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O destino marca a hora…tic-tac…tic-tac…

 



São belos os países nórdicos. Países como a Suécia, a Noruega, a Islândia e a Finlândia. São belas as suas densas florestas, os seus imensos fiordes e os vastos lagos. É certo que não há tanto sol como na nossa amada pátria. Também não há bons petiscos, todavia, e ainda assim, são belos os países nórdicos. 

 

Para além de belos, os países nórdicos são igualmente desenvolvidos, modernos e inovadores. Já no nosso querido Portugal, o futuro continua adiado, parece que andamos sempre com os ponteiros do relógio atrasados e, por consequência, estamos condenados a permanecer na cauda da Europa.

 

A continuarmos assim, quando eventualmente, num longínquo dia, construírem um novo aeroporto em Lisboa, talvez já seja tarde e já não nos sirva para nada. Nesse infeliz caso, ao invés de batizarem o (eventual) novo aeroporto com o nome de algum ilustre compatriota, talvez não fosse despropositado batizarem-no com a expressão “A cauda da Europa”. Fica a ideia. 

 

É triste perceber que na nossa terra, pouco se inova e tudo se atrasa e adia. Por exemplo, é rara a vez, em que uma consulta médica marcada para as 16 horas, se inicia antes das 17 horas. Se está previsto que um espetáculo musical comece às 21h30, é certo e sabido, que, na melhor das hipóteses, há de começar lá pelas 22h. Não chegamos a horas a lado nenhum, seja a um simples jantar, seja ao desenvolvimento económico e social. As horas nunca nos chegam para fazermos o que temos de fazer. É a nossa sina. 

 

Ao vermos os noticiários dos últimos dias, constatamos que a construção do novo aeroporto de Lisboa, já foi anunciada e sucessivamente adiada por dezoito vezes ao longo das últimas cinco décadas. Constatamos também, que houve igualmente vários anúncios e sucessivos adiamentos na construção de uma linha ferroviária, que ligue Lisboa e o Porto em cerca de uma hora e pouco.

 

Em ocasiões destas, só nos apetece citar o nosso ilustre compatriota Almada Negreiros, poeta d’Orpheu, futurista e tudo: “O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades." Talvez se pudesse dar o nome de Almada Negreiros ao (eventual) novo aeroporto. Fica a ideia. 

 

Mas não é apenas na construção de aeroportos e de linhas férreas, que há adiamentos que nos impedem de chegar à plena modernidade. Também no sector da educação, há algo que continua a ser adiado. 


Sendo certo que algumas das mais antigas e retrógradas políticas educativas foram revertidas, sendo também certo que muitas são as escolas públicas a esforçar-se por implementar projetos inovadores de modo a acertar os ponteiros do relógio com o futuro, apesar de tudo isso, há algo que continua a ser adiado. O que será? Já lá vamos.

 

Os bons resultados desse esforço, são amplamente reconhecidos a nível internacional. Em Espanha, por exemplo, o ensino público português faz contínuos títulos elogiosos nos jornais. Aqui ficam dois: 

 

“La buena escuela portuguesa. Portugal es el único país europeo que mejora continuamente su nivel educativo desde el año 2000” 


https://elpais.com/internacional/2016/12/08/actualidad/1481200752_446018.html 

 

“Portugal se ha convertido en un referente mundial en mejora educativa y pedagogías innovadoras. Es la nueva Finlandia”

 

https://elpais.com/sociedad/2019/04/17/actualidad/1555517362_701463.html

 

Havendo um esforço que muitas escolas públicas portuguesas estão a fazer no sentido de caminharem para a modernidade, e havendo um amplo reconhecimento internacional que os resultados são bastante animadores, qual é então problema? O que continua afinal a ser adiado? 

 

O que continua a ser adiado é a celebração do facto que, em oposição ao que sucede noutros sectores, o ensino português está com os ponteiros acertados com o futuro da educação.

 

O problema é precisamente esse. O que continuamente se adia é essa celebração. Quando ouvimos notícias nas televisões, jornais ou redes sociais sobre o ensino público português, essas notícias são quase sempre negativas. Nunca por nunca, se festeja a inovação e a consequente melhoria do nosso ensino. É uma festa continuamente adiada. 

 

Se passarmos os olhos pelos chats e caixas de comentários dos sites, perfis e blogs dedicados ao ensino, é impossível não sentirmos o clima depressivo que por ali vai. Muitos são os que contribuem para a generalização dessa ideia, de que a escola pública é uma espécie de inferno onde tudo vai de mal a pior.

Todo esse clima negativista tem nefastas consequências. Por um lado. não incentiva a que muitos se juntem a esse esforço em prol do futuro, por outro, desmoraliza quem já o faz.

 

A avaliar por esses fóruns, um dos supostos horrores que se passa nas escolas públicas, um dos mais aterradores, é precisamente aquele que nos vale festejos internacionais, ou seja, os projetos inovadores. 

Parte da comunidade educativa nacional, foge da inovação como o diabo da cruz. A principal razão apresentada para assim ser, relaciona-se com as horas que se perdem com esses projetos. São essas horas subtraídas ao ensino da matéria que angustiam. 


O que essa parte da comunidade educativa nacional ainda não percebeu, é que se no futuro não quisermos ter um Portugal adiado, mas sim um país moderno e desenvolvido, semelhante aos países nórdicos, mas com melhor clima e comida, inevitavelmente, umas quantas das tantas horas para dar a matéria, são coisa que já era. 

 

As angústias com a falta de tempo e as preocupações com as horas subtraídas à matéria, são respeitáveis e compreensíveis. Estamos em tempos de mudanças e as mudança nunca são fáceis nem imediatas. Contudo, quem aqui vos escreve, prefere ver as mudanças numa perspectiva festiva, risonha e esperançosa, ao invés de numa perspectiva dramática e angustiada. 

Se a comunicação social preferisse também celebrar os imensos progressos factuais que o ensino público obteve, provavelmente, muitas dessas angústias e preocupações desapareceriam e olharíamos para o futuro da educação e de tudo o mais, com a certeza que não estávamos atrasados, que iríamos chegar a horas.

 

Por uma vez, quem vos escreve, vai adoptar uma perspectiva dramática. Nada há de mais melodramático de que um bom Bolero. Um bom Bolero, até às pedras da calçada faz chorar. Se mais a mais, for um Bolero mexicano, então de certeza absoluta que mesmo o mais empedernido dos corações se vai desfazer em lágrimas.

 

O Bolero que vos deixamos, fala-nos das horas derradeiras. Dessas horas em que já tudo acabou e só nos resta esperar pelo fim. Acreditemos que não será esse o nosso destino. Acreditemos que temos um futuro pela frente. Um futuro em cujos os ponteiros do relógio estão alinhados com a modernidade educativa e não só. 

 

Deixamo-vos “El reloj” por Los Panchos:

 



 


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