Desde longe que o racional ocidente se fascinou pelas delícias e mistérios do oriente. Lá, tudo é luxo, calma, beleza e langor, e ao cair do dia, aquando dos cintilantes poentes, junto a palácios em ouro tecidos, sentem-se odores das mais raras flores e no ar brilham cristais infinitos.
A voluptuosidade oriental há muito que como um convite ecoa no coração pesado e cansado do ocidente, por isso muitos, sem bem saberem porquê, partiram por partir na ânsia de viverem como o vento e da alma lhes ser leve e em paz dormirem junto a um cais distante.
Um dos primeiros a
partir, terá sido o veneziano Marco Polo (1254-1324), que uma vez regressado a
Veneza, muitos anos após a partida, escreveu um livro no qual descreve os
inacreditáveis esplendores das cidades da China de então e de outros países da
Ásia. Nas suas aventuras por essas terras, foi inclusivamente presente diante
do lendário imperador mongol Cublai Cã.
Muitos outros houve que se aventuraram em viagens de ocidente a oriente pelos séculos afora. Luís Vaz de Camões foi um deles. Também ele saboreou as delícias do oriente. Foi nessas regiões longínquas que conheceu uma jovem chinesa pela qual se enamorou, e que terá perecido num naufrágio no Rio Mekong. Chamava-se Dinamene e Camões dedicou-lhe um sentido soneto, cujas duas primeiras quadras assim rezam:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E
viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento
Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se
consente,
Não te esqueças
daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus
tão puro viste.
O fascínio pelo exotismo oriental teve uma das suas mais curiosas vertentes, numa moda decorativa que percorreu todo o mundo ocidental e que também se fez sentir em Portugal durante os séculos XVIII e XIX.
Nessa época, não havia palácio ou casa senhorial que não tivesse uma ou mais salas de inspiração oriental: papel de parede importado da China, pinturas de “chinoiserie” nas portas, madeiras lacadas, sedas para revestimento, espelhos pintados com motivos orientais e, no caso do Palácio da Ajuda, também uma extensa colecção de porcelanas japonesas e contadores namban.
Um dos mais vistosos
exemplos dessa moda é o Pavilhão Chinês que se situa nos arredores de Berlim,
mais precisamente nos jardins do Palácio Sans-Souci (que traduzido para
português, significa Palácio da Despreocupação).
Como se pode ver na imagem abaixo, as figuras orientais são todas banhadas a ouro, assim como os demais elementos decorativos, fornecendo desse modo um magnificente enquadramento para a prática de deliciosas atividades lúdicas e de recreio.
As viagens para
oriente atingiram o seu auge de popularidade, entre os finais do século XIX e
as primeiras décadas do século XX, com a entrada em funcionamento da linha
férrea do Expresso do Oriente.
Esse luxuoso comboio
atravessava a Europa inteira e deixava os seus viajantes na única cidade do
mundo que se estende por dois continentes, aquela que desde tempos imemoriais
constitui a porta de entrada no oriente: Constantinopla, a antiga Bizâncio,
atual Istambul.
A escritora inglesa Agatha Christie descreveu esse ambiente de aventura, mistério e romance na sua famosíssima novela “Um crime no Expresso do Oriente”.
O poeta nacional
irlandês W.B. Yeats (1865-1939), indo já nos seus sessentas, sonhava com
abandonar a chuvosa, católica e austera Irlanda e partir, obedecendo assim à
voz que lhe prometia uma juventude tardia envolto nos lânguidos esplendores do
oriente. Isso mesmo o escreveu num poema intitulado “Sailing to Byzantium”,
cuja estrofe inicial é “That is no country for old men”.
Como se vai percebendo, para o ocidente, o oriente significa o desejo por um lugar distante daquele onde se anda contrariado, a vida corre apressada e sem tempo para se degustar plenamente de cada momento.
A oriente, algo de tão
prosaico como beber uma chávena de chá, é ritualizado numa lenta e delicada
cerimónia onde os mais pequenos gestos são executados de modo a que cada
instante seja vivido na sua plenitude.
Viver um momento na sua plenitude, significa saber como lentamente o degustar, mas significa também aceitar a delicadeza da sua fugacidade.
Aceitar que o instante
é belo e delicado, mas também fugaz como uma flor de cerejeira.
A oriente sabe-se que
em cada Yin há um Yang e vice-versa, ou seja, que a vida faz-se de reinvenção e
metamorfose, e que a cada gesto, por mais belo, lento e delicado que seja,
segue-se um novo gesto. Nada há de vivo que permaneça estanque, igual a si
mesmo e imune a qualquer mudança ou transformação. A oriente sabe-se, tal e
qual como Camões o sabia, que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.
Será talvez por
degustarem pausadamente a beleza de cada momento, e por simultaneamente
aceitarem as transformações, que as gentes orientais são mais serenas e sábias.
Nos templos do Japão
existem jardins de pedras, que os monges Zen por anos e anos demoradamente
contemplam. Ao deterem o olhar nas pedras pelas quais milénios passaram e nas
marcas visíveis dessa passagem, os monges Zen aprendem uma lição fundamental:
nem as mais duras e sólidas matérias permanecem inalteráveis.
A oriente o consumo de antidepressivos é relativamente baixo. Já Portugal, no presente ano de 2022, conseguiu a duvidosa façanha de passar de terceiro para segundo lugar na lista de países do mundo em que “per capita”, mais antidepressivos se consomem.
Entre as classes profissionais que em Portugal mais recorrem aos antidepressivos, encontra-se a classe docente. Independentemente das prováveis causas para esta situação, ou seja, o excesso de trabalho, as carreiras desvalorizadas e a indisciplina, outra causa para assim ser, terá certamente a ver com a angústia provocada por um mundo em constante mudança que entra pela escola adentro e exige soluções distintas, incertas e que se vão aplicando por tentativa e erro.
É difícil e incerto,
mas antes isso do que a estagnação. Seja esta a estagnação a céu aberto que são
as escolas em que os alunos não se interessam por nada, faltam constantemente,
são indisciplinados e pouco ou nada aprendem, seja esta a estagnação disfarçada
na qual os alunos alcançam excelentes resultados nos testes e exames, estão
muito bem preparados, mas possuem poucas ou nenhumas competências para o mundo
que os espera.
Por se ter arriscado a fazer uma audaz e nem sempre compreendida aposta em novas pedagogias, por ter ido por tentativa e erro, um país oriental como a Coreia do Sul, transformou-se no espaço de uma geração numa potência à escala global em áreas tão diversas como a economia, a tecnologia ou a cultura, enquanto isso, Portugal declina, vai lambendo as feridas e sonhando com o mundo igual ao que era.
Nós quisemos dar a saber e a sentir aos nossos alunos, um pouco do que é o oriente. É esse guião de aprendizagem que aqui vos deixamos:
Guião de aprendizagem "Portugal no Oriente e o Oriente em Portugal"
https://drive.google.com/file/d/1pJqXHYJEkpwtu4OpekprnDE-oNxLdDZ9/view?usp=sharing
Ficha de exploração "Portugal no Oriente e o Oriente em Portugal"
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