, mas está ao alcance até das mentes mais simples. Nós fazemos um resumo, há alguém com fastio a quem não lhe apetece comer, tem portanto falta de apetite, a solução para tal situação, é esse mesmo alguém fazer exactamente o oposto do que lhe apetece fazer, ou seja, pôr-se a comer.


O conceito é o de que se alguém não tem fome, deglutindo uns quantos aperitivos, sentirá imediatamente crescer em si um vigoroso apetite e umas ganas de se atirar à paparoca, apetências que antes de ingerir esses pitéus iniciais, não possuía.


Em qualquer refeição de Team building realizada em território nacional, deveria haver um cartaz com o seguinte texto motivational: “Colega, se porventura não tens fome come uns quantos aperitivos e vais ver que ficas logo com apetite para comeres isso, mas também tudo o mais que virá depois. Em frente camarada de trabalho, atira-te já aos acepipes para fazeres barriga para a feijoada que logo há de vir.”


Isto sim é um Team building à portuguesa e do bom, ou seja, muito bem conceptualizado.


Em síntese, a primeira complexidade conceptual do Team building à portuguesa está explicada, assim sendo, a aparente contradição lógica que é não se ter fome e ser por essa exacta razão, que se deve comer para se abrir o apetite, ou seja, para se ter fome. Tal contradição só é contraditória noutros países, que pensem de modo diferente do nosso, por cá, quando não se tem fome, o mais que há a fazer é mesmo comer uns aperitivos para se ter fome e abrir o apetite para se comer o mais que há de vir.


Continuemos agora com uma outra complexidade conceptual muito própria das refeições de Team building e não só. Após o aperitivo para abrir o apetite, e como volta não volta a comida demora, o melhor é ir-se petiscando qualquer coisinha. Ao que agora nos vamos dedicar, é ao complexo conceito “petiscar”.


Noutras culturas e civilizações, ir petiscar significa que se vai comer qualquer coisinha, isto ao invés de se ir fazer uma refeição completa. Fora da lusitana pátria, petiscar é manducar qualquer coisa rápida, tipo a despachar, isto ou porque estamos com pressa e temos mais que fazer, ou então porque não estamos com uma fome particularmente intensa.


Já os portugueses, não raras vezes, e muito concretamente em eventos de Team building, petiscam precisamente porque a seguir vem a refeição. Ou seja, petiscar em Portugal não conta como comer, não é uma coisa mesmo à séria.


Petiscam-se uns enchidos, uns queijos, uns pastéis de bacalhau, uns pezinhos de coentrada ou uns peixinhos da horta, mas nada disso verdadeiramente conta como comer, tudo isso é só para se ir fazendo tempo enquanto se espera pela comida.


Feitas as contas, o complexo conceito “petiscar”, significa comer-se qualquer coisinha, para se fazer peito para o que se vai comer depois. Posto isto, quem quer que participe numa actividade de Team building à portuguesa, tem de ter sempre em atenção, que conceptualmente petiscar não é bem comer, ou seja, os petiscos no fundo são apenas uma espécie de preliminares.


Esclarecidos os conceitos de aperitivo e de petiscar, vamos agora a um outro conceito importantíssimo para se realizar uma sessão de Team building à portuguesa, a saber, “a bucha”.


Numa sessão de Team building nacional, a bucha é algo que não pode faltar. Ir comer uma bucha, não é conceptualmente muito diferente de se ir petiscar, contudo, o mais frequente numa refeição, é que quando nos referimos a uma bucha, estamos a referirmos-nos ao pão.


Numa mesa portuguesa há sempre pão sobre a mesa, e há-o das mais diversas variedades. O nosso ponto neste contexto, é tentar explicitar qual a função conceptual da bucha, o mesmo é dizer do pão, num Team building à portuguesa.


Há aqui duas situações distintas, ou seja, se há ou não há vinho sobre a mesa. Caso não haja vinho, o pão só serve para encher o bandulho, é uma mera bucha para matar o bicho. Já caso o vinho abunde, então aí o pão (a bucha) tem uma muito mais nobre função.


Ora bem, caso se vá bebendo uns copos enquanto se espera pela comida, compete à bucha a importante missão de “fazer cama ao vinho”. Com efeito, a bucha ajuda a passar o tempo e a atenuar eventuais efeitos nefastos do vinho, evitando que ele suba rapidamente à cabeça de quem o bebe.


A bucha tem contudo um problema, tem que ser consumida com moderação, pois caso contrario, às tantas ficamos embuchados e temos de beber mais uns copos para desembuchar. É melhor ir-se com calma com as buchas, para não se acabar encharcado.


Em termos conceptuais, a bucha é também ela uma contradição nos termos. Come-se uma bucha para acamar o vinho, mas quanto mais buchas se comem, mais estas puxam ao vinho. Não há quem não saiba, que a bucha puxa.

Em síntese, a bucha é um paradoxo filosófico, a questão “comer ou não comer outra bucha”, só tem equivalente igual na célebre frase de Shakespeare “To be or not to be, that is the question”.


Continuemos então a explicitar quais são as noções conceptuais presentes no Team building à portuguesa. Vamos saltar o prato principal, porque nesse caso não há grandes nuances, o que vier para a mesa come-se, que o que na verdade interessa é o convívio.


Quem porventura acredite que uma vez toda a equipa de trabalho consistentemente nutrida, a refeição terminou, desengane-se. Numa boa sessão de Team building à portuguesa, deve sempre haver na mesa algo para assentar.


“Para assentar” é um outro conceito que convém explicitar. Como quem já participou neste tipo de eventos terá verificado, quando chega o momento de comer um doce ou uma frutinha para assentar, há sempre quem diga “estou cheio”, “comi que nem um abade”, “estou empanturrado” ou qualquer outra alocução do mesmo género, porém, não raras vezes são precisamente esses, os que com mais desespero se atiram depois às sobremesas.


Dizem-se enfartados, mas de seguida dão-lhe com força. O resto da equipa fica a olhar com espanto para aqueles, que ainda há uns minutos atrás se diziam mais do que satisfeitos, e que no momento seguinte comem novamente como se não existisse amanhã. Tais devoradores, constatando que são alvos de espantados olhares, utilizam como justificação dizeres do tipo “é só para desenjoar” ou então “é só para tirar o gosto”.


No Team building à portuguesa ninguém come à fartazana por ser um lambão ou andar esganado, mas sempre e sim, porque é só para isto ou é só para aquilo. Ou bem que é para fazer a digestão, ou é para a viagem, ou é para a acabar ou é para outra coisa qualquer, o que nunca é, é por se ser um voraz comilão.


O bom povo português designa esses glutões como rapa-tachos ou lambe-pratos, no entanto, por nós está muito bem assim, uma vez que uma consolidada equipa profissional sabe incluir no seu seio todos os seus elementos, mesmo quem tem um estômago que é um poço sem fundo e, a bem dizer, e em boa verdade, quem não é de comer não é de trabalhar.


E pronto, por hoje acabámos, mas no nosso próximo texto voltaremos ao Team building…

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