Normalmente, quando se descrevem escolas situadas em bairros mais desfavorecidos, fala-se da indisciplina dos alunos, da violência, da falta de assiduidade e de condições materiais e humanas.
Por vezes, quando se quer apimentar a descrição, acrescenta-se ainda, que nessas escolas, durante os intervalos, até se vê alunos a passear pelo telhado da escola.
Alunos a passear pelo telhado da escola, é uma grande chatice. Aconteceu por exemplo, em Mafra em 2021, conforme foi noticiado pelo jornal local:
Quanto à
indisciplina, à violência, à falta de assiduidade e de condições materiais e
humanas, todos estamos de acordo, são males que urge erradicar das escolas. Já
quanto a nos intervalos haver alunos a passear pelo telhado…
Lisboa desperdiçou durante décadas o topo dos seus edifícios. Foi preciso vir um “boom” turístico, para que finalmente alguém se lembrasse, que estes espaços poderiam perfeitamente ser aproveitados para se viver, conviver, relaxar ou simplesmente estar.
Há poucas cidades no mundo com vistas tão arejadas e desafogadas como Lisboa. Mais, há poucas cidades com uma luz tão única e com um imenso estuário de rio por defronte. Mais ainda, há poucas cidades em que o casario se estenda por tantas colinas que sobem e descem e proporcione tão lindas vistas.
Por todas estas
razões, e muitas outras, era de estranhar que não se aproveitasse o topo dos
edifícios para neles instalar casas, bares, restaurantes e esplanadas.
Nós não somos
guias turísticos, mas ainda assim, podemos aconselhar-vos alguns locais
agradáveis para lá do alto olhar Lisboa, o Tejo e tudo.
Não vos
aconselharemos “Rooftops” de hotéis nem nada dessas coisas a atirar para o
fino. Aconselhamos-vos tão somente três locais simples e a todos acessíveis,
como por exemplo, o “Go a Lisboa”, que fica na Calçada do Livramento, ali para
os lados da Tapada das Necessidades. Como já terão adivinhado pelo nome, o “Go
a Lisboa” serve comida goesa.
Um outro lugar
que aconselhamos é o “Park”. Fica no sexto piso do parque de estacionamento
mais célebre da cidade. O som ambiente do “Park” faz-se de peculiares
sonoridades urbanas, ou seja, uma mistura de hip-hop com linguagens mais
tropicais. Sonoridades tão peculiares, que se criou uma editora discográfica
chamada Parkbeat Records para os editar. Fica na Calçada do Combro.
Por fim,
aconselhamos ainda a esplanada “Miradouro das Portas do Sol”, onde se pode
desfrutar de pufs, da vista do rio e de Alfama. Esplanada que está integrada
num edifício da premiada dupla de arquitetos Aires Mateus.
Mas deixemos os bares, os restaurantes e as esplanadas. Voltemos às escolas. Uma das mais belas escolas francesas, foi inaugurada em 1955 na cidade de Marselha. Nessa escola, o recreio ficava no topo do décimo sétimo andar de um edifício projetado pelo mais mítico arquiteto do século XX, Le Corbusier. Ao edifício foi dado o nome de La Cité Radieuse.
Hoje em dia, o
edifício está classificado pela UNESCO como património mundial.
Nesse tempo, em
meados do século XX, vivia-se um período de grande optimismo, acreditava-se que
o céu era o futuro e em breve iria haver viagens interplanetárias e deslocações
quotidianas em veículos aeroespaciais. O recreio de uma escola num telhado, perto
do céu, estava em harmonia com o espírito da época.
Passadas umas quantas décadas, já bem entrados no século XXI, ninguém é assim tão optimista relativamente ao futuro. Muito pelo contrário, ao invés de quotidianas viagens aeroespaciais, temos quotidianas notícias que nos anunciam múltiplas catástrofes económicas, sociais e climáticas.
É por isso com
alegria, que soubemos que na China, na cidade de Fengxi, foi inaugurada uma
escola primária cujo recreio é no telhado, mais perto do céu. É um sinal de esperança
no futuro.
Aqui fica a
ideia, pode ser que sirva de inspiração para uma requalificação das escolas,
quer para a autarquia de Lisboa, quer para as de outras localidades do país.
Tão bom seria que nas escolas, professores e alunos pudessem subir ao telhado e
desfrutarem de vistas largas e desafogadas. Seria um sinal de esperança no
futuro.
Terminamos com
um clássico dos Led Zepellin, Stairways to Heaven:
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