Hoje vamos
contar-vos uma história do tempo em que os animais falavam. Para que ninguém
fique desiludido, desde já vos avisamos que a carochinha não entra na história.
Ainda assim, se não tiverem nada de melhor para fazer, vale a pena
acompanharem-nos nesta viagem pelo reino da imaginação e da fantasia.
Comecemos por imaginar um país. Não um país qualquer, mas sim um em específico. Qual? Bom, isso não vos vamos dizer, que é segredo. Deixamos-vos uma pista: é um país que se situa numa península, cujo nome deriva de um antigo povo pré-romano, mais concretamente, dos Iberos.
Já adivinharam?
Não? Vá lá então mais uma pista: é um país que fica nessa península mas que não
se chama Espanha. Não estão ver? Não faz mal, sigam-nos na mesma.
Imaginemos que esse país de faz-de-conta tem uma capital. Chamemos-lhe, à sua capital, Alfaçona, que é um lindo nome e assenta bem. Os habitantes dessa capital serão portanto, os alfações, que também é um nome bonito.
Como em todas as
outras cidades das histórias de encantar, há um palácio onde vive quem se
encarrega de gerir e administrar os destinos do local. Em Alfaçona também há,
só que, quem vive no palácio não são nem reis, nem rainhas, nem sequer príncipes
ou princesas. Quem lá vive, gere e administra a cidade de Alfaçona são os sete
anões e os três pouquinhos, acompanhados pelos seus milhares de fiéis
funcionários e por demais serviçais. Todos vivem no belíssimo Palácio Municipal
de Alfaçona, a sede da autarquia local.
Imaginemos mais.
Imaginemos que estamos há muitos, muitos anos atrás, digamos num qualquer ano
da graça da primeira década do século XXI. Dois mil e cinco, dois mil e seis ou um ano próximo desses.
Nessa distante
época, os alfações tinham muitas dificuldades em estacionar os seus coches e
carruagens. Quando os queriam estacionar, faziam como fazem as crianças quando
perdem um dente, só que ao invés de colocarem uma moeda debaixo da almofada e
aparecer uma fada, punham uma moeda na mão de uns outros seres mágicos. Esses
seres eram uma espécie de Harry Potters, pois apareciam sempre não se sabe
donde. Os alfações chamavam-lhes “Os arrumadores”.
“Os arrumadores” não tinham propriamente uma varinha mágica, mas tinham algo de equivalente, ou seja, um objeto igualmente metálico e pontiagudo que servia para fazerem os seus truques. Não era um objeto tão espectacular e marcante que conseguisse transformar abóboras em coches ou em carruagens, mas de algum modo também deixava as suas marcas, sobretudo, se não lhes dessem uma moeda.
Na verdade, eram mais riscos do que marcas, mas enfim, isso são meros pormenores.
Por assim ser, a
autarquia de Alfaçona decidiu construir parques subterrâneos para que os
alfações pudessem tranquilamente parquear as suas viaturas sem a ajuda dos
Harry Potters ou, como outrora lhes chamavam, “Os arrumadores”.
Para além dos parques subterrâneos, os habitantes de Alfaçona passaram ainda a ter a ajuda da Fada Ariel…ou será da Fada Emel… bom, ou é uma ou é outra.
Em qualquer dos casos, é precisamente com a construção de um desses parques que se inicia a história que vos queremos contar.
O parque foi
construído perto de uma escola. Os setes anões e os três porquinhos mandaram
que se remexem enormes quantidades de terra e se abrisse um grande buraco,
uma gruta que parecia não ter fim.
Tudo parecia
correr bem, mas, passado pouco tempo, nas paredes das salas da escola que
ficava perto, começaram a aparecer grandes fendas das quais pareciam sair
dragões. O chão, parecia a pouco e pouco, ir-se abrindo para engolir quem quer que nele pisasse.
Imediatamente se
percebeu que a bruxa má tinha feito das suas, tinha lançado um feitiço sobre a
escola.
A autarquia de
Alfaçona reagiu prontamente, ou seja, passados uns bons anos. A autarquia é uma
espécie de Bela Adormecida, demora um certo tempo a acordar para as situações.
Imaginemos então que, passados esses bons anos, lá para 2015, vieram finalmente engenheiros, geólogos, os sete anões e os três porquinhos ver o que se passava na escola.
Observaram,
fotografaram, tomaram notas e conferenciaram. Ficaram de fazer um relatório
sobre o que se passava e, nesse entretanto, decidiram que se interditava as
salas que ameaçavam ruir e tudo e todos arrastar para o fundo dos infernos.
E assim foi, as
salas ficaram interditadas e fechadas durante anos, tal e qual como se fossem
um local amaldiçoado.
Corria 2017,
quando a autarquia de Alfaçona decide então arrancar com obras para renovar
toda a escola. Determina um prazo para o fazer. Todavia, desta vez foi o lobo
mau que se pôs a soprar e partes do edifício vieram abaixo durante a própria
obra.
Essas derrocadas, que muito
naturalmente atrapalharam o decorrer da obra, fazendo com que o prazo inicial se
prolongasse por mais uns quantos anos do que o previsto. Maldito lobo mau.
Foi finalmente no ano da graça de 2022, que a obra terminou e a escola ficou renovada. O problema das salas amaldiçoadas, as que ameaçavam ruir, foi resolvido e todos viveram felizes para sempre.
Só que não.
A história não acabou aqui, teve um final cómico.
Já os primeiros
meses de 2023 tinham passado, quando aparece na escola um emissário
expressamente enviado pelo Palácio Municipal de Alfaçona. Trazia uma missiva
datada de 2015, a saber, um relatório!
Surpreendentemente,
no já longínquo ano de 2015, os engenheiros, os geólogos, os sete anões e os três porquinhos, produziram um relatório sobre as salas amaldiçoadas que ameaçavam ruir e sobre
como agir.
O relatório passeou durante um longo tempo pelos corredores e salões do palácio, andou de mão em mão e oito anos depois, em 2023, chegou ao seu destino final, ao departamento do Palácio Municipal de Alfaçona encarregue da manutenção dos edifícios escolares.
Departamento esse, que prontamente enviou o já referido
emissário para verificar a evolução da situação desde 2015 para cá.
Chegado ao local, o emissário ficou absolutamente pasmado ao verificar que neste entretanto tinha havido obras e que, por consequência, o problema tinha evoluído de um modo muito positivo. Até ver, estava resolvido.
Mais pasmado
ficou ainda, por saber que essas obras tinham sido ordenadas por um outro
departamento do próprio Palácio Municipal, local onde ele há muito é
funcionário. Nem ele, nem ninguém no seu departamento, sabia de tal coisa.
Foi-se embora muito contente por tudo ter acabado em bem e os problemas se terem solucionado.
E agora sim,
termina a história. Alertamos os nossos leitores para que qualquer semelhança
entre a realidade e esta história ser pura coincidência.
Moral da história: a Municipalização é coisa da imaginação!
O que propomos é que, quando alguém pensar em municipalização, o faça ao som desta melodia, ’cause it’s cool!
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