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A balbúrdia na educação

 


Há quem desdenhe e diga mal do Brasil, que é só samba, praia e futebol. Claro que não é, mas mesmo que fosse, qual era o problema?! 

Nós por aqui gostamos do Brasil. Daquilo que não gostamos são das suas presentes opções educativas. Na anterior campanha eleitoral, e logo ao tomar posse, o atual executivo governativo brasileiro anunciou ao país o seu mote: “acabar com balbúrdia na educação”.

A prioridade não foi diminuir o analfabetismo ou o abandono escolar. Também não foi reformular os currículos e adaptá-los às exigências do futuro. Tão-pouco foi renovar ou construir escolas. Nem sequer foi melhorar as condições salariais do professores. Foi sim, acabar com a balbúrdia. Ah valente! Acabar com a balbúrdia, isso sim, é de homem! 

Vejamos algumas das medidas implementadas pelo Ministério da Educação do Brasil ao longo destes últimos anos. A primeira foi que diariamente seja hasteada a bandeira, professores e alunos cantem o hino e que esse momento seja gravado e enviado por e-mail. 

Para além disso, deve também ser lida a seguinte missiva: “Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.”

 

Se algum dos nossos leitores porventura tiver dúvidas sobre a veracidade do que acima se descreve, façam o favor de ir confirmar que nós esperamos. Para fazer tempo, vamos ouvindo uma musiquinha: João Gilberto “…mas se ela voltar, se ela voltar! Que coisa linda, que coisa louca! Pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca…”






Já voltaram? Está confirmado? Pois bem, continuemos então. Outra medida que está a ser implementada em muitas escolas brasileiras do Ensino Básico no Brasil, é o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares. A ideia é que os militares façam tutorias aos alunos e acompanhem a gestão da área administrativa das escolas. Mas calma, pois como explicitou o responsável por esta medida, os militares não vão substituir os professores dentro da sala de aula. Ai Sim? Não vão? Ainda bem, assim ficamos mais descansados

Ao ser alertado pelo governador do Distrito Federal que algumas escolas recusam o modelo militar, o chefe do executivo foi taxativo. "Me desculpa não tem de aceitar, tem de impor."


Como seria de calcular, a balbúrdia educativa centrava-se no ensino público, pois as escolas privadas de matriz evangélica sempre foram muita acarinhadas pelas atuais autoridades brasileiras. Entre os 11 milhões de brasileiros que defendem que a Terra é plana (os chamados terraplanistas), a larguíssima maioria deles são crentes e pertencem a cultos evangélicos. É preciso dizer mais?

Poderíamos continuar a apresentar-vos o extenso rol de medidas do Ministério da Educação do Brasil, mas já chega. Uma coisa é certa, tudo isto dá muito que pensar...


             Tarsila do Amaral, Abaporu, 1925, Museu de Arte Latino-americana, Buenos Aires

Como dissemos no início, nós gostamos do Brasil. Razão pela qual fizemos um guião de aprendizagem intitulado “Samba, praia e futebol”.


Guião de aprendizagem "Samba, praia e futebol"


https://drive.google.com/file/d/19CW0LIl4qFFAA9fuSEj3DXyRDGFC-umq/view?usp=sharing


Ficha de exploração "Samba, praia e futebol"


https://drive.google.com/file/d/1gJGNJ-vn5Vd0ZMjPt59pp4jmZ8Q4L0yi/view?usp=sharing





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