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Capítulo XV- Como andar tristonho e mal-disposto em agosto…com comida (2ª parte)

 

A imagem acima é de Nantes, cidade francesa que nada tem a ver com o título deste nosso texto. Ou sim. Pode ser uma coisa ou outra. Quem quiser descobrir qual delas é, vai ter que nos acompanhar até ao fim. O caminho é longo, mas assim como assim, não são ainda horas de almoçar nem de jantar e portanto é ir com calma, pois no verão o que não falta é tempo.


No anterior capítulo desta nossa série de verão “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”, propusemos-nos prestar um serviço à nação, isto no sentido de poder livrar o país da sua inconsciente obsessão com comida, que no verão se manifesta com particular intensidade. Afirmámos então, que dispúnhamos de uma infalível vacina para tal. Nesta 2ª parte deste texto, vamos revelá-la.


Em resumo resumido, o que se passa, é que durante a época estival, as nossas TV’s promovem o turismo por terras de Portugal, apresentando-nos diariamente reportagens nos noticiários com as melhores iguarias que existem por esse país afora. É desse modo, que nos tentam aliciar e convencer, para irmos passear pela nossa amada pátria.


As autarquias não se ficam atrás das TV’s, e também elas promovem o turismo nas suas respetivas localidades, aliciando-nos igualmente com comida, ou seja, organizando festivais da sardinha, do marisco, do fumeiro, do caldo de peixe, do leitão, da conquilha e de tudo o mais que se possa manjar e seja típico.


Vejam bem que até há um desses eventos, que parece uma contradição nos termos, a saber, uma feira da dieta onde se vai comer. Está bem que é uma feira da chamada dieta mediterrânea, mas ainda assim, ou bem que é um evento dedicados à dieta, ou bem que é para se papar, as duas coisas ao mesmo tempo, isso é que nos parece ser um tanto ou quanto contraditório.


Façamos uma analogia, imaginem que organizávamos o “Festival de alcoólicos anónimos de vinhos muito conhecidos”, ou então, melhor ainda, o “Festival abstémio de vinhos do Mediterrâneo”, não vos pareceria tal uma contradição nos termos? Ah pois é, a bota não bate com a perdigota, essa é que é essa!


Já agora, ficam a saber que os pratos mais em voga na feira da dieta (mediterrânea) são cascabulhos com ovos, peixe do dia com a sopa da cataplana e polvo grelhado. Se forem consultar o site da feira, como nós fomos, irão verificar que há lá muitos mais petiscos mesmos bons para se fazer uma rigorosa dieta (mediterrânea).


Já agora só mais um pormenor, é impressão nossa, ou não há nenhuma parte da costa portuguesa que seja banhada pelo Mediterrâneo, nem mesmo sequer Tavira, onde se realiza a feira da dieta que ostenta no seu nome, o nome do dito mar?


Quer-nos cá parecer, que Portugal inteiro, inclusive Tavira, é banhado pelo Oceano Atlântico e que o Mediterrâneo fica ali um bocado mais para o lado. Ou não?



Não estaremos aqui perante uma outra contradição, neste caso geográfica? A nós faria-nos sentido organizar uma feira dedicada à dieta mediterrânea numa terra mediterrânea, coisa que Tavira não é. Fica a questão, para quem sobre ela tencionar debruçar-se.


A título de informação, fique-se a saber que na feira da dieta (mediterrânea) se vão poder provar petiscos vindos dos diversos países mediterrâneos, que são muitos. Na Europa os países mediterrâneos são os seguintes: Espanha, França, Itália, Malta, Eslovénia, Croácia, Bósnia-Hezergovina, Montenegro, Albânia, Grécia e Turquia. Na Ásia são a Síria, o Líbano, e Israel. Em África o Egito, a Líbia, a Tunísia, a Argélia e Marrocos.


Quem for à feira da dieta (mediterrânea) pode comer dos três continentes e de dezanove países diferentes, certamente que não vai sair de lá de barriga vazia.



Tudo isto e outras coisas mais, faz-nos concluir que existe neste país uma inconsciente obsessão com comezainas e petiscadas, pois em Portugal até numa feira dedicada à dieta (mediterrânea), o que mais há lá para se fazer, é comer.


Dito isto, quem quiser ler mais detalhadamente as nossas teses acerca deste assunto, pode fazê-lo em:


https://ifperfilxxi.blogspot.com/2024/08/capitulo-xiv-como-andar-tristonho-e-mal.html


Assim sendo, e sem mais delongas, vamos ao prometido e anunciemos então qual é a eficaz vacina que propomos, para afastar de vez do inconsciente coletivo nacional, as obsessivas imagens de ranchos, víveres, merendas e rações. Ora bem, é a cultura.


Desta é que não estavam à espera, pois não? Até conseguimos imaginar alguns dos nossos leitores com mais apetite, a dizerem de si para consigo: “Então anda aqui uma pessoa a sonhar com umas belas papas de sarabulho, com uma farta feijoada à transmontana e com uma alegre mariscada, e os pategos deste blog vêm-nos falar de cultura! Deixem-se lá de parvoíces, ó gentes deste blog, e vão mas é comer, que com certeza o vosso mal é fome.”


Nós compreendemos que os nossos leitores mais gulosos se sintam um tanto ou quanto desorientados, por termos sugerido como vacina para nos livrar da nossa inconsciente obsessão nacional com comida, a cultura, contudo, se tiverem um pouco de paciência já perceberão aonde queremos chegar.


Vamos por partes. Se formos consultar os sites dos festivais da sardinha, do marisco, do leitão, do fumeiro e de todos os restantes, vamos descobrir que todos eles nos falam de cultura.

A explicação para tal é muito simples, como a gastronomia faz parte da cultura local de cada um dos lugares onde se realizam esses festivaleiros eventos, logo, e por consequência lógica, quem come umas papas de sarabulho, um leitão ou umas barrigas de freira, está obviamente a cultivar-se.


O mesmo se pode dizer, de quem ingere meia-dúzia de sardinhas assadas com batatas cozidas e salada a acompanhar, não sendo de estranhar, que terminada a sardinhada e rapado o prato, o comensal se sinta imediatamente mais culto. Não raras vezes, até é conveniente beber-se após o repasto uma aguardente ou um bagaço, para a tanta cultura que se deglutiu ir mais depressa para baixo e se ter uma digestão mais cómoda e mansa.


As regiões turísticas podiam muito bem ter motes publicitários como por exemplo, “Quer saber mais sobre a cultura de Trás-os-Montes? Então é mandar vir uma feijoada à moda cá da gente”, ou, um outro exemplo, “Quer aprofundar a sua cultura sobre a região centro e mais concretamente sobre Águeda e Anadia? A solução é simples, encomende uma dose de leitão à bairrada”. Lisboa poderia promover-se turisticamente da seguinte forma: “Venha encher-se de cultura na capital portuguesa, ele há pataniscas de bacalhau, peixinhos da horta e mão de vaca com grão em todas as tascas”.


Na verdade, poder-se-ia promover o país inteiro com o mote “Portugal: onde a cultura é servida à mesa”. Poder-se-ia ainda acrescentar, em letras mais pequenas, de modo a atrair os jovens nómadas digitais e servir bem a quem estivesse só de passagem, que também se aceita encomendas para fora e temos take-away.



Como há pouco dissemos, vamos por partes, e indo, esta parte está terminada, sendo a conclusão evidente, que a inconsciente obsessão coletiva com comida é tão intensa, que de norte a sul nos sugerem que, enchermos-nos de petiscos e enchermos-nos de cultura, são coisas praticamente idênticas.


A premissa é a de que, ler poesia, ir ao teatro, ver um filme ou contemplar uma obra de arte, é o equivalente a comer um choco frito, uma chanfana, uns jaquinzinos ou uma mioleira, no fundo, tudo é cultura.


Como sabemos que temos leitores muitos cultos e cuja cultura não lhes advém exclusivamente de comerem bem, vamos agora referir um muito conhecido ensaio de 1943, do poeta T.S. Elliot, “Notas para a definição de cultura”.


T.S. Elliot andava assim para o tristonho e mal-disposto, por toda a gente usar a palavra cultura sem qualquer rigor, pois já no tempo dele, havia quem dissesse que não lia a sua poesia e ia antes almoçar um Bacalhau à Brás para se cultivar. Sendo que, como ele vivia em Londres, o mais provável é que ao invés do bacalhau fossem na realidade comer um “fish and chips” embrulhado em papel de jornal.


Não estranhem a apresentação abaixo, do mais tradicional prato de peixe Inglês, pois a cultura dos “bifes” (em França alcunharam-nos “rosbifes”) é distinta da nossa.



Regressemos ao ensaio de T.S. Elliot, “Notas para a definição de cultura”. O que poeta fez foi distinguir três diferentes acepções de cultura. No seu sentido mais amplo, cultura é toda a produção humana, ou seja, tudo aquilo que não pertence à natureza, o que naturalmente incluí a gastronomia. A cultura de massas, ou Pop, é aquela que é produzida pela indústria do entretinimento, seja em Hollywood, seja nos noticiários das TV’s portuguesas. Por fim, temos aquilo a que T.S. Elliot chama a alta cultura, a saber, a grande literatura, a arte eterna, a dança clássica e contemporânea, a arquitetura, a fotografia artística e a música erudita.


Vejamos um exemplo, se porventura formos comer um Bacalhau à Zé-do-Pipo, isso insere-se no sentido mais amplo da palavra cultura. Se ouvirmos a canção do dantes chamado pequeno Saúl intitulada “O bacalhau quer alho”, tal insere-se na cultura de massas. Se visitarmos um museu e contemplarmos uma natureza-morta na qual haja bacalhau, estamos no domínio da alta cultura.


Aqui fica uma bela imagem de uma natureza-morta, obra de 1787 de Anne Vallayer-Coster, para nos tirar dos olhos o gosto a óleo e a gordura, que nos ficou na vista após a visão do “fish and chips” dos “bifes”.



Aqui chegados, já não há dúvidas de que quando se fala de cultura, podemos estar a falar de coisas muito diferentes. Talvez fizesse falta aos repórteres das TV’s e às autarquias perceberem a tripla distinção de T.S. Elliot, de modo a não fazerem crer a toda a gente, que lá por se manjar uma santola no festival do marisco enquanto no palco atua o Mikael Carreira, se fica tão cultivado como quando se lê Schopenhauer, se escuta Vivaldi ou se contempla um Rembrandt.


Nós sabemos que quer os repórteres das TV’s, quer as autarquias não fazem por mal, pois pretendem apenas que vamos conhecer as mais lindas terras de Portugal, e acreditam piamente que os portugueses se deslocam mais entusiasticamente, sabendo que no sítio para onde se deslocam poderão encher a pança.

Nisso terão razão, e nós não podemos deixar de concordar com repórteres e autarquias, como já amplamente explicitámos neste e no nosso anterior texto. De facto, a comida é a maior obsessão coletiva presente no inconsciente nacional, mas, como também já antes havíamos dito, tal não é um destino fatal, pois temos uma vacina para isso, a cultura.


Quando lá para trás neste texto, falámos pela primeira vez em cultura, pressentimos que muitos dos nossos leitores estranharam e sugeriram-nos que nos deixássemos de conversas fiadas e que fôssemos antes comer, que o nosso mal era fome. Contudo, neste momento, estando todos já cientes das três diferentes concepções de cultura, estamos esperançosos que desta vez tenhamos um melhor acolhimento para a nossa tese.


Para prosseguirmos caminho, vamos a França. Não, não é isso. Não vamos agora falar-vos de um Velouté de potimarron à la crème de truffe en verrine, ou de umas Cassolettes d'épinards au saumon fumé e nem sequer de uns Escargots au beurre persillé, esqueçam a comida, não sejam obsessivos.


Na verdade, França é a pátria por excelência da “haute-cuisine” e onde mais gormands (glutões) há por metro quadrado, porém, foi também nesse país que há muito se encontrou a fórmula para atrair gentes para as suas regiões turísticas, que não seja simplesmente por dizer-lhes “venham para cá, que aqui come-se bem e generosamente”.


O que em França há décadas se faz, é atrair turistas com alta cultura. Ponhamos o sul de França, região onde se encontram as mais lendárias praias, Saint-Tropez, Monte Carlo, Cannes, Nice, toda a Côte d’Azur e a Riviera. O sul é a zona de veraneio preferida dos franceses, no fundo, é o equivalente ao que o Algarve é para os portugueses, só que em bom.



Tendo tanto mar quente (que por sinal é o Mediterrâneo, aquele que não banha Tavira) pela frente, e tendo igualmente tanta boa comida, seria de esperar que no sul de França promovessem essas características turísticas e por aí se ficassem. Mas não, os franceses decidiram antes apostar na cultura como forma de promover o verão.


Vejamos uns quantos exemplos. É durante o verão, na pequena cidade de Avignon, a sul, que se realiza o melhor festival de teatro do mundo. Neste ano celebrou-se a septuagésima oitava edição e venderam-se para cima de cem mil bilhetes. Por acaso, nos tempos que correm, e pela primeira vez, o festival tem um diretor não francês, que no caso é português: Tiago Rodrigues.


Aqui fica um apontamento de reportagem da Euronews, TV que deu bastante atenção ao assunto, ao contrário do que fizeram as TV’s portuguesas, que estavam mais interessadas nuns pezinhos de coentrada:



É também no sul de França, mais concretamente em Arles, que anualmente, desde 1970, se efetua o melhor festival de fotografia do planeta, “Les Reencontres d’Arles”.


Em Arles há o maior coliseu romano do mundo, com excepção daquele que há em Roma, há maravilhosos palácios barrocos e misteriosas igrejas medievais. A sua gastronomia é célebre e a cidade não fica longe das belas praias de La Camargue, porém, as autoridades locais, há muito que consideram ser os “Les Reencontres d’Arles”, aquilo em que mais se deviam empenhar, pois é por aí que chegam milhares de viajantes, que não vêm tão-somente à procura de tempo quente e de iguarias para manjar.


Vai daí, os palácios, as igrejas e os demais monumentos de Arles enchem-se todos os verões com fotografias dos melhores fotógrafos que existiram ou existem. As gentes passeiam-se por todo esse imenso património histórico com espanto e admiração, vendo lado a lado obras de arte de há séculos conjuntamente com imagens recentes.

O efeito é comovente e percebemos imediatamente que o sofrimento, a alegria ou a fé de um santo medieval, não são assim tão diferentes dos sentimentos existentes nestes nossos tempos.



Podíamos dar-vos outros exemplos a sul da antiga Gália, contudo, viajemos agora para norte. Numa região de França banhada pelo Oceano Atlântico (que por sinal também banha Tavira), fica a cidade de Nantes.


Nantes fica na região do Loire-Atlantique, a uns poucos quilómetros do mar. Tal região é um outro destino favorito dos franceses para passarem o verão. Tanto a cidade de Nantes propriamente dita, como também as múltiplas e belas praias que ficam nas suas redondezas.

Especialidades gastronómicas e bons vinhos também não faltam nessa região, todavia, e mais uma vez em território francês, as autoridades locais decidiram apostar na cultura.


Nantes é a cidade natal de Júlio Verne (1828-1905), autor de obras tão famosas como “Volta ao mundo em 80 dias”, “Viagem ao centro da terra”, “Vinte mil léguas submarinas” e “Da Terra à Lua”. Dado o contexto, um festival sediado em Nantes, só se poderia ter um nome: “Le Voyage”.


Como se pode verificar pelas datas no cartaz abaixo, é um festival que dura o verão inteiro:



A viagem estival de Nantes é tão extensa e aborda transversalmente tantos assuntos diferentes, que só podemos ficar com água na boca, tristonhos e mal-dispostos por em Portugal não haver nada igual.


Vendo o programa deste verão do festival de Nantes, constata-se que nele se celebram árvores com intervenções artísticas, que se pode passar uma noite dentro de uma obra de arte, que é possível colher amostras de germes e a partir delas criar esculturas, que se anda a pé em visitas guiadas pela cidade e arredores para se ir conhecer antigos cemitérios e os seus túmulos, que se visitam jardins secretos e se percebe o significado das suas fontes e estátuas, que se vai à praia de bicicleta indo descobrindo pelo caminho criativas instalações contemporâneas alusivas aos sítios por onde se passa, que se pode ir ver vinhas e adegas onde a arte e a natureza se conjugam, que é possível ir de barco pelo rio até antigas unidades industriais hoje desativadas mas que fazem parte do património histórico da região, que também há exposições, museus e concertos e que por fim, há igualmente excursões dedicadas à gastronomia da região, sendo que ninguém anda obcecado com isso, pois há muitas outras coisas para se fazer.


Aqui fica um vídeo que nos dá uma ideia de como se fazer um festival transversal no verão que mistura, mas não confunde, cultura no seu sentido mais amplo, cultura de massas e alta cultura, e tudo numa mesma cidade e seus arredores.



Não queremos ser exaustivos, mas ainda assim, como ainda não está na hora de ir comer, vamos alargar-nos mais um pouco destacando cinco atividades engraçadas do festival “Le Voyage”.


Começamos por “Chambres d’artistes”, que são obras de arte dentro das quais se pode passar a noite a dormir. É ver:


https://www.levoyageanantes.fr/sorganiser/ou-dormir/chambres-dartistes/


Destacamos também um cruzeiro pelo rio Loire para se observar fábricas abandonadas, arquitetura industrial, velhos portos que já não servem, fauna, flora e arte contemporânea. Tudo junto numa só viagem.


https://www.levoyageanantes.fr/activites/croisiere-escapade-en-loire/


E que tal uma ida ao mar para se sentir a brisa que dele vem e em pleno areal se contemplar uma exposição intitulada “Le pied, le pull-over et le système digestif”.


https://www.levoyageanantes.fr/oeuvres/le-pied-le-pull-over-et-le-systeme-digestif/


É também interessante estar-se na praia a apanhar sol, e ter-se como companhia, mesmo à babugem do mar, uma enorme instalação do artista Huang Yong Ping, “Serpente do Oceano”.


https://www.levoyageanantes.fr/oeuvres/serpent-docean/


Há também em Nantes um enorme leque de exposições, com títulos tão sugestivos como “Derrière la porte (Atrás da porta)” Prière de toucher ! L’art et la matière” (É favor mexer! A arte e a matéria)”, “Les Fabriques ou la rage des Utopies (As Fábricas ou a raiva das Utopias)”, “Ivresse de l’encre (A embriaguez da tinta)” e “La symétrie des rêves (A simetria dos sonhos)”


https://www.levoyageanantes.fr/a-voir/le-voyage-permanent/expositions-a-nantes/


Mas a estas cinco atividades, acrescentamos uma sexta, uma Balade Gourmande:


https://www.levoyageanantes.fr/activites/balade-gourmande/


Deixamos então Nantes pois agora sim, está quase na hora de comer e o melhor é irmos andando, pois com fome ficamos tristonhos e mal-dispostos.


E pronto, em breve neste blog, num outro dia, seguir-se-á o décimo sexto capítulo desta série de verão, “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”.

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