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Capítulo XVII - Como andar tristonho e mal-disposto em agosto…com cinema português

 

Neste décimo sétimo capítulo da nossa série de verão “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto” vamos falar-vos do cinema português. Quando falamos de cinema português temos logo um problema, que em boa verdade é uma questão que é tanto nacional como do resto do mundo, ou seja, “o que é o cinema?”


Há uma diferença radical entre um filme que serve para nos entreter enquanto comemos umas pipocas e bebemos um refrigerante numa qualquer sala de um centro comercial, e um outro filme diferente, que nos faz refletir e nos dá a ver a vida a partir de perspectivas sob as quais nunca a vimos.


Dizemos que vamos ao cinema em ambas as situações, seja para passar o tempo com um popular produto audiovisual proveniente da indústria do entretenimento, seja também para experimentarmos aquilo que de mais profundo a sétima arte nos consegue dar a ver e a contemplar.

Em síntese, quando vamos ao cinema podemos estar a fazer duas coisas completamente distintas, muito embora a designação seja a mesma, facto que por vezes provoca alguns equívocos e incómodos vários, como todos os que já fomos ao cinema acompanhados por gente chata, perfeitamente sabemos.


Há quem não goste de pensar muito e às vezes entre numa sala de cinema e se depare com um filme que lhe faz funcionar a mente. A consequência disso é sair de lá com uma enorme dor de cabeça e a chatear toda a gente com quem foi assistir ao filme.

O contrário também é verdade, pois há quem se ache uma mente brilhante e quando vê um filme cujo único objetivo é entreter, sente que a película não atingiu um nível de erudição satisfatório, compadecendo-se então longamente pelo tempo que perdeu, ou seja, e em resumo, chateia quem lhe fez companhia.



Antes de continuarmos com o nosso tema de hoje, façamos uma confissão. A verdade é que este blog tem como uma das suas grandes inspirações o cinema. Assim como ele é transversal e desde a sua origem que na sétima arte se misturam parvoíces, baboseiras e brincadeiras, lado a lado com as mais complexas propostas estéticas e elaboradas reflexões, assim nós aqui fazemos o mesmo, só que não cobramos bilhete.

Às vezes brincamos, rimos e aparvalhamos, outras argumentamos, meditamos e cogitamos. Numas circunstâncias referimos-nos à alta cultura, noutras à cultura de massas ou popular. Schopenhauer ou Marco Paulo, tanto nos faz.


Aqui fica um exemplo, um precisamente dedicado a altas reflexões filosóficas a propósito do Marco Paulo:


https://ifperfilxxi.blogspot.com/2022/12/uma-proposta-pedagogica-arrojada.html


Bom, o intróito já vai longo e ainda não falámos do tema que aqui nos trouxe, a saber, o cinema português. Como se sabe o paradigma nacional, no que ao cinema diz respeito, continua a ser os filmes realizados daqui a um bocado já há um século, ou seja, velhas comédias como “O Pátio das Cantigas (1942)”, “A Canção de Lisboa (1933)” ou “O Leão da Estrela (1947)”.


As aventuras e desventuras originalmente protagonizadas por Vasco Santana, António Silva e Beatriz Costa permanecem no imaginário popular como o ponto alto da cinematografia nacional. Tanto assim é, que todos eles tiveram remakes, “O Pátio das Cantigas” em 2015, “A Canção de Lisboa” em 2016 e “O Leão da Estrela” em 2015.


Estranhamente, ou talvez não, o filme português mais visto de sempre, foi a versão de 2015 de “O Pátio das Cantigas” com 406.733 espectadores, um recorde nacional.


https://www.publico.pt/2015/08/25/culturaipsilon/noticia/estes-sao-os-20-filmes-portugueses-mais-vistos-nos-ultimos-40-anos-e-o-patio-das-cantigas-esta-no-topo-1705929


Nós não queremos ser chatos, mas o facto é que ser um remake de “O Pátio das Cantigas” o mais visto filme português de sempre, não diz lá grande coisa das gentes de Portugal.


E não o diz porquê, perguntarão os nossos leitores. Não o diz porque revela saudosismo de um modo de vida que nunca existiu. Com efeito, todas essas comédias populares eram divertidas, mas tinham também como objetivo idealizarem a vida nos modestos bairros de Lisboa, fazendo crer que éramos “pobretes mas alegretes” e que assim é que era bom.


Conforme se dizia numa canção à época, que fazia parte do filme “O Costa do Castelo (1943)”, o mote favorito de então, que era muito apreciado pelas autoridades, consistia no refrão “a minha alegre casinha, tão modesta quanto eu. Meu Deus como é bom morar no modesto primeiro andar a contar vindo do céu.”



Há muitos ensaios que amplamente demonstram como esses e outros filmes portugueses das décadas de 30 e 40 século XX serviam a propaganda ideológica do Estado Novo.

Entre esses, há um intitulado “Um sonho cor-de-rosa” de Bruno Marques, que o autor resume assim: “Com base em sete comédias marcantes do chamado ‘período de ouro’ do cinema português – A Canção de Lisboa (1933), O Pai Tirano (1941), O Pátio das Cantigas (1942), O Costa do Castelo (1943), A Menina da Rádio (1944), A Vizinha do Lado (1945) e O Leão da Estrela (1947) –, habitualmente considerado como o género mais representativo do período inicial do Estado Novo, o presente ensaio aborda de modo exploratório a forma como foram tratados os papéis do feminino e do masculino no que à intriga amorosa conducente ao casamento diz respeito, sob um particular regime ditatorial.”


Aqui fica: 

 https://journals.openedition.org/cultura/pdf/2626


Já agora, refira-se também um livro da investigadora Maria do Carmo Piçarra, “Projectar a Ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista” de 2020, que não falando propriamente de comédias, é bastante ilustrativo sobre os objetivos presentes no cinema português desse tempo.



Em conclusão, é um pouco de nos deixar tristonhos e mal-dispostos, que agora, passadas largas décadas do fim do Estado Novo, o paradigma cinematográfico nacional continue a assentar nas velhas comédias de antigamente, que veiculam um modo de vida do passado e há muito datado.


No entanto, esse paradigma do cinema português só sobrevive em Portugal. Com efeito, uma das mais prestigiadas instituições culturais do mundo, o MoMa de Nova Iorque, anunciou para o próximo outono uma extensa retrospectiva, dura mais de um mês, dedicada ao cinema português.

Deu-lhe como título “The Ongoing Revolution of Portuguese Cinema” e, como é evidente, o paradigma é outro e não os das comédias de antigamente, pois dessa retrospetiva não constam nem pátios das cantigas, nem leões da Estrela, nem canções de Lisboa.


https://www.moma.org/calendar/film/5736


Que uma instituição nova-iorquina promova e divulgue um outro paradigma do cinema português, não faz mal de nenhum, muito pelo contrário. Que em Portugal praticamente ninguém o faça, com excepção da Cinemateca e de uns poucos mais, é que já não parece bem. Para que serve afinal a RTP e as centenas de auditórios e centros culturais que nos últimos tempos se foram construindo de norte a sul do país?


Dito isto, vamos nós aqui destacar quatro filmes portugueses que vale a pena ver e rever. Escolhemos estes porque para além de serem excelentes, são exemplificativos de como a vida em Portugal não decorria nem decorre em locais como pátios com cantigas em que todos são amigos, nem em alegres e modestas casinhas na costa do Castelo, nem em bairros como o do Leão da Estrela, onde pobres, remediados e ricos habitavam lado a lado no mesmo prédio, e a filha da família humilde, que era pobre mas trabalhadora e honesta, no fim se casava com o filho da família abastada, que era rico mas carinhoso e bondoso.


Tinha que ser assim, pois nesse tempos não se queria por cá descontentamentos nem conflitos, pois todos se davam bem e havia uma grande união nacional, mais que não fosse nos filmes.



O primeiro filme que tentou rasgar com o paradigma do cinema português das décadas de 30 e 40 do século XX foi “Verdes Anos (1962)” de Paulo Rocha. A cidade de Lisboa que aí nos surge é outra, que não a dos bairros populares onde o Vasco Santana, o António Silva e a Beatriz Costa, de modo simples e modesto, conviviam alegremente entre si e com os restantes vizinhos.


A Lisboa de “Verdes Anos” é a que vai do Areeiro à Avenida de Roma, passando pela Avenida dos Estados Unidos da América e indo até ao aeroporto e à Cidade Universitária.



É um ambiente urbano de espaços largos, prédios modernos geometricamente desenhados e ruas traçadas a régua e esquadro. É um sítio onde as jovens vindas da província vinham trabalhar para casa dos senhores da cidade como criadas de dentro, e os rapazes vinham do campo para ser aprendizes de pequenos ofícios, como por exemplo, o de sapateiro.


Em “Verdes Anos” não há qualquer possibilidade de rapazes e raparigas vindas de remotas aldeias e vilas deste país se sentirem em casa ou serem acolhidos no seio de uma comunidade de vizinhos num bairro, como aquele que “O Leão da Estrela” ficcionava.

Aqui tudo é gélido e tristonho e cada um sabe o seu lugar. Certamente que no fim não há casamentos entre raparigas pobres mas trabalhadoras e honestas, e filhos de famílias abastadas, ou seja, meninos ricos mas carinhosos e bondosos.


Vejamos os primeiros cinco minutos da película em que o tio do jovem personagem principal, o vai buscar à Estação do Rossio vindo diretamente da província. Neste excerto, o tio faz uma concisa reflexão acerca da profunda desconfiança que tem das gentes da cidade. É exemplar:



“Belarmino" (1964) de Fernando Lopes é a nossa segunda escolha. O filme é uma espécie de documentário que retrata a vida de Belarmino Fragoso, um antigo campeão de boxe, de humildes origens, que teve os seus momentos de glória no ringue, mas que vive agora de memórias. Faz vida de vadio vagueando por Lisboa inteira. Sustenta-se, mal, engraxando sapatos.



A baixa lisboeta que nos aparece neste filme nada tem que ver com a Lisboa típica de “O Pátio das Cantigas” e de outras comédias do mesmo género. É uma cidade triste, cinzenta, onde no Rossio faz frio. Belarmino sabe quem é, alguém a quem calhou em sorte tentar sobreviver pelas ruas o melhor que puder.



O nosso terceiro filme é “O Sangue (1989)”, uma obra de Pedro Costa. A narrativa foi filmada entre Lisboa e o Barreiro.


Lisboa é filmada como uma cidade chuvosa e escura, quase fantasmagórica. O Barreiro é um dos antigos e decadentes bairros operários, feitos de casas baixas e esconsas, onde os trabalhadores das fábricas praticamente só iam para dormir, apesar de serem essas as casas que habitavam.



Foi por essas casas e por essas fábricas, que centenas de milhares abandonaram os campos do Alentejo, os mares do Algarve e as terras das Beiras. Era nelas em que desde os primeiros anos do século XX se concentravam os sonhos de uma vida melhor. Era aí, longe de tudo o que sempre tinham conhecido e distantes dos locais onde todas as anteriores gerações das suas famílias tinham vivido, que procuravam construir as suas vidas.


Como é evidente, o seu desenraizamento era imenso, pouco tendo a ver com o alegre ambiente que viam nos bairros típicos de filmes como “O Pátio das Cantigas”, um paradigma de convívio entre vizinhos que não encontravam em lado nenhum no seu dia-a-dia.


Em “O Sangue” há uma cena passada em Lisboa, na qual o personagem principal se dirige ao Bloco das Águas Livres, um prédio de habitação concebido entre 1953 e 1956 pelos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral.



Esse edifico é um marco da arquitetura moderna portuguesa, e em muitos e diversos sentidos, é “primo” para não dizer “irmão”, de muitos dos prédios da Avenida de Roma e da Avenida dos Estados Unidos da América que aparecem em “Verdes Anos”.


De facto, trata-se de uma referência que o realizador de “O Sangue” de 1989, Pedro Costa, quis fazer a “Verdes Anos” através da arquitetura moderna, assumindo-se desse modo como um herdeiro e continuador do novo paradigma do cinema português, que nasceu com esse filme de Paulo Rocha de 1962.



Por fim, o nosso quarto e último filme, é “John From (2015)”, película realizada por João Nicolau. Aqui estamos perante um novo tipo de território urbano, que foi surgindo em Lisboa entre os finais do século XX e o início do XXI.

Digamos que em ficção, se situa algures entre Telheiras e a Melanésia (uma sub-região da Oceânia a sudoeste do Pacífico, que se estende desde a Nova Guiné oeste, até as Ilhas Fiji a leste).


É verão, lânguidas e intermináveis tardes, tépido tédio e Rita tem 15 anos. Terminou recentemente o namoro com um rapaz que gostava de tocar piano no centro comunitário de Telheiras. Rita, por outro lado, gosta sim de beber café e de chapinhar os pés com água na varanda de sua casa.


Rita hesita entre a infância e a idade adulta, uma adolescente, portanto. Um dia, ao ver uma exposição no centro comunitário do bairro de Telheiras, onde habita, fica fascinada. A exposição foi organizada por um seu vizinho, um homem já maduro. Nela há artefactos vindos das ilhas do Pacífico e retratos com a mesma origem.


A partir desse momento, nada para Rita será como dantes. O filme narra a atracção da adolescente por alguém mais velho. O vizinho torna-se amigo dela, mas fora isso não lhe liga nenhuma, facto que não impede que ela desenvolva por ele uma paixão platónica e passe a viver em função disso. Com o decorrer do verão e do filme, lá mesmo para o fim, Rita cresce subitamente e por consequência disso, esquece.


O realizador tem o cuidado de não tratar a atracção de uma adolescente por alguém mais velho como uma disfunção psicológica ou como um sintoma de doença social. Trata-a antes como a trataria Platão, com a consciência de que em toda e qualquer paixão, o que está sempre presente é uma metamorfose que nos aproxima a pouco e pouco daquilo por que mais ansiamos, ou seja, pela beleza.



Se pensarmos bem nisso, percebemos que “John From” foi realizado em 2015, ano em que foram também realizados os remakes de “O Pátio das Cantigas” e de “O Leão da Estrela”, em 2016 foi vez da segunda versão de “A Canção de Lisboa”.


O que isto nos diz, é que ao contrário do que sucedeu com todas essas réplicas de antigas comédias, “John From” decidiu seguir um novo paradigma de cinema, ao invés de tentar ficcionar antigas formas de viver na cidade, que atualmente não existem, e que na verdade nunca existiram, pois eram tão-somente idealizações de propaganda que convinham ao Estado Novo, ainda que tivessem piada.


João Nicolau, o realizador, não quis cá saber de bairros populares, costas do Castelo e leões da Estrela, e retratou Telheiras e a sua arquitetura urbana de subúrbio dentro da cidade, onde uma linguagem cromática forte, arcadas soalheiras e construções viradas para o exterior lhe dão um ar de uma atípica ilha do Pacífico. É ver:



Terminamos, mas depois de tudo isto, faria sentido voltarmos à questão com que iniciámos este texto, “o que é o cinema?”. Mas não, já chega, como em qualquer filme, há um momento para o “The End”.

E pronto, em breve neste blog, num outro dia, seguir-se-á o décimo oitavo capítulo desta série de verão, “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”.

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