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Havemos de ir a Viena

 


É com imensa tristeza e desilusão que nos dias que correm olhamos para a televisão ou lemos os jornais, e vemos que as notícias são sempre as mesmas. Horas e dias do mesmo, sem que nada mude, nem nada aconteça. Nós gostamos de algumas coisas em Portugal, de muitas outras não.

Não gostamos sobretudo da pasmaceira e do conformismo nacional. Desse manso vegetar em que tudo se mantém sempre igual, mesmo quando já não faz qualquer sentido que assim seja. Nós gostaríamos que de quando em vez os astros se alinhassem e alguém arriscasse coisas diferentes, talvez assim algo mudasse para melhor.

 

O problema é que o alinhamento dos astros é coisa rara de acontecer.

 

Por vezes há duas pessoas cujos astros alinham. Outras vezes há uma equipa inteira, como por exemplo no futebol ou em qualquer outro desporto coletivo. Há também ocasiões em que são todos os elementos de uma orquestra que estão alinhados, mais raras vezes, surge um tempo e uma cidade onde os astros a muitos alinham, para tudo mudar e revolucionar.

Por isto ou por aquilo, ou então por uma qualquer espécie de magia, surgem repentinamente muitos que se sintonizam e se sincronizam para desfazer e refazer o que estava feito. Há em tais ocasiões uma tal quantidade de mudanças num mesmo tempo e local, que visto à distância, parece quase incrível que alguma vez tal tenha sucedido.

 

É destes últimos alinhamentos dos astros que hoje vos vamos falar, ou seja, desses alinhamentos que envolvem um tempo e uma cidade em que muitos querem desfazer e refazer o já feito.

Era bom que em Portugal houvesse tais alinhamentos. Mas essa conversa fica para um outro dia. Por agora, viajaremos para um tempo e para um local, onde sem sombra de dúvida, efetivamente esse alinhamento se deu. Daí resultaram grandes coisas que, mesmo que incompreendidas à época, não foram em vão e perduram até aos nossos dias.

Mais do que isso, essas grandes coisas, não só perduraram, como foram o embrião de quem hoje somos e de como vivemos.

 

Vamos a Viena. O tempo é entre as derradeiras décadas do século XIX e as primeiras do século XX. Viena era então uma das mais cosmopolitas cidades do mundo, capital do imenso Império Austro-húngaro, do qual faziam parte povos como os austríacos e os húngaros, claro está, mas também checos, eslovacos, eslovenos, bósnios, croatas, italianos (de Veneza), polacos, ucranianos e romenos.

 

Ah…Viena…a doce Viena de Áustria de Sissi, a jovem imperatriz, das Sacher Torte, das valsas, das melodias de Mozart, dos Biergartens, dos requintados cafés e dos Schnapps… a saudosa Viena de outrora… onde a vida era bela, deliciosamente bela.


Foi nessa doce Viena, que subitamente os astros se alinharam e uma série de visionários entraram em cena com a intenção de tudo mudar. Prometiam estragar a dança e amargar a festa, mas não por birra e sim porque queriam uma outra vida. Uma outra vida? Mas para quê? Questionavam os que nunca querem que nada mude.

 

Estavam os conformistas tão bem entre valsas, desfiles de imperiais carruagens, operetas e jovens sissis, e vindos sabe-se lá donde, aparecem-lhes uma enormidade de desmancha-prazeres a dizer que tudo aquilo era decadente, que urgia ser moderno, que o mundo tinha mudado, que já não era como tinha sido e que daí para a frente nada seria como antes.

 

Um dos primeiro a amargar os tradicionais bailes de Viena foi o Doutor Sigmund, ou seja, Freud.

Freud inventou a psicologia praticamente do nada. Estudou os mitos antigos, os gregos, os egípcios e os babilónios e, abracadabra, de repente, passámos a ter complexos, traumas, desejos subconscientes, neuroses e o mais que se quiser.

Naquele tempo, as damas “d’un certain âge” entretinham-se andando pelos bailes de Viena a suspirar pudicamente por jovens tenentes, enquanto abanavam delicadamente os seus leques. Acabadas as danças, uma vez recolhidas aos seus aposentos, tinham achaques, dores de cabeça e fastio. Ora estavam melancólicas, ora histéricas.

Nisto surge abruptamente o Doutor Sigmund e diz-lhes que as suas indisposições não se curam nem com chás de camomila, nem com repouso. Diz-lhes que os seus mal-estares tinham tudo que ver com a insatisfação causada por desejos subconscientes.

Foi um escândalo. Insatisfação de desejos subconscientes? Então isso era lá coisa que se dissesse a uma senhora! Ia uma pessoa ao médico para se tratar, e saía de lá com uma destas. Arre, que era demais.

 

O certo é que após o escândalo inicial, a coisa pegou e tudo mudou. Passado um século de em Viena se ter inventado a psicologia, hoje em dia já ninguém passa sem um traumazito ou uma boa neurose. Já não são só as damas “d’un certain âge”. Desde crianças a jovens, de homens a mulheres, de velhos a velhas, já não há quem não tenha ou de modo permanente, ou num momento ou outro, os seus problemas psicológicos.

 

O que seria de nós se o Doutor Sigmund não se tivesse lembrado de estudar os mitos antigos e de arranjar uma série de terapias e tratamentos para curar as nossas dores de alma, andávamos todos por aí aos caídos, era o que era. Nem a bailar nos safávamos.




Foi igualmente nessa época, nessa mesma cidade de Viena onde os astros se alinharam, que Robert Musil escreveu o romance “O homem sem qualidades”. O que esse romance tem de extraordinário, é que ao invés de contar a história de um herói como Ulisses, de um apaixonado como Romeu ou de um idealista como D. Quixote, conta a história de um homem inteligente e lúcido, mas perfeitamente vulgar. Um homem que chegado a uma determinada idade, não sabe como agir e o que fazer da sua vida.

 

Em “O homem sem qualidades” não temos um personagem que se aventura por locais distantes e exóticos, nem temos alguém que é abalado pela intensidade de uma grande paixão ou que luta afincadamente por um ideal, nada disso. Ulrich é um homem que tranquilamente seguiu a sua vida e foi fazendo com plena consciência, as escolhas que considerava melhores, quer as pessoais, quer as profissionais. Todavia, olha agora para a vida e não percebe qual o sentido de ter chegado aonde chegou.

As adequadas e sensatas escolhas que fez ao longo da vida, feitas as contas, pouco mais lhe trouxeram do que uma sensação de impasse e de falta de sentido. Percebe com súbita agudeza, que poderia ter feito escolhas completamente diferentes, ou seja, que havia outras possibilidades. Como se diz no livro, “No fundo, poucos sabem, no meio da sua vida, como se tornaram aquilo que são.”

 

Se Freud nos deixou em herança o subconsciente, traumas e neuroses, Robert Musil deixou-nos um outro legado: a crise da meia-idade (muito embora esta expressão só tenha surgido umas décadas mais tarde). 

O que seria da nossa economia sem a crise da meia-idade e sem a aguda consciência de que as escolhas que fomos fazendo ao longo da vida, poderiam perfeitamente ter sido outras?

Nem a indústria automóvel dava vazão aos carros desportivos, nem os ginásios prosperavam, nem as lojas da moda vendiam o mesmo, nem os advogados tinham tais quantidades de trabalho, nem os motéis esgotariam, nem os cabeleireiros se encheriam, nem as empresas de telecomunicações tanto lucrariam e até a TAP sofreria. 

Não tivesse Robert Musil posto no centro da sua obra literária o vazio, as hesitações, as dúvidas e as angústias que sentimos perante as inúmeras possibilidades que o destino nos oferece, e se calhar jamais saberíamos que não estamos condenados a ser o que sempre fomos. Que mais não seja, podemos ir experimentar comida tailandesa, não precisa de ser sempre bacalhau com batatas ou à Gomes de Sá, dia sim, dia não.



Vamos agora falar-vos de mais um, a quem os astros alinharam, nessa Viena de então. Também esse foi inicialmente repudiado, também esse tudo mudou e também esse perdurou. Falamos-vos agora do arquiteto Adolf Loos.

 

Na Viena imperial, todos os edifícios eram decorados com grandiosos e vistosos ornamentos. Muitos assemelhavam-se a autênticos bolos de noiva. É então que Loos decide escrever um ensaio intitulado “Ornamento e crime”, no qual criticava o uso e abuso da ornamentação. Na sua perspetiva, a arquitetura tinha de ser moderna, útil e prática, não ornamentada.

Deu-se então a construção de um edifício por si projetado, mesmo na praça que fica em frente ao palácio imperial. O Imperador espreitava pela janela e dava de caras com um edifico rectilíneo, prático e moderno, algo que fazia com que imediatamente fechasse os cortinados e recolhesse horrorizado ao interior dos seus aposentos. 

Houve rixas e pancadaria, que segundo os jornais da época chegaram a envolver perto de duas mil pessoas. Suspenderam-se as obras, revogaram-se licenças de construção e houve trinta por uma linha. No fim, o edifício lá acabou por ser construído.

 

É uma das obras fundadoras da arquitetura moderna e influenciou decisivamente gente, como por exemplo, Siza Vieira. As suas linhas e formas influenciaram também de um modo decisivo, muitos dos arquitetos que projetaram os altos arranha-céus posteriormente erguidos em cidades como Chicago ou Nova Iorque.

Adolf Loos foi também quem pela primeira vez pensou a divisão dos espaços interiores das casas de habitação de acordo com critérios de utilidade e de praticidade. Em síntese, foi quem pensou a forma como quase todos hoje vivemos e habitamos as nossas casas, excepção feita àqueles que vivam em antigos palácios ou palacetes herdados dos tetravós.

 



Poderíamos contar-vos muito mais como nesse tempo em Viena os astros se alinharam. Poderíamos falar-vos por exemplo daqueles que revolucionaram a música clássica, primeiro Gustav Mahler e anos depois Arnold Schoenberg, Anton Webern e Alban Berg. Também no caso de todos estes, o escândalo foi imenso: que aquilo não era música, que era uma autêntica chinfrineira e rebébéu pardais ao ninho.

 

Deixamos-vos o Adagietto da Quinta Sinfonia de Gustav Mahler. Quanto a nós, é uma das mais belas e tristes melodias alguma vez compostas, mas cada um ouça e julgue por si:

 


Poderíamos ainda falar-vos de arte, do pintor Egon Schiele. A infância de Egon foi perturbada pelos seus fracassos escolares dos quais nunca recuperou totalmente. Em criança passava muitas horas a desenhar, mas o seu pai via-o como futuro engenheiro e, irritado com os seus esboços, chegou a queimá-los. Situação que se repetiria mais tarde na vida, quando julgado em tribunal por as suas obras serem consideradas pornográficas. Um juiz queimou parte dos seus desenhos. Cumpriu pena de prisão e acabou por morrer cedo.

 

Atualmente as suas obras fazem parte dos melhores museus de Viena e a sua vida serviu de inspiração para vários filmes e romances.

 


Todos já percebemos que nesses poucos anos, por um qualquer alinhamento dos astros, apareceram em Viena uns quantos que mudaram o mundo por muitos e muitos anos. Desde essa época até aos dias de hoje muito sucedeu, inclusivamente, o secular e poderoso Império Austro-húngaro já nem sequer existe, contudo, as novas ideias desses tantos, perduram e continuam entre nós, saibamos também nós deixar aos vindouros novas ideias.

Na foto de capa deste texto, “O Beijo”, obra de Gustav Klimt de 1907-1908. Havemos de ir a Viena para a ver.


Terminamos com Amália Rodrigues e o tema “Havemos de ir a Viana”, neste caso, do castelo:




 





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