Quem foi jovem na década de 60 do século XX, é provável que se recorde de Bob Dylan. Um cantor que revolucionou a música popular e que representava a rebeldia dessa época. Não foram nada poucas as touradas em que esteve envolvido. A sua vida, estilo, poesia e música são um autêntico catálogo de como se ser anti-sistema.
As suas letras são de alto calibre literário, já as suas qualidades vocais são questionáveis. Tanto assim, que alguém carinhosamente o alcunhou como o fanhoso do Minnesota (a sua terra natal). Não é uma alcunha simpática, como nunca são, mas podia ter sido pior.
O que nos importa aqui, é que com passar do tempo, quer o grande público, quer as mais nobres instituições políticas e sociais, deixaram de o considerar um rebelde e um anti-sistema e integraram-no. Atribuíram-lhe as mais altas honrarias do estado norte-americano e, inclusivamente, e para surpresa geral, foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura.
O homem não compareceu à cerimónia de entrega do Prémio Nobel e nem sequer se deu ao trabalho de comentar publicamente tão alta distinção. O homem, apesar de já ser de idade bastante avançada, continua a cultivar o estilo rebelde de sempre. Todavia, o sistema e as suas instituições, adotaram-no e honraram-no.
Se quiséssemos tirar uma lição da história de Bob Dylan, teríamos de concluir que os sistemas e as instituições acabam sempre por acolher as mudanças. Ainda que à partida as recusem, mais cedo que tarde, acabam por descobrir que se não integrarem em si às mudanças, as inovações e as transformações, acabarão por ser vítimas de uma estocada fatal.
Uma das mais célebres canções de Bob Dylan intitula-se “The Times They Are A-Changin”. Talvez não seja despropositado ouvi-la:
https://www.youtube.com/watch?v=90WD_ats6eE
Durante o mês de agosto, para além de termos ido a banhos, também nos dedicámos a ler a imprensa internacional e demos com um artigo intitulado “Evaluar competencias”. Foi publicado no jornal El País. Fazemos-vos um resumo.
O processo que em Espanha equivale aos nossos exames nacionais de acesso ao ensino superior, chama-se “La selectividad”. Para este ano letivo, o governo espanhol aprovou uma série de medidas que vão revolucionar esse processo.
A principal novidade é a introdução de uma prova de maturidade (em espanhol, madurez) académica. O objetivo da prova de maturidade académica, é que a sua implementação incentive a diminuição do peso do ensino tradicional nas escolas espanholas. Considera-se que as práticas letivas em Espanha estão demasiado assentes na lecionação de conteúdos e na sua respectiva memorização, quando o deveriam antes estar nas competências.
A prova de maturidade académica decorrerá do seguinte modo: será fornecido ao aluno um dossier sobre um qualquer tema em específico com documentos de todo tipo: textos, imagens, gráficos e outros. Partindo desses materiais, serão efetuadas várias perguntas ao aluno, para assim se avaliar as suas competências de pensamento crítico, raciocínio e maturidade. Através dessas questões, avaliar-se-á também a sua destreza linguística.
A prova está dividida em três fases: na primeira os alunos terão 15 minutos para ler os materiais, depois 40 minutos para responder a perguntas fechadas ou de escolha múltipla, por último, 45 minutos para responder a três questões (uma em língua estrangeira) em 150 palavras e em que não há uma só resposta correta inequívoca, algo que pressupõe, que o aluno tenha competências para expressar e fundamentar os seus ponto de vistas e opiniões.
Qual foi a razão que levou a tão radical mudança no país vizinho? Foi a constatação de que o currículo em Espanha, segundo as palavras de um dos mais conceituados especialistas mundiais em educação, de seu nome Andreas Schleicher (responsável pelas provas PISA), “tem um quilómetro de extensão e um centímetro de espessura”. Sendo que, e continuando a citar Andreas Schleicher, “o futuro passa por ensinar menos coisas, mas de um modo mais profundo”.
De que serve, por exemplo, conhecer muitos conceitos científicos, se não se sabe fazer uma experiência? De que serve saber toda a gramática, se por uma razão qualquer, não se consegue elaborar um discurso, ou sequer falar, diante de uma assembleia, seja esta de condóminos ou de colegas? De que serve ter um grande saber teórico adquirido à custa de muito estudo, se depois não se é capaz de se integrar numa equipa de trabalho?
Fora do contexto escolar, ou seja, na arena que é a vida pessoal e profissional, por si só, os conhecimentos e os saberes teóricos, não nos servem de grande coisa para a nossa lide. Hoje, mais do que nunca, ao conhecimento e aos saberes teóricos terão inevitavelmente de estar associadas as competências.
Este enfoque do ensino nas competências, causou algumas reações adversas nos sectores mais conservadores da sociedade espanhola, que imediatamente começaram a marrar, passe a expressão, contra elas..
Essas reações centram-se em dois pontos interligados. O primeiro é o de que com um ensino baseado nas competências, se está a assassinar a cultura de trabalho e esforço, na qual os alunos tinham de estudar para serem alguém na vida. O segundo é a de que ao se reduzir os conteúdos curriculares, se está a promover o facilitismo.
Esses sectores são o exemplo daquilo a que nas terras de Leão e Castela se passou a designar com a expressão “lo reaccionarismo educativo”.
Antes de nos despedirmos, deixamos-vos um “link” com uma entrevista ao já referido Andreas Schleicher. Como título, o jornal usou uma frase da entrevista. Frase cujo autor talvez pretendesse polémica, sugestiva ou inspiradora, sabe-se lá o que lhe passou pela cabeça: Talvez estivesse a tentar uma faena ao “reaccionarismo educativo”. Transcrevemos a frase e cada um que julgue por si: “Sabemos educar ‘robots’ que repiten; ahora necesitamos pensar en educar auténticas personas”
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