Em Portugal, o
ambiente político está particularmente tumultuoso e o setor da educação não
escapou a essa crispação geral. Consequentemente, ao dia de hoje, sentimos a
necessidade de vos falar de política e de tomar uma posição.
Não queremos falar nem de sindicatos, nem do ministério, nem de nada nem de ninguém em concreto, exceto de um dos maiores mestres da política de sempre: Winston Churchill.
Seja quem for o político que fale, seja com quem for que falemos de política na rua ou à mesa do café, independentemente do conteúdo e da justeza do que se disser, o nosso julgamento baseia-se primeiramente no tom com que é dito o que se diz.
Quando o tom é demasiado assertivo ou de exaltação, sentimos instintivamente o odor do fanatismo, sendo que, esse não é um cheiro que nos agrade. A nosso ver, mesmo as mais justas e nobres causas, quando são defendidas pela boca de certas pessoas, ou seja, por fanáticos, perdem imediatamente parte da sua justeza e nobreza.
Entendemos o que é um fanático conforme Winston Churchill o definiu: “Fanático é aquele que não consegue mudar de opinião e não aceita mudar de assunto”.
Um fanático, no
fundo, é uma pessoa maçadora que, diga-se o que se lhe disser, fica sempre na
mesma. Junte-se a isso, que um fanático, mal nos apanha à mão de semear,
mói-nos constantemente o juízo com a mesma conversa. É uma espécie de emplastro
falante.
Fanático pode
ser qualquer um e não apenas alguém à margem da sociedade. Há fanáticos nas
nossas famílias, entre os nossos colegas, nos vizinhos e até nos nossos amigos.
Um fanático não
contempla sequer a possibilidade, de que talvez nada na vida seja pão-pão
queijo-queijo, ou seja, que há sempre nuances e perspectivas distintas. Como se
isso já não fosse o bastante, um fanático, quer por força convencer-nos das
suas razões.
Há os fanáticos da saúde que nos enchem a paciência se por acaso nos apanham a comer um belo cozido à portuguesa. Há os fanáticos da ecologia que têm uma apoplexia caso nos vejam com um saco de plástico não reutilizável na mão. Há os fanáticos do futebol com os quais nem vale pena trocar duas frases para discutir se foi ou não foi penálti. Há os fanáticos do politicamente correto, que são uma espécie de fetichistas das palavras e acreditam piamente que a substituição de um determinado termo por outro equivalente vai mudar o mundo. E há ainda, os fanáticos da moral e dos bons costumes, que gostariam de nos impor os seus castos e austeros hábitos e anseiam pelo regresso da Santa Inquisição.
A História está
cheia de nobres e pias causas que, ao serem defendidas por fanáticos, se
tornaram justificação para assassinatos, julgamentos sumários, linchamentos e
execuções em massa. O problema quase nunca é da justeza das causas em si, é
mais de quando os fanáticos delas se apropriam.
Em síntese,
qualquer assunto serve a um fanático para chatear quem está à sua volta,
contudo, quando se trata de política, o caso pia mais fino. Isto porque, quando
o tema é político, em certas circunstâncias, o fanático consegue facilmente
arregimentar as gentes.
Até mesmo
pessoas que habitualmente são calmas e sensatas, acabam por cair no fanatismo
em determinados contextos. Isto acontece quando as pessoas estão chateadas e se
sentem injustiçadas. Quando assim sucede, as gentes acabam por se deixar
liderar por alguém, um fanático, que em melhores circunstâncias seria apenas um
chato.
Disse uma vez
Otto Von Bismarck, que a política é a arte do possível. Para o fanático esta frase
é inaceitável. O fanático não consegue compreender, que mesmo as coisas boas e
desejáveis, por vezes, ou não são possíveis de se realizar, ou só são
realizáveis mais tarde e/ou em parte. Um fanático é como uma criança mimada,
quer tudo, agora e já, caso contrário, faz birra e da grossa.
Por outro lado,
um fanático é um ingénuo ignorante, pois crê que em política, todas as palavras
ditas ou escritas devem ser tomadas como a mais pura das verdades. Um fanático
quer acreditar, que uma promessa política vai ser escrupulosamente cumprida e
que num acordo escrito, as palavras estão gravadas na pedra. Grande equívoco.
Desde os tempos
da ágora ateniense ou do fórum romano, que qualquer pessoa minimamente educada,
sabe que a linguagem política pouco ou nada tem a ver com a mais pura verdade e
jamais fica gravada na pedra. A linguagem política tem sobretudo que ver com a
retórica. Quem não sabe isto, não sabe nada.
Churchill
sabia-o, está claro: “A política é a habilidade de prever o que vai
acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem e no ano que vem. E depois
ter a habilidade de explicar por que nada daquilo aconteceu.”
Há fanáticos que
conhecem a arte da retórica, mas isso de nada lhes vale, pois que a sua única
metodologia discursiva, consiste num tom firme e volumoso, que rapidamente
extravasa para o exaltado.
A nós, há
décadas atrás, quando éramos crianças, foi-nos dado a ver os filmes do Charlie
Chaplin, do Charlot. Razão pela qual, ficámos vacinados contra o uso de certos
tons de voz em política. Para quem eventualmente não tenha tido a mesma vacina,
aqui fica um excerto:
Mas não falemos só de fanáticos, falemos também de inabilidade e de falta de tacto. Recorramos novamente a Churchill, que um dia nos disse que o tacto político é a “capacidade de dizer a alguém para ir para o Inferno de forma a que este fique entusiasmado com a ideia de fazer essa viagem”.
Assim sendo, se
algum dirigente político quer enviar alguém para o inferno, tem de se preparar
muito bem. Tem que ter a sua retórica afinadíssima, caso contrário, só cria
chatices.
Quando de um lado temos um tom fanático que se aproveita de justas reivindicações, e do outro temos falta de tacto e inabilidade, o resultado só pode ser o contrário daquilo que em inglês se designa como um “match made in heaven”.
Contudo, na
política como na vida, há “matches” que, por pior que corram e menos “in
heaven” sejam feitos, são ainda assim indissolúveis. É o caso do “match” entre
o Ministério da Educação e os sindicatos.
Nesse como
noutros casos, perante a indissolubilidade, resta-nos um longo percurso de
conflitualidade pela frente ou, na melhor das hipóteses, de indiferença mútua.
Aparentemente, é para esse estado de coisas que esse “match not made in heaven”
está a levar a escola pública em Portugal. É pena.
Para terminar,
citamos novamente Churchill, agora a propósito de “matches”. Lady Astor, a
primeira mulher no Parlamento britânico, estava constantemente em conflito com
Winston Churchill. Durante um debate, Lady Astor declarou que, se fosse sua
esposa, poria veneno no seu chá. Ao que Churchill respondeu: “Minha
Senhora, se eu fosse seu marido, beberia”.
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