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António um rapaz de Lisboa. E do Vicente, ninguém diz nada?




É verdade! Há quem acredite ser António o padroeiro de Lisboa, mas desde 1173, vejam lá há que anos, que é Vicente o santo padroeiro da cidade. António era um rapaz de Lisboa, Vicente transformou-se num. São Vicente foi um mártir espanhol que viveu entre os séculos III e IV, mas enquanto vivo nunca pôs os pés perto da fronteira com Portugal (que a bem dizer, ainda não existia), quanto mais em Lisboa (que existia, mas se chamava Olissipo).

 

Reza a lenda, que São Vicente ter-se-á recusado a adorar os deuses do Império Romano e a renunciar à fé cristã. Consequentemente, foi condenado à morte. Consta que o seu corpo terá sido lançado ao mar, mas, acompanhado por dois corvos, voltou a terra devolvido pelas marés: milagre.

 

Centenas de anos depois, por volta do século VIII, quando os mouros ocuparam a Península Ibérica, os cristãos colocaram o corpo de São Vicente num barco e lançaram-no à deriva no mar, na esperança que, por milagre, isso os salvasse. Não os salvou. No entanto, o corpo do santo veio dar ao Cabo de Sagres, atualmente conhecido como o Cabo de São Vicente.

 

No século XII, vá-se lá saber porquê, D. Afonso Henriques prometeu recuperar os restos mortais de São Vicente logo que conquistasse Lisboa aos mouros. Conquistou-a em 1147. Só em 1173 cumpriu a promessa, demorou uns aninhos. O corpo de São Vicente foi então transportado para Lisboa de barco. Aquando da entrada no Tejo, na chegada à cidade, acompanhavam-no dois corvos: milagre.

 

António tem direito a apadrinhar casamentos, a manjericos, a arraiais, a marchas populares e a feriado municipal, Vicente é o santo padroeiro, mas não tem direito a nada, exceto aos dois corvos no brasão da cidade. Ninguém sabe sequer em que data se comemora o seu dia. É a 22 de janeiro.


Tal com São Vicente, há mais quem faça parte da lenda de Lisboa e não seja devidamente celebrado. Uns são mais conhecidos, outros menos. Em vida tiveram de lutar contra o imobilismo do seu tempo, no fim acabariam por receber prémios e distinções e os seus nomes foram atribuídos a ruas e a escolas. Apesar dessas vãs honrarias, aquilo que realmente importa, é que Lisboa não vive nem celebra as suas obras tanto quanto devia.

 

É desses e das suas obras que hoje, dia de Santo António, vos queremos falar. Escolhemos apenas uns quantos: quatro. E porquê quatro? Porque sim. Escolhemos quatro cujas obras estão vivas e de que muito gostamos, todos autênticos rapazes de Lisboa.

 

Não há quem não saiba quem foram Eça de Queiroz e Fernando Pessoa e não conheça os seus lugares em Lisboa: o Chiado, a Brasileira, o Ramalhete e tudo isso. Poucos saberão quem foi Nuno Bragança e que lugares de Lisboa calcorreou.

 

Nuno Bragança nasceu no seio da mais alta aristocracia portuguesa, era o 6.º neto do Rei D. Pedro II. Morreu em 1985 com apenas 55 anos, depois de décadas de má vida. Nesse entretanto, entre nascer e morrer, em 1969, escreveu um romance absolutamente excepcional: A Noite e o Riso.

 

A Lisboa de “A Noite e o Riso” é a Lisboa suja dos bares do Cais do Sodré e dos bordéis do Intendente. Lugares onde homens desencantados iam em busca de mulheres fáceis e de uma noite de encanto. É uma Lisboa de copos, de bebedeiras e de gargalhadas, como se os copos fossem o único remédio para se conseguir viver e o riso o derradeiro método para se manter a lucidez face ao absurdo em nosso redor.

 

A escrita de Nuno Bragança é única e move-se na órbita da provocação e do desafio. Não é difícil de adivinhar, que houve muito quem à época não gostasse de tais audácias. A sua atualidade mantém-se intacta, continua a provocar e a desafiar, coisas que tanta falta fazem no combate a dois males que entre nós teimam em persistir: a obediência à gramática convencional e o puritanismo.

Deixamo-vos uma passagem:

 

“Orçava a minha idade pelos seis anos quando foi mobilizada para cuidar da minha Moral a tia de mais vetusto entusiasmo que encontrar se pode. Tendo aprendido que coçar-se entre as pernas é sintoma de masculinidade (porque não havia macho humano adulto por mim visto que não o fizesse, pensativamente) lancei dedos a tal gesto para impressionar a minha tia, mas ela não gostou”

 

Fernando Lopes era um outro rapaz de Lisboa. Ainda há poucos anos, já envelhecido, o víamos pairar solitariamente pelos cafés da Avenida de Roma, epicentro de uma geração que na década de 60 tinha inventado um novo cinema português.

 

A Lisboa de Fernando Lopes era a das avenidas novas, mas era também a do bairro da Mouraria. Terá sido aí que conheceu Belarmino, um antigo campeão de boxe, que teve os seus momentos de glória, mas perdeu-se. Vive agora de memórias.

“Os engenheiros não vão para o boxe, só homens como eu, vadios”, diz Belarmino no filme documental que Fernando Lopes sobre ele realizou em 1964.

 

Belarmino é um homem rude, mas que frequenta os locais noturnos da moda conjuntamente com a nata da sociedade. Belarmino diz no filme que queria ser treinador e fazer campeões, porque tinha categoria para isso, “Assim a vida me permita”. Não permitiu. Passeia-se sem destino pelas ruas de Lisboa e ganha uns trocos como engraxador e colorista de fotografias.

 

O filme está disponível na internet para quem o quiser ver, nós deixamos-vos o excerto abaixo, no qual se intercalam cenas passadas no ringue, com imagens num preto e branco impecável de um Rossio melancólico, numa escura manhã de inverno.

“Somos tão bons a perder, quando não queremos ganhar”, cantam os Linda Martini numa música que recentemente dedicaram ao já há muito desaparecido Belarmino.

 

São raras e belas as imagens da Lisboa triste e apagada desses tempos. O filme de Fernando Lopes deu a ver aquilo que não se via e até se escondia, a fanfarronice e a miséria de um país que não ia a lado nenhum, que como Belarmino, se limitava a deambular e a viver de memórias do passado. 

Claro que muitos não levaram a bem que se mostrasse o que se queria esconder:

 


Quando se fala de arquitetura, há dois nomes que inevitavelmente todos conhecem, Siza Vieira e Tomás Taveira. Os seus estilos são diametralmente opostos, contudo, ambos marcaram decisivamente a cidade de Lisboa.

Taveira é exuberante e espampanante, tanto quanto o são os seus mais conhecidos projetos, o Centro Comercial das Amoreiras, o antigo BNU na Avenida de Berna e o estádio de Alvalade. Siza é austero e geométrico, tal como nos mostram a execução do projeto de renovação do Chiado após o incêndio e o Pavilhão de Portugal no Parque das Nações.

 

Dito isto, o arquiteto que mais terá marcado Lisboa é um semi-desconhecido fora dos circuitos especializados, o seu nome é Cassiano Branco (1897-1970). É literalmente impossível viver em Lisboa sem se deparar diariamente com uma obra de Cassiano Branco, foram dezenas os prédios de habitação e de escritórios por si desenhados, estão por todo o lado.

Entre os seus projetos, incluem-se também edifícios tão marcantes na vida da cidade como o antigo Cine-Teatro Éden na Praça dos Restauradores, o antigo e luxuoso Hotel Vitória na Avenida da Liberdade, atual Centro de Trabalho do PCP, a cervejaria Portugália na Avenida Almirante Reis e o Cinema Império na Alameda. 

A sua marca fez-se sentir por todo o país. Entre os seus projetos contam-se também o Coliseu do Porto, o Portugal dos Pequenitos em Coimbra e o Grande Hotel do Luso.

 

Foi um visionário, um homem à frente do seu tempo, antes de todos os outros, projetou uma ponte sobre o Tejo. A proposta não foi aprovada. Em 1930, com apenas 32 anos, inventou a Costa da Caparica como uma zona balnear para os lisboetas. Ao contrário dos aristocráticos Estoril e Cascais, a Costa da Caparica destinava-se às massas, mas isso não significava menos qualidade. 

Apresentou para a Costa da Caparica o mais ambicioso e vanguardista dos seus projetos. Foi bastante difundido na imprensa estrangeira da época, mas nunca chegou a ser construído, pois foi considerado demasiado arrojado.

Tendo em conta a linda coisa que lá está nos dias de hoje, é de pensar se a falta de arrojo não será precisamente uma das mais nefastas características nacionais.



A certa altura da vida, Cassiano Branco chateou-se com a imbecilidade nacional e com o estilo “Português Suave”. Termo pejorativo que designa a arquitetura portuguesa de caráter neo-tradicionalista promovida pelo Estado Novo. Estilo esse que continua ainda hoje a ser usado em muitos condomínios fechados “de luxo” e em aldeamentos turísticos e coisas desse género.

 

Cassiano Branco chateou-se e decidiu rir-se da situação, pois o riso é o derradeiro método para se manter a lucidez face ao absurdo em redor. Projetou para a Praça de Londres em Lisboa um edifício irónico. Usou uma tal profusão de elementos tradicionais e numa escala tão deformada, que o conjunto é um imenso desconchavo: varandas do tempo de D. João, arcadas clássicas, chaminés algarvias muito superiores à normalidade, um telhado em "pagode chinês" e um cata-vento de ferro que suporta o pára-raios. O que era suposto ser um edifício de prestígio, ficou para a história como um edifício ridículo. Ainda hoje lá está.



Terminamos com o quarto rapaz de Lisboa, Carlos Paredes. Amália e, em certo sentido, também Carlos do Carmo são símbolos maiores do fado e de Lisboa. Carlos Paredes também o é, só que raras vezes alguém o diz.

Carlos Paredes era funcionário público e trabalhava como arquivista no serviço de radiologia do Hospital de São José. Em certa altura, por motivos políticos, os seus próprios colegas de trabalho denunciaram-no às autoridades.

A pequenez lusitana vem de longe, como todos sabemos. Foi expulso, só sendo reintegrado muitos anos depois. Posteriormente, ao cruzar-se com os que o denunciaram, não deixou de os cumprimentar.

 

Hoje há hospitais privados que parecem hotéis, com espaços ajardinados, confortáveis sofás e equipamentos de design. Antes não havia nada disso, a quase totalidade dos hospitais funcionavam em antigos conventos, as paredes há muito que não eram pintadas, existiam longas escadarias de pedra, os corredores eram fundos e sombrios e sentia-se por todo o lado um intenso odor a doença e a clorofórmio. Era nesse ambiente que Carlos Paredes diariamente trabalhava, num arquivo onde fazia frio e havia sempre muitas correntes de ar. 

Provavelmente, Carlos Paredes compôs e interpretou a música que melhor traduz a alma lusitana: Os Verdes Anos.

 

O poeta Pedro Tamen escreveu uns versos a propósito de Os Verdes Anos, onde a determinado momento diz assim: “No nosso sangue corria um vento de sermos sós”.

 

Na verdade talvez seja disso que gostamos nestes quatro rapazes de Lisboa de que hoje vos falámos, ou seja, de que apesar de muitas vezes na vida terem andado sós, ainda assim, sabiam que viver é fazer vento. Nós gostamos de pessoas que fazem correntes de ar.

Os Verdes Anos:

 











 

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