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Folhetim de verão - Capítulo X - Anita fica agarrada

 



 

Passados uns dias, a Professora Anita e o Cunha estavam presentes na sessão de terapia de casal em grupo receitada pela Dra. Carina-Mariana Hoffenheim. A terapia não se destinava a todos o tipo de casais. Destinava-se unicamente a casais cujo um dos membros, quando não os dois, tinham assumido uma personalidade distinta daquela que lhes era habitual. 

Na sala havia um casal jovem e uma senhora de mais idade. O casal era constituído por um Ronaldo, acompanhado pela respetiva Georgina. A senhora de mais idade era uma Dona Dolores, mãe deste Ronaldo, que também tinha querido participar.

Para além disso, havia também um casal de meia-idade constituído por um Manuel Luís Goucha, que fazia parelha com uma Cristina Ferreira. Finalmente, havia ainda um Adolfo Hitler, um senhor já com ar de reformado, que se fazia  acompanhar pela esposa, de seu nome D. Josefina e que aparentemente, era a única de todo este grupo boa do juízo. A D. Josefina perguntava-se a si mesma o que raio estava ali fazer, quando em casa tinha a roupa toda por estender e por passar a ferro.

Era com este grupo heterogéneo que o Cunha iria ter a sua terapia. Como é evidente, o seu caso não era totalmente análogo ao dos restantes, ele não tinha adquirido a personalidade de nenhuma figura mediática ou histórica, apenas tinha assumido a personalidade do Esteves, um pobre desgraçado que ninguém sabia quem era.

A sessão seria moderada pela Dra. Carina-Marina Hoffenheim. A doutora iniciou a sessão com um preâmbulo acerca de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos. Vinha a propósito, mas o Ronaldo não sabia quem era o Fernando Pessoa. A Georgina também não. A Dona Dolores que sim, que tinha uma ideia, que já tinha ouvido falar. A Dra. Carina-Marina Hoffenheim esclareceu os presentes: o Fernando Pessoa era um poeta e os seus heterónimos eram as várias personalidades que assumia. A Dona Dolores disse imediatamente: eu bem me queria cá parecer. O Ronaldo e a Georgina ficaram na mesma.

Já o Goucha e a Cristina conheciam perfeitamente o Pessoa. A Cristina até recitou uns versos: 

Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente…

O Goucha interrompeu-a no seu recital, para lhe dizer que esses versos não eram do Pessoa. A Cristina respondeu-lhe que ai isso é que eram, que tinha a certeza absoluta, que eram do Pessoa. O Goucha voltou a insistir que os versos não eram do Pessoa. A Cristina manteve a sua certeza. Estiveram nisto mais de cinco minutos, até que a Cristina se virou para o Goucha e lhe disse: ó Manel, e se fosses chatear o Camões? 

A espontaneidade e naturalidade da Cristina no uso da expressão popular portuguesa “ir chatear o Camões”, arrancou esfuziantes aplausos a toda a assembleia, tendo a Cristina emergido absolutamente triunfante do debate com o Goucha. 

Perante a reação da assistência, o Goucha afundou-se na sua cadeira. Não fossem as vibrantes cores das suas originais vestes, que o envolviam numa permanente atmosfera de júbilo primaveril, e dir-se-ia que o Goucha tinha ficado amuado. O mesmo deve ter pensado a Cristina, que para lhe levantar a autoestima, lhe deu umas palmadinhas na cabeça. 

Após este interregno, a doutora continuou com o preâmbulo fornecendo alguns dados biográfico sobre o poeta. O Adolfo, ao saber que o Fernando Pessoa tinha passado uma temporada na África do Sul, levantou-se imediatamente e vociferou: “Veio de África esse Pessoa?! Que vá mas é para a terra dele”. A esposa do Adolfo ordenou-lhe que se calasse e que não se pusesse a dar espetáculo. Valeu-lhe do mesmo, pois o Adolfo continuou em grande estilo: que isto agora era tudo uma pouca-vergonha, que já não havia respeito, que era só ladroagem e que era tudo uma roubalheira.

A Dra. Carina-Marina Hoffenheim questionou a assembleia para saber se alguém queria comentar a intervenção do Adolfo. Ninguém quis. Mas nisto, o Cunha ofereceu-se para comentar. A doutora psicóloga passou-lhe a palavra. Ao Cunha parecia-lhe que este Adolfo era assim um poucochinho para o pobrezinho. Ao invés de querer invadir toda a Europa, dominar o mundo e erguer o Reich dos mil anos, tinha ambições muito mais modestas. Parecia-lhe a ele, que este Adolfo, mais não era que o típico queixinhas nacional, só que com maus fígados. Em resumo, era uma espécie de Adolfo de trazer por casa. 

A Dra. Marina-Carina Hoffenheim cortou a palavra ao Cunha para esclarecer a assembleia que não era suposto fazer-se julgamentos, que as intervenções deviam ser sempre pela positiva. O Cunha acatou a admoestação e falou pela positiva, disse que o Adolfo para idade que tinha, ainda não estava acabado de todo, só meio chanfrado.

A doutora aprovou o reforço positivo do Cunha. A mulher do Adolfo é que não, pois disse alto e a bom som, que meio chanfrado tinha sido ele a vida inteira, agora estava mesmo chanfrado de todo. 

Terminadas estas intervenções, o silêncio abateu-se sobre a sala criando uma espécie de impasse. A Dra. Carina-Marina Hoffenheim observou que vários elementos do grupo aproveitaram a pausa e consultaram os seus smartphones para saberem quais eram as últimas. Observou também que o Cunha não o fez. Comentou o facto dirigindo-se à assembleia: o grupo já reparou que o colega Cunha não consultou o seu telemóvel. Ninguém do grupo ligou absolutamente nada ao que a doutora disse, exceto o Cunha que se sentiu atrapalhado e acabou por se desculpar informando que não tinha o seu telemóvel consigo. A doutora psicóloga considerou esta informação relevante e apontou-a no seu caderninho. O Cunha começou a sentir-se incomodado, mas nisto, a Professora Anita veio em seu socorro, não te preocupes querido que eu tenho aqui o meu telemóvel. O Cunha aproximou-se imediatamente da Professora Anita e puseram-se os dois a ver as novidades do dia. A doutora psicóloga pareceu ter ficado satisfeita com este desenvolvimento da situação.

Estava tudo muito entretido, quando subitamente o Adolfo se levanta e começa a gritar “chega, já chega disto”. A esposa do Adolfo corou de vergonha e deitou as mãos ao ar lamentando-se vigorosamente: “mas que mal fiz eu a Deus para ter te aturar uma coisa destas? Ninguém me diz? Que mal terei eu feito para ter este castigo?”. Tirando a esposa, não houve reações às diatribes do Adolfo, este acabou por se cansar e voltar a sentar-se para grande alívio da D. Josefina. 

A Dra. Carina-Marina Hoffenheim dirigiu-se ao Ronaldo e à Georgina e perguntou-lhes se queriam partilhar com o grupo o que estavam a ver no telemóvel. A Georgina respondeu-lhe que tinham estado a ver tatuagens. Não que quisessem fazer uma tatuagem, mas gostavam de ver, achavam bonito. 

A doutora psicóloga confirmou que era bonito sim senhora. As tatuagens eram uma forma simbólica de representarmos o caminho da vida. Que se quisessem, ela até lhes poderia falar um pouco sobre o assunto, era uma especialista. Talvez tirassem daí algum conhecimento que lhes fosse útil para as suas próprias vidas. Como ninguém se manifestou, a doutora avançou. 

Segundo ela, a cada idade da vida correspondia uma forma diferente de ser e de estar, ou seja, a cada idade correspondia um tipo distinto de tatuagem. Entre os 20 e os 30, são sobretudo figuras de águias de asas abertas, rosas coloridas e golfinhos com um ar meio despistado. A acompanhar uma frase filosófica ilegível que cruza o peito ou a parte inferior das costas, mesmo junto ao rabo. Caso estejamos a falar de quarentões ou quarentonas, o ideal são os motivos vindos da cultura oriental, umas letras do alfabeto japonês ou, em alternativa, um dragão. Para lá dos cinquenta, para os homens, o melhor será optar-se por runas, ou seja, as características letras celtas e Vikings. Para as senhoras, figuras em filigrana. 

Toda a assembleia ficou petrificada perante esta demonstração de sabedoria. A Professora Anita até pensou para consigo, quem me dera que houvesse uma psicóloga deste gabarito na minha escola. A Dra. Carina-Marina Hoffenheim questionou o grupo, se porventura estariam interessados em ver a sua tatuagem. Desta vez todos responderam que sim. Mesmo sendo o grupo tão heterogéneo, o certo é que a doutora tinha conseguido captar a sua atenção. Estavam concentradíssimos.

Puxou de uma cadeira e subiu para cima dela, soltou os longos cabelos e foi lentamente baixando a apertada saia que trazia vestida. A pouco e pouco foi-se desvelando o desenho duma figura da qual ninguém conseguia desviar os olhos.

O Cunha estava fascinado. A idade da Dra. Carina-Marian Hoffenheim era incerta, talvez trinta e muitos, ou quarenta e tal ou mesmo mais de cinquenta, para o caso, pouco importava, estava em excelente forma. O Cunha virou-se para os seus colegas de grupo e disse: muito boa esta psicóloga, é mesmo muito boa. Quer o Ronaldo, quer o Adolfo acenaram entusiasticamente que sim com a cabeça. Nisto, a Professora Anita olhou para o Cunha, levantou-se e disse: mas que badalhoquice vem a ser esta? A mãe do Ronaldo, a Georgina, a Cristina e a D. Josefina vieram imediatamente em seu apoio. A Professora Anita continuou: mas afinal era assim que tratavam da saúde às pessoas? E a DGS não fazia nada, a Dra. Graça Freitas não punha os olhos nisto?  E a Ministra da Saúde? Não admirava que o Serviço Nacional de Saúde andasse pelas ruas da amargura! 

Todas se retiraram arrastando consigo os seus homens. A Dra. Carina-Marina Hoffenheim já só teve tempo para lhes recordar, que ao saírem não se esquecessem de levantar os seus certificados de alta médica e de preencherem um inquérito de satisfação. 

Todos os participantes preencheram os referidos inquéritos, sendo que a parte feminina classificou a sessão com a nota mínima em todos os critérios, e a parte masculina classificou a sessão com a nota máxima nos mesmos exatos critérios. Mais tarde, ao refletir sobre esse facto, a Dra. Carina-Marina Hoffenheim constatou que tinha de proceder a uma reformulação dos critérios de avaliação das suas sessões, de modo a os tornar mais adequados à heterogeneidade dos grupos.

Já na rua, a Professora Anita olhou para o Cunha com um ar desgostoso. Eu não lhe chego, questionou-o, tem de estar sempre a mirar as outras? Daqui em diante isso vai acabar. Ou bem que se porta com modos ou bem que…ou bem que…que…

Ou bem que o quê? perguntou o Cunha. Ou bem que nada, respondeu a Professora Anita, que se apercebeu nesse exato instante que não estava em condições de fazer ameaças, pois o Cunha era bem menino para se pisgar. A Professora Anita apercebeu-se que pela primeira vez na vida, estava agarrada.  As férias grandes não estavam nada a correr como tinha previsto. 

Ao longe ouvia-se o tema de Huey Lewis & The News, “Stuck with you”:


https://www.youtube.com/watch?v=UhSZfc4l2yg

E agora? Que destino estaria reservado para a Professora Anita? E o Cunha? Seguiria cada um o seu caminho? Ficariam juntos? E se ficarem juntos, será para sempre? Até ao final do Verão? Até às avaliações intercalares? Até ao fim do 1° semestre? As respostas a tudo isto e a muito mais surgirão no décimo primeiro e último capitulo deste fascinante folhetim de verão.

                                                                     (continua)

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