As férias grandes! Esse tempo longínquo em que por um longo período, a escola só existia como uma distante miragem. Sendo hoje os tempos tão diferentes, perguntamo-nos agora, se as férias grandes realmente existiam ou se foram tão-somente uma doce ilusão.
Talvez as férias grandes fosse o nome que então dávamos a não pensarmos na escola durante todo o verão. Ou talvez as férias grandes fossem uma casa que ia até à beira-mar, o cheiro dos lilases num terraço ou as lentas e sonolentas tardes de agosto. Sim, talvez fosse isso.
Seja como for, mesmo que porventura as férias grandes tenham existido algures no passado, é de ciência certa que atualmente já não existem. É uma coisa que caiu em desuso, tal como as cassetes, os filmes VHS, beber um pirolito ou comer um Rajá.
Hoje em dia, mal se inicia o querido mês de agosto, imediatamente o tempo começa a escoar-nos por entre os dedos das duas mãos e, subitamente, já estamos novamente em setembro, prontos para o regresso às aulas.
Foi tanto o que mudou nas últimas décadas, que as férias grandes desapareceram completamente do nosso horizonte. Para que chegássemos a este horizonte perdido, muitas razões houve. Uma delas é certamente o facto de logo em meados de agosto, começarmos a ser massacrados com anúncios publicitários cujo mote é o regresso às aulas.
Não há hipermercado, minimercado ou superfície comercial que, já daqui a quinze dias, não nos comece a bombardear com anúncios sobre o regresso às aulas.
Há mochilas, cadernos, estojos, lápis de cor, borrachas e sabe-se lá que mais para vender. Perante essa panóplia de promoções, oportunidades e de preços em conta, a antiga sensação de nas férias grandes estarmos muito, mas mesmo muito longe da escola e de tudo, esfumou-se por completo da nossa existência.
No tempo em que havia férias grandes, a época de veraneio proporcionava primeiros encontros. Por exemplo, antigamente, durante o verão, as salas de cinemas repunham os grandes clássicos da sétima arte. Havia espectadores que aproveitavam para os ver pela primeira vez e outros que aproveitavam para os rever como se fosse a primeira vez.
Uma outra tradição estival, eram os folhetins que os jornais publicavam ao longo do verão. Os jornais aproveitavam assim o facto de os veraneantes disporem de tempo livre para a leitura, algo que não sucedia no resto do ano, pois estavam ocupados com suas obrigações e afazeres.
Os folhetins são histórias que se vão desenrolando por capítulos sequenciais com uma narrativa ágil e uma grande profusão de acontecimentos de modo a prender a atenção do leitor. Foi através dos folhetins que muita gente teve o seu primeiro encontro com a literatura.
Bem sabemos que não temos artes mágicas que nos permitam trazer de volta as férias grandes. Também sabemos que não vamos conseguir evitar “o regresso às aulas” publicitário de meados de agosto. O que verdadeiramente podemos fazer durante este verão neste blog, é escrevermos um folhetim.
Um folhetim que conte as aventuras estivais de uma professora. Porque não chamar-lhe Anita, como aquela personagem infantil que protagonizou títulos como “Anita no campo”, “Anita de bicicleta”, “Anita no jardim” e tantos outros. Está combinado, fica Anita, Professora Anita.
O que vos podemos prometer é que, durante o mês de agosto, a Professora Anita vai a banhos, terá excitantes aventuras e primeiros encontros, e perder-se-á em devaneios mentais e sonhadoras reflexões. Podemos também prometer que nas suas férias grandes, a Professora Anita jamais se lembrará da escola!
Aguardem pelo primeiro capítulo muito em breve neste blog perto de si.
Findamos com um poema de Sophia Mello Breyner, que em tempos também foi a banhos.
Há muito que deixei aquela praia De grandes areais e grandes vagas Mas sou eu ainda quem na brisa respira E é por mim que espera cintilando a maré vaza
Boas férias grandes!
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