Será a transdisciplinaridade sexy ou leviana? Que estranha questão!
Que relação terá uma coisa a ver com as outras? É o que agora vamos descobrir.
Ponhamos outros exemplos de relações pouco evidentes: o que tem a EMAEI a ver com a EMEL? E a LPNM com a LGBT? E a CP com o CCB?
Em princípio, nenhumas destas coisas terá muito que ver com as outras, exceto todas serem designadas por siglas.
E que relação há entre um ser monocelular, um monobloco, um monocórdico e um monodocente? Também neste caso, em princípio, não há nenhuma relação óbvia, exceto o prefixo mono.
Mas se porventura usarmos a imaginação, facilmente estabelecemos relações verosímeis entre coisas aparentemente díspares:
“Era uma vez um monodocente monocórdico que estava a dar uma aula de ciências num monobloco sobre seres monocelulares…”
Claro que monobloco, monocelular , monocórdico e monodocente não são palavras particularmente estimulantes nem excitantes. São palavras que pouco apelam aos sentidos, palavras nada sensuais. Dir-se-ia até, que são palavras burocráticas. Contudo, se não deixarmos que a nossa imaginação seja castrada pela verossimilhança, então todas as relações entre palavras, pessoas e coisas se tornam possíveis. Entramos imediatamente no reino do fantástico e do polissensorial. Por consequência, até mesmo das mais sensaboronas e insípidas palavras emergem peculiares sensualidades: visões, paladares, texturas, sons e odores. Façamos um exercício com as palavras em questão:
“Era uma vez uma bela monodocente que ia alegremente pela floresta dançando. Levava consigo um cesto de deliciosas e refrescantes framboesas para a sua avozinha. Subitamente, em vez do lobo mau, é um fascinante e viscoso ser monocelular que surge por entre a densa e húmida vegetação. Todo ele se foi dela aproximando, como se de um autêntico monobloco se tratasse. Das suas insinuantes entranhas saía um continuado e ofegante suspiro monocórdico, um som selvático que despertava na mente da bela monodocente poderosas imagens de um vigoroso e vibrante trombone…”
Em boa verdade, também a transdisciplinaridade se faz de relações não óbvias, ou seja, faz-se através de um atravessar de fronteiras, de um não se permanecer no interior dos limites burocráticos instituídos para cada disciplina. Como outras coisas na vida, a transdisciplinaridade é polissensorial e faz-se de fantasia e imaginação.
Quando nos referimos a alguém usando a expressão “É um Homem do Renascimento”, está implícito que esse alguém é uma pessoa cujo conhecimento é valioso por não se restringir a uma única disciplina, sendo antes o fruto de diversas áreas do saber. Quando pensamos em Leonardo da Vinci, pensamos simultaneamente no pintor, no cientista, no escultor, no arquiteto, no poeta e no filósofo. Da Vinci sabia que, por razões práticas e burocráticas, o conhecimento estava divido por disciplinas, todavia, sabia também que essa divisão era artificial e que o verdadeiro saber era transdisciplinar, ou seja, uno.
A propósito dessa unicidade do conhecimento e por contraposição à sua fragmentação em disciplinas estanques, citemos o próprio Leonardo:
“A parte sempre tem a tendência de se reunir com o seu todo para escapar da sua imperfeição”.
Acrescentemos às palavras monocelular, monodocente, monobloco e monocórdico uma outra palavra: monógamo. A definição do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa é a seguinte: “Que ou aquele que tem uma só esposa”.
Imaginemos por exemplo, um estudioso que quer saber coisas sobre a lua. Continuemos a imaginar e personifiquemos o seu “Querer saber”.
Imaginemos que esse “Querer saber” é agora o nome de uma personagem. Alguém sossegado e atinado. Dada a sua personalidade pouco dada a devaneios, na sua busca de conhecimento sobre a lua, o “Querer saber” opta por estabelecer uma relação monógama e toma a Astronomia como legítima esposa. Certamente que o “Querer saber” será muito feliz e aprenderá muitas coisas nessa relação monógama com a Astronomia. Todavia, o facto é que há muito mais para saber sobre a lua, para além do que a Astronomia lhe pode ensinar.
Há poemas que a cantam, há belas telas inspiradas pelas suas cores, na longínqua China, assim como na Grécia Antiga, muitas deusas a encarnaram, a sua conquista incentivou grandes avanços tecnológicos, rivalidades geoestratégicas e muito, mas muito mais.
Imaginemos agora que esse personificado “Querer saber”, ao invés de se casar e manter uma relação monógama com a Astronomia, se sente sexy e confiante e opta antes por relações transdisciplinares. Opta por se relacionar com coisas que aparentemente nada tem que ver umas com as outras. Tem um “sentimental-affair” com a Literatura, um escaldante caso com a História, um “flirt” com as Artes Plásticas, um namoro platónico com as Matemáticas, uma paixão assolapada pela Geografia e, claro está, ocasionalmente também se encontra com a Astronomia para um Rendez-Vous!
Nos nossos guiões de aprendizagem, optámos por estabelecer relações transdisciplinares , se são sexys ou levianas, não sabemos. Decida quem nos lê:
Guião de Aprendizagem "Caos e Harmonia"
Ficha de exploração "Caos e Harmonia"
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