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Neste verão, querem lá ver que há fitas (Os Inadaptados)

 

Continuamos agora a nossa série de textos deste Agosto dedicados a fitas de Verão. Hoje vamos a Reno, uma pequena cidade situada no Nevada, próxima da Califórnia, que é uma das estâncias de férias favoritas dos americanos. Reno tem casinos, atividades lúdicas, paisagens montanhosas e extensos e belos lagos para nos banharmos. 

Mas antes irmos a Reno, vamos dar uma longa volta pela alma da América, essa que porventura se espelha nos seus filmes.


Quem nunca se espelhou ou identificou com um personagem de um filme? Certamente que há poucos, que num momento ou outro, não tenham sentido que poderiam ser quem veem no ecrã.


Não haverá muito quem tenha visto uma fita, e não tenha experimentado a sensação que um dos personagens tinha características afins às suas (ou às que se desejaria possuir). Todos nós, alguma vez, julgámos que éramos (ou desejámos ser) como o Batman, o Tarzan, o Indiana Jones, um belo galã, uma heroína romântica ou uma implacável sedutora.


Todos nós, temos um ou mais filmes, em que nos identificámos perfeitamente com os sofrimentos, os dramas, as alegrias, as arrelias e a coragem de um determinado personagem. Tal faz parte da magia do cinema.


Em síntese, no cinema vemos gente com a qual nos identificamos ou porque esses seres sentem e vivem de forma semelhante à nossa, ou então identificamos-nos com tais personagens porque por vezes assalta-nos o desejo de sermos outros, diferentes e parecidos com aqueles que vemos no grande ecrã.



Agora imaginemos a situação ao contrário, imaginemos quem é efectivamente um personagem no grande ecrã, mas queria parecer-se mais com gente real, desta feita de carne e osso.

É esse o caso dos três personagens de que hoje vamos falar, Marilyn Monroe, Clark Gable e Montgomery Clift. Cada um deles era muito mais do que um actor, cada um deles faz parte da mitologia americana e encarna certos aspectos do chamado American Dream.


Todavia, cada um deles era uma pessoa real que diferia muito do mito que encarnava, e foi esse desencontro entre quem eram na vida de todos os dias e o que simbolizavam no grande ecrã que aos três foi fatal.


Em 1961 os três encontraram-se para rodarem o seu único filme juntos, “Os Inadaptados”, cujo título original é “The Misfists”. Essa foi também a última fita em que participaram, pois uns tempos depois cada um deles morreria, não numa qualquer película, mas sim na realidade.


Clark Gable morreu subitamente de um ataque cardíaco, Marilyn morreu de uma overdose de comprimidos não se sabendo se terá ou não sido um suicídio, e Montgomery Clift morreu devido a complicações de saúde resultantes da sua dependência do álcool e das drogas.



Marilyn Monroe encarna o mito da bela, sensual e ingénua loura, a namorada da América. A sua figura ainda hoje aparece por todo o lado e inspira tanto aspirantes ao estrelato como moças que simplesmente gostam de se dar a ver e que se olhe para elas.

Os estúdios de Hollywood encontraram em Marilyn Monroe o modelo perfeito para o que depois se veio a designar como de “dumb blonde”. O problema é que a rapariga nem sempre se sentia confortável por ter de estar continuamente a representar o papel de loura tonta. Tinha que o representar no grande ecrã, e por aí não haveria grande problema, mas tinha também de o representar na vida real, e aí sim, foi-se tornando a pouco e pouco um drama.


Como é hoje evidente, Marilyn era uma excelente actriz, lia bastante e possuía uma certa cultura, em resumo, de tonta tinha pouco. No entanto, era como “dumb blonde” que a América a queria ver, e por assim ser, ninguém a levava a sério nem a ouvia, coisa que lhe provocava enorme insegurança e acabou por a conduzir a um trágico desenlace.


Abaixo uma foto de Marilyn Monroe durante um intervalo nas filmagens, a ler uma das mais complexas obras da literatura moderna,  “Ulysses” de James Joyce.



Clark Gable encarnou durante décadas o mito do macho americano. Para os homens que iam ao cinema Gable representava o “lonely cowboy”, a encarnação perfeita da frase “a man gotta do what a man got to do". Para as mulheres, ele era o galã por excelência, “tall, dark and handsome”.


A personagem de Clark Gable estabeleceu o protótipo do homem ideal americano, independente, audaz e corajoso. Uma imagem que depois seria bastante usada noutros contextos, sendo o mais conhecido exemplo o solitário cowboy dos anúncios da Marlboro.


Ao que se sabe, Gable fumava cerca de três maços de tabaco por dia ao longo de décadas. Para além de fumar, “The King of Hollywood”, nome pelo qual era conhecido, também não se fazia rogado no beber, tendo até criado o seu próprio cocktail, cujo conteúdo era sobretudo whisky.


Actualmente, por toda a América há inúmeros bares que servem “The King's Drink," que é descrito como sendo uma mistura de whisky com ginger ale “with a modern twist. 


Ao contrário de Marilyn Monroe, Gable queria ser na vida real, o mesmo personagem que era no grande ecrã. Assim sendo, apesar das sucessivas análises e exames médicos que indicavam que o seu “lifestyle” lhe estava a dar cabo da saúde, Gable terá pensado para consigo, que homem que é homem, não se importa cá com coisas menores como exames e análises. Consequentemente, não terá sido uma surpresa imensa que tivesse falecido de ataque cardíaco aos 59 anos de idade.


Abaixo vêmo-lo num cartaz de um célebre western, “The Tall Men”, película de 1955, que em português teve o despropositado título “Duelo de Ambições”.



Monroe e Gable eram os símbolos perfeitos do American Dream, já Montgomery Clift representava uma outra América, aquela que era jovem e rebelde, e que tudo colocava em causa.


Montgomery Clift antecipa os Anos 60, é jovem e revolta-se contra os valores tradicionais e conformistas da geração anterior. O seu mito assentava no desejo de liberdade individual, por que a juventude de então ansiava.


Clift era uma estrela em fulgurante ascensão, no entanto, o seu carisma não se baseava na força, na coragem e na audácia, mas sim numa certa vulnerabilidade. Com ele iniciava-se um novo modelo de masculinidade em Hollywood, um em que o homem se caracterizava por ser sensível e emocional, e por ostentar um certo ar melancólico.


Clift era “o tipo de homem de que as mulheres gostam de cuidar”, era o que à data dele se dizia. Apesar de ser muito diferente de Monroe e Gable, também no seu caso a personalidade real e o personagem cinematográfico se confundiam.


Representava uma juventude algo atormentada que se revoltava contra a geração anterior, porque na tela era quase sempre esse o personagem que encarnava. Abaixo vêmo-lo no papel de um jovem cowboy que desafia John Wayne, um outro mito americano.


A luta entre ambos tanto foi real como encenada. Em “Rio Bravo”, a narrativa exigia que lutassem um com o outro, todavia, essa mesma luta tornou-se verdadeira, uma vez que John Wayne representava os clássicos valores americanos, e Montgomery Clift representava o oposto de tudo isso. Em síntese, detestavam-se.



Montgomery Clift aparentava estar destinado a ser um ídolo por muitos e bons anos, só que em determinado momento tem um grave acidente de automóvel. Sobrevive, mas fica marcado, tanto na alma, como no rosto, pois ficou marcado com uma enorme cicatriz, que só a muito custo a maquilhagem disfarçava.


Voltemos então a 1961, à rodagem da fita “Os Inadaptados”. Temos então em cena três mitos cujo auge tinha passado. Marilyn Monroe já não era a namorada da América, a “dumb blonde”. Tinha sido casada com Joe di Maggio, a grande estrela desportiva da época na América e tudo tinha terminado com uma sucessão de escândalos. Tinha casado com Arthur Miller, o mais notável escritor norte-americano desses tempos, e também não resultara. Era amante do Presidente Kennedy, mas isso era algo que não era bem visto por ninguém.


Em resumo, a actriz era uma mulher vivida e desiludida, tal e qual como o era a personagem que interpretava em “Os Inadaptados”.


Já Clark Gable tinha sido o ídolo de todas as plateias, The King of Hollywood, mas quando se apresenta para a rodagem de “Os Inadaptados’ é um homem prematuramente envelhecido, que crê ainda ser a mesma estrela que antes tinha sido.


Por fim, Montgomery Clift, que era alguém em fulgurante ascensão, mas a quem de repente, um acidente mudou o destino. Para além disso, Montgomery Clift era homossexual, coisa que à época não correspondia minimamente aos cânones de Hollywood. Por assim ser, passava a vida a agir como os personagens que interpretava na tela, muito embora na realidade fosse alguém de muito diferente.

Em resumo, “Os Inadaptados” tinha tudo à partida, para vir a ser considerado um filme maldito, como de facto posteriormente veio a ser, e não só por todos os seus protagonistas terem falecido.



A história de “Os Inadaptados” é simples. Marilyn Monroe chega a Reno acompanhada por uma velha amiga. As expectativas são nulas, é uma mulher vivida a quem nada correu bem, e que vem até Reno como poderia ter ido para outro sítio qualquer.


Clark Gable é um velho cowboy. Anda por Reno do mesmo modo como anda pela vida, recordando-se dos tempos áureos em que a vida tinha sentido e era plenamente vivida.


Montgomery Clift é alguém ainda jovem, mas já sem futuro. Limita-se a participar em rodeos, sem alimentar qualquer esperança ou ilusão relativamente ao que há de vir.


Os três encontram-se em Reno, e desse encontro parece resultar um novo caminho para todos, mas na verdade, tal não é mais do que uma miragem.


Vejamos a cena em que Clark Gable tenta convencer Marilyn Monroe, “the saddest girl” que ele alguma vez encontrou. Marilyn é Rosylin, Gable é Gay:


Gay: What makes you so sad? I think you're the saddest girl I ever met.

Rosylon: You’re the first man that ever said that. I'm usually told how happy I am.

Gay: That’s because you make a man feel happy.


(Ele tenta beijá-la, mas ela desvia-se)


Rosylin : I don't feel that way about you, Gay.

Gay: Well, don't get discouraged girl, you might.



Numa outra cena, Marilyn Monroe chora compulsivamente, isto porque viu Montgomery Clift participar num rodeo, do qual saiu ferido no rosto. Mais uma vez aqui, há uma afinidade entre ficção e realidade. Clift, o actor tinha no rosto uma cicatriz resultante de um acidente que efectivamente teve, Clift, o personagem, que no filme se chamava Perce, foi ferido no rosto por um boi durante um rodeo.


Marilyn chora, diz em lágrimas que Clift poderia ter morrido, mas Gable desvaloriza, “Dying is as natural as living. If a man is too afraid to die, he’s too afraid to live.” Na filosofia de vida de Gable, e também na de Clift, mas num outro sentido, no fundo tudo se resolve indo beber uns copos.



No fim, Gable e Montgomery decidem ir ao deserto do Nevada caçar cavalos selvagens, da raça Mustang. É uma viagem em memória dos velhos tempos, em que era essa a vida diária dos cowboys. Convidam Marilyn para vir com eles.


Acabam por caçar um Mustang, mas Marilyn horroriza-se ao ver a forma como o cavalo selvagem é derrubado, amarrado e manietado. Marilyn tenta impedir que tal suceda, mas Gable afasta-a empurrando-a. Clift ainda argumenta com Gable, mas este nem sequer o ouve.


A partir desse momento, nós, os espectadores, temos a certeza absoluta que o caminho que se parecia abrir para os três, acabou, era uma mera ilusão. Sabemos que todos são prisioneiros do seu passado e que um destino fatal se cumprirá.



E pronto, por aqui terminamos esta história de gente que se identificava de tal modo com os personagens que representavam no grande ecrã, que acabaram tolhidos na vida real, por aquilo que eram na ficção.


Houve tantos e tantos espectadores que se espelharam, identificaram e quiseram ser como Marilyn Monroe, Clark Gable e Montgomery Clift, mas será que o queriam verdadeiramente, ou será que os nossos ídolos são apenas uma miragem? Fica a pergunta.


Finalizamos assim mais uma fita de Verão, em breve mais uma neste blog, uma das últimas pois Agosto caminha rapidamente para o seu fim.

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