María Pombo é uma grande influencer espanhola, talvez a maior. Desde 2015 que se dedica a dizer coisas na internet, actividade em que obtém um imenso sucesso, sendo as suas publicações seguidas por mais de três milhões de pessoas.
Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão que viveu entre 1788 e 1860. Escreveu alguns das mais densas obras da história da filosofia e não consta que os seus livros sejam muito vendidos ou lidos. Mesmo havendo quem ainda leia o tipo, esses nunca serão três milhões, nem nada que vagamente se assemelhe. Abaixo uma foto do dito Schopenhauer.
María Pombo conseguiu que na passada semana, toda a Espanha e não só, falasse muito dela. Isso sucedeu porque a influencer decidiu falar nas redes sociais dos seus hábitos de leitura, ou melhor dizendo, da ausência deles.
María comunicou alegremente ao mundo que não lê livros, e nem sequer o gosta de fazer. Não disse que não tinha tempo, que gosta apenas deste ou daquele estilo ou autor, disse pura e simplesmente que não lê absolutamente livro nenhum e cheia de alegria vangloriou-se por assim o ser.
Mas María fez mais, queixou-se num vídeo no TikTok, que aqueles que leem livros se julgam melhores, mais inteligentes e cultos do que aqueles que não leem nada. María Pombo entrou numa cruzada contra o que designou como talibãs da leitura, e disse alto e em bom som, dirigindo-se aos leitores de livros, que “No sois mejores porque os guste leer, hay que superarlo”.
O que María disse, foi em resumo o seguinte, leitores de livros, não se julguem melhores por o serem, não se julguem melhores que quem nada lê. Leitores de livros, tomem lá disto e aguentem-se.
Aqui fica uma imagem da María, toda ela plena de confiança e alegria, e convicta do que diz e das virtudes do analfabetismo funcional.
Quem porventura lê livros, sabe ler o que está escrito nas entrelinhas, ou seja, percebe o que não está dito, mas sim implícito.
Daquilo que a María diz, intui-se o que ela não diz explicitamente, mas quer dizer, a saber, que quem lê não se julgue superior a ela, pois ela não lê um único livro e é rica e tem imenso sucesso.
Arthur Schopenhauer via o dinheiro não como fonte de felicidade, mas como um meio de protecção contra os males da vida, como por exemplo a pobreza. “A fortuna da qual dispomos deve ser considerada como um muro protector contra possíveis males e/ou acidentes”, assim disse o homem.
Arthur Schopenhauer disse também que “O dinheiro é a coisa mais importante do mundo. Representa: saúde, força, honra, generosidade e beleza, do mesmo modo que a falta dele representa: doença, fraqueza, desgraça, maldade e fealdade.”
Mais uma vez, há que saber ler nas entrelinhas, para se perceber o que Schopenhauer diz. O dinheiro é a coisa mais importante do mundo não por si mesmo, mas sim pelo que representa e eventualmente nos pode permitir obter: saúde, força, honra, generosidade, beleza e não só.
O dinheiro é a coisa mais importante do mundo não por si mesmo, mas sim porque nos pode proteger da doença, da fraqueza, da desgraça, da maldade, da fealdade e demais males e/ou acidentes.
Citemos outra vez, Arthur Schopenhauer: “A ignorância só degrada o homem quando se encontra em companhia da riqueza.”
Para Schopenhauer, a ignorância isolada, não é necessariamente degradante. Uma pessoa ignorante mas sem recursos significativos, não tem poder para causar grandes danos ou corromper os outros de forma profunda. Já quando a ignorância se combina com a riqueza, aí sim, torna-se perigosa. Uma pessoa sem conhecimentos, mas com poder e recursos financeiros, pode tomar más decisões, explorar outros, ou influenciá-los de forma errada.
É pena que María Pombo não leia livros, pois se o fizesse, talvez por um qualquer acaso se deparasse com as frases de Schopenhauer que acima citámos, e alguma delas a fizesse pensar.
Mas não tenhamos tal esperança, pois que pensar é uma actividade completamente fora de moda, é uma prática démodé, e até parecia mal que a María, a influencer da moda, o fizesse. E se ficava mal à María pôr-se a pensar, claro que mal ficaria também aos seus seguidores.
Em boa verdade, quem segue as suas publicações, não necessita sequer de usar o cérebro para nada, pois ela dá excelentes conselhos sobre quais cosméticos a usar, que roupas se há de vestir, a que restaurantes ir e muitas outras óptimas sugestões práticas para quem quer estar na moda.
Mas melhor do que isso, María dá-nos também imensos conselhos psico-emocionais e, de certo modo, até filosóficos. Mas já lá vamos, antes disso, aqui fica mais uma imagem da María. Em seu redor voam os livros que ela não lê, que tal como as andorinhas no Inverno vão em busca de sítios mais aprazíveis. Seja como for, ela parece alegre por ser analfabeta funcional. É um exemplo para o mundo, esta moça.
Vamos lá então aos conselhos psico-emocionais e filosóficos da María. Comecemos por este: “Cuidado com a negatividade: observe apenas o que te agrega e o que é positivo. O que não acrescenta, deixe passar, pois não vale a pena encher-se de negatividade.”
De facto parece um bom conselho, sobretudo se o comparamos com uma frase de
Schopenhauer, autor que voltamos agora a citar: “ O homem nunca é feliz, passa a vida inteira a lutar por algo que acha que o vai fazer feliz. Nunca o consegue ser e, quando consegue, fica desapontado".
Mas vamos a mais um conselho da María: “Olhe para dentro: aprenda a olhar para si mesmo, ver os erros nos outros é mais fácil, mas o verdadeiro ensinamento é observar o próprio comportamento e os próprios defeitos.”
Ora bem, estamos diante de mais um excelente conselho, este não muito longe do que um dia Schopenhauer disse: "É difícil encontrar a felicidade dentro de si mesmo, mas é impossível encontrá-la em qualquer outro lugar.”
María casou-se aqui há uns tempos, e como seria expectável, também tem muito a dizer sobre casamentos. Resumamos as suas ideias: é importante focar-se nos aspectos positivos do parceiro em vez de apenas nos erros ou em coisas que não funcionam; é fundamental cultivar uma atitude positiva e não se deixar contaminar pela negatividade, coisa que é crucial para a saúde do relacionamento; há que praticar o autoconhecimento e procurar olhar para as próprias acções e reacções, em vez de se fixar apenas nos defeitos do outro.
Mais uma vez, María, a influencer espanhola, não falha ao aconselhar. Só por curiosidade científica, vejamos o que Schopenhauer disse acerca do mesmo tema, ou seja, do casamento: “Casar significa duplicar as suas obrigações e reduzir a metade os seus direitos”.
Pelos vistos, e ao contrário da María, Schopenhauer não é lá muito optimista, às tantas é porque leu muitos livros.
Terminamos este nosso texto, afirmando que nada temos contra a pobre María Pombo, que apesar de dizer tolices, há de ser boa rapariga. Temos algo sim contra o mundo actual, em que qualquer um diz óbvias baboseiras e é seguido por três milhões de pessoas.
Não é esse o nosso caso, o deste blog, que é seguido apenas por uns poucos, porque mesmo que tenhamos um pequeno número de leitores, temos grandes citações, como esta de Schopenhauer com que nos despedimos: "A pessoa que escreve para os tolos está certa de ter uma grande audiência"
Post-Scriptum: Só por curiosidade, aqui fica o mapa dos hábitos de leitura na Europa. Uma coisa é certa, em Portugal o que não faltam são Marias.






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