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Os homens são todos iguais (2.ª parte)


“…it must be hard being a man, too”, e quem assim o diz é uma mulher. A frase foi retirada de uma cena de um episódio da série de TV norte-americana Mad Men. Tudo se passa num sofisticado bar em Nova Iorque. Don Draper, um bem sucedido agente publicitário e principal personagem da série, expõe a sua filosofia de vida a Rachel Menken, uma mulher independente e potencial cliente, herdeira e gestora de uma próspera cadeia de armazéns comerciais.

Em modo de conversa de circunstância, Don pergunta a Rachel por que razão nunca se casou, ao que ela lhe responde, porque nunca se apaixonou. De seguida o diálogo continua assim:
Draper: "She won’t get married because she’s never been in love? I think I wrote that to sell nylons."
Rachel: "For a lot of people love isn’t just a slogan…"
Draper: "What you call love was invented by guys like me to sell nylons. You’re born alone and you die alone and the world just throws a bunch of rules on top of you to forget those facts. But I never forget. I live like there’s no tomorrow because there isn’t one."

É após toda esta conversa, que Rachel concluí “I don’t think I realized it until this moment but it must be hard being a man, too…”


Na primeira parte deste nosso texto, publicado ao dia de anteontem, tínhamos já chegado à conclusão que ser homem não é nada fácil. Como Rachel subitamente descobriu, ser-se homem é coisa muito mais complexa e complicada do que à primeira vista poderia parecer.

Antes de prosseguirmos nós com a conversa, aqui vos deixamos a primeira parte da nossa reflexão acerca da masculinidade viril e dos seus riscos, sobretudo daqueles que surgem repentinamente lá por volta da meia-idade:


O diálogo entre Don Draper e Rachel continuou depois dela ter concluído que também deve ser difícil ser-se homem. No prolongamento dessa palestra, percebemos que Rachel ao afirmar “…it must be hard being a man, too”, não se está a referir à totalidade dos homens existentes, mas apenas a alguns, a uns poucos e raros.

O que de algum modo está pressuposto na frase de Rachel, é o contrário do título deste nosso texto, o seu exacto oposto, ou seja, que os homens não são todos iguais.
Não o são porque certos homens reflectem, meditam e interrogam-se. São esses os do raro tipo, que tal como Don Draper, não se limitam a ser quem são e a assumir sem mais o papel que deles se espera que interpretem. São esses os que não raras vezes, sentem que vivem e agem como se fossem um personagem, e não alguém efetivamente real. São esses para quem é duro ser-se homem.

Reflectir, meditar e interrogar-se é algo que Don Draper faz constantemente, e fá-lo, entre outras razões, porque lê, sendo que ao ler, lê-se simultaneamente a si próprio, descobre-se, aprofunda-se e reinventa-se. É isso que o vemos a fazer na imagem abaixo, em que lê o clássico livro de Philip Roth, “O complexo de Portnoy”.

No livro de Roth, Portnoy, um homem já maduro, conta-nos a sua história. Deitado num divã de um psicólogo, discorre longamente sobre o seu passado, a infância marcada por uma mãe autoritária e super-protectora, a adolescência dedicada fundamentalmente à prática da masturbação e a tentativas frustradas para perder a virgindade. Relata-nos também a sua vida atual, o relacionamento conflituoso com uma amante bela mas semianalfabeta, a sua separação e uma viagem de auto-descoberta a Israel.


Como se vê, Don Draper não lê seja o que for. Lê sim literatura da boa. Lê reflexões, meditações e interrogações que nos permitem não sermos apenas quem já somos e que nos levam numa profunda viagem de auto-descoberta. São precisamente estas as duas características constituintes da grande literatura.

No mundo real, não na série de TV, a New York Public Library publicou uma lista dos livros lidos por Don Draper. Foi uma iniciativa de grande sucesso, que posteriormente foi replicada por outras bibliotecas por todos os Estados Unidos. Aqui fica a dita lista:

EXODUS de Leon Uris
THE BEST OF EVERYTHING de Rona Jaffe
MEDITATIONS IN AN EMERGENCY de Frank O’Hara
THE SOUND AND THE FURY de William Faulkner
THE CHRYSANTHEMUM AND THE SWORD de Ruth Benedict
THE SPY WHO CAME IN FROM THE COLD de John Le Carré
THE FIXER de Bernard Malamud
ODDS AGAINST de Dick Francis
THE INFERNO de Dante
THE LAST PICTURE SHOW de Larry McMurtry
PORTNOY’S COMPLAINT de Philip Roth

Deixemos a lista e voltemos à conversa entre Don e Rachel. Sabemos que Don não era um homem igual aos outros porque reflecte, medita e interroga-se, todavia, não é essa a sua única diferença. Há homens que reflectem, meditam e se interrogam, mas que se o fizerem de um modo explícito, tal faz com que os restantes machos os tomem por parvos, fracos ou esquisitos, ou quiçá, até por intelectuais.

Até entre a rapaziada mais nova isso se nota. Se um moço adolescente preferir passar o seu tempo a ler ao invés de jogar à bola, está feito. Se tal acontecer, é certo e sabido que a sua masculinidade, sanidade ou identidade, tarde ou cedo vai ser posta em causa pelos restantes mancebos seus conhecidos.
Pior ainda, é se por acaso o rapaz escrever poesia ou se interessar por filosofia, a garotagem masculina não só não lhe o perdoará, como também periodicamente o enxovalhará de muitas e diversas formas.

Por assim ser, a única alternativa para um rapaz ou homem que reflicta, medite e se interrogue, e que simultaneamente queira ser considerado e respeitado pela malta, é vestir uma armadura, armar-se em forte e impor-se aos outros. Em resumo, compor um personagem e agir como tal.

Na escola, no bairro, no café, depois na tropa e, mais tarde, já em adulto, em casa ou no emprego, a melhor solução para o ser masculino que reflecte, medita e se interroga, é disfarçar-se de duro, nunca mostrar o que lhe vai pela alma, ter sempre resposta pronta e mordaz na ponta da língua e jamais ser uma vítima, dar parte de fraco ou se deixar ficar.

Vejamos uma cena em que Don Draper faz isso mesmo. Um seu colega, ainda que ocupando uma posição hierárquica abaixo da de Don, está magoado por ele não ter levado em consideração uma ideia que teve para um trabalho e ter preferido usar antes a sua. Encontram-se os dois casualmente num elevador e trocam umas ideias acerca do assunto.

Nisto, meio emocionado, o colega diz a Don o que pensa dele, a saber, que ele tem medo de mostrar qualquer tipo de fraqueza, e que por tal razão sente pena dele. Constatando que o dito colega dedica parte significativa do seu tempo a pensar nele, Don retorque-lhe do único modo possível, com um ar enfastiado diz-lhe o seguinte: “I don’t think about you at all”.


Percebemos agora a razão pela qual Rachel afirmou que “…it must be hard being a man, too”. A dificuldade consiste na imperiosa necessidade que alguns homens têm de vestir uma armadura, para jamais darem a ver aos outros aquilo de mais íntimo em que reflectem e meditam, bem como as interrogações que lhes assaltam a alma.

Em síntese, certos homens, uns poucos, uns raros, possuem uma intensa vida interior, mas para o exterior compõem um personagem que se apresenta sempre firme e sólido. Mesmo que por dentro haja fortes abalos, por fora só há um homem inabalável.

Rachel sabia quão duro era para uma mulher tão independente como ela, compor um personagem que nunca desse parte de fraco. Ficou na conversa com Don a saber, que para um certo tipo de homens era exatamente o mesmo que para ela, e é por isso que encerra o diálogo do seguinte modo:

  • Mr. Draper, I don’t know what it is you really believe in but I do know what it feels like to be out of place, to be disconnected, to see the whole world laid out in front of you the way other people live it. There’s something about you that tells me you know it too."

Mas vejamos agora a cena do princípio ao fim, ou seja, toda a conversa entre Draper e Rachel:


O problema de certos homens, de uns poucos, de uns raros, é o da incomunicabilidade. Não encontram no exterior de si, nada que comunique com as coisas íntimas em que reflectem e meditam, o mundo não lhes apresenta respostas para as suas interrogações, e por isso sentem-se sempre “out of place…disconnected”.

O italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007) realizou uma série de três filmes, que ficou para a história como a Triologia da Incomunicabilidade. “L’Eclisse – O eclipse” conta-nos a história de Vittoria (Monica Vitti) e Piero (Alain Delon), dois seres perdidos que tentam encontrar a felicidade. Procuram atenção, comunicar e preencher o vazio e a escuridão que sentem. Contudo, cada um está fechado no seu próprio labirinto interior. Fazem-se fortes para o exterior e um para o outro, e passeiam-se por uma Roma moderna e deserta, sem irem a lugar algum em especifico.


Em “L’Avventura – A aventura” temos um grupo de amigos que viajam de barco pela Sicília. Tudo se desmorona quando uma das tripulantes desaparece e se inicia uma busca incessante, mas sem sucesso, para a encontrar. Um filme com personagens perdidas e vácuas, que no meio do caos tentam constantemente estabelecer conexões e comunicar umas com as outras. Porém, o barulho do mar ou do vento ou qualquer outro, impede-as sempre de o conseguirem. Encerradas em si mesmas, as diversas personagens seguem o seu percurso sem nunca chegarem a encontrar num qualquer lugar fora de si o que buscam.


Por fim, o último da trilogia, “La Notte-A noite”. A história desenrola-se numa festa, na qual um casal tenta encontrar respostas para a crise do seu casamento de dez anos. Durante praticamente todo o filme, o casal parece não conseguir comunicar, isto desde que chegam à festa, até ao seu final.

A incapacidade de se sair de dentro de si, a necessidade de se compor um personagem, o sentir-se sempre “out of place…disconnected”, é um tema comum aos filmes de Michelangelo Antonioni e à série de TV Mad Men. O vídeo que se segue demonstra-o perfeitamente, é vê-lo:


“…it must be hard being a man, too”, disse um dia, num sofisticado bar de Nova Iorque, Rachel a Draper. Ela sabia do que falava, quando falava de coisas difíceis, pois para além de ser uma mulher independente num tempo em que tal não era particularmente bem aceite, era judia.

Os judeus viveram no exílio desde sempre e por todo o lado, tanto na Babilónia, como em Xangai ou em Brooklin, eternamente “out of place…disconnected”. Mais do que isso, tiveram de sobreviver tentando negociar com gente que os odiava, razão pela qual, era aconselhável comporem um personagem exterior, não fossem ser convertidos à força ao cristianismo, desapropriados dos seus bens, expulsos dos seus lares ou simplesmente levados e queimados em fornos em Auschwitz.

Agora já não num bar e sim num restaurante, Rachel e Don têm uma outra conversa. Don foi encarregue de criar uma campanha publicitária, que lhe foi encomendada pelo Turismo de Israel.
Ele quer saber o que é Israel, sendo Rachel judia, considera-a uma pessoa perfeita para o elucidar. Ela não se vê como tal, simplesmente pelo facto de ser judia e diz-lhe que se sente como toda a gente, ou seja, simplesmente norte-americana.

Ainda assim, a conversa avança, a dado momento Rachel diz-lhe que para ela, Israel não é bem um lugar, é sobretudo uma ideia. A ideia de um sítio onde o povo judeu possa deixar de andar disfarçado e errante a correr mundo, e se sinta por fim, conectado a um local seu. Don completa e conclui o que Rachel tinha em mente: Israel é uma utopia.

Logo em seguida, Rachel explica a Don a etimologia da palavra utopia. A origem da palavra remete-nos para o grego antigo e para dois termos. O primeiro é ou-topos, ou seja, o que não tem lugar. Ou-topos agrega o prefixo de negação “ou” e palavra grega para lugar, “topos”. O segundo termo é eutopia, que significava um lugar bom, belo e feliz. Depreende-se da conversa, que para Rachel, Israel conecta esses dois sentidos da palavra utopia, vinda do grego antigo.


“Os homens são todos iguais”, foi este o título que demos a este nosso texto, que dividimos em duas partes. Ao longo dele analisámos o personagem principal da série Mad Men, um homem que de modo nenhum era igual aos outros, pois reflectia, meditava e interrogava-se. Todavia, ele sabia que para existir tinha de parecer igual aos outros, ou seja, ser e agir como um personagem.

Sabia mais do que isso, sabia que apesar da sua intensa vida interior, esse sítio seu onde existiam imensas hesitações, dúvidas e angústias, jamais poderia dar parte de fraco e deixar que o que lhe ia na alma transparecesse para o exterior. Por tal razão, entre ele e os outros, e entre ele e o mundo, o que havia era incomunicabilidade e um sentimento de estar permanentemente “out of place…disconnected”.


O estado de Israel era a utopia do povo judaico, o país imaginário e ideal em que seriam para sempre felizes, um local onde as suas reflexões, meditações e interrogações tivessem uma resposta, onde criam ser possível que “For a lot of people love wasn’t just a slogan…" e onde ao lá se chegar se poderia dizer sem erro, que “I don’t think I realized it until this moment but here. It must be easy being a man, and a woman too…”

O estado de Israel era a utopia do povo judaico, um país imaginário e ideal. O estado real e concreto de Israel, tal como o rapaz na escola que prefere escrever poesia ao invés de jogar à bola como fazem todos os seus conhecidos, foi atacado desde da sua fundação pelos seus vizinhos e a utopia esfumou-se logo nesse momento.

O estado concreto e real de Israel foi atacado, como sempre o foram os judeus ao longo da história. Não por acaso, alguns dos grandes estudiosos do nosso interior, da vida do espírito, eram judeus, como por exemplo, Freud, Kafka, Wittgenstein e Proust para citar só uns quantos. Como Don Draper muito bem sabia, há muito quem queira que os homens sejam todos iguais, o mesmo é dizer, vazios e sem vida interior.

Com efeito, ninguém tolera bem machos que pareçam diferentes, fracos, parvos ou esquisitos, ou pior ainda, intelectuais. Don Draper não era judeu, mas sabia que para o exterior, tinha de adoptar um personagem, de modo a esconder a sua vida interior e a parecer um homem igual a todos os outros, os iguais.

Só por curiosidade científica e literária, vejamos novamente alguns dos livros que Don Draper leu ao longo dos vários episódios da série de TV Mad Men:

EXODUS de Leon Uris, autor de origem judaica
THE BEST OF EVERYTHING de Rona Jaffe, autora de origem judaica
THE FIXER de Bernard Malamud, autor de origem judaica
THE INFERNO de Dante, autor que foi expulso da sua Florença natal e viveu no exílio
PORTNOY’S COMPLAINT de Philip Roth, autor de origem judaica
THE SPY WHO CAME IN FROM THE COLD de John Le Carre, autor inglês educado por uma ama judaica

Não será certamente por acaso que Don Draper lê tantos autores de origem judaica, é porque de facto há uma afinidade entre ele e o povo judaico. Israel queria ser um estado ideal, uma utopia, acabou por ter que ser um personagem e adaptar o papel de mau da fita.

Os homens são todos iguais, mergulhados na incomunicabilidade, isto apesar de uns raros, de uns poucos, a despeito das aparências, ou seja, não obstante o seu personagem, ainda assim reflectem, meditam e interrogam-se, o mesmo é dizer, albergam algures dentro de si uma qualquer utopia.

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