Hoje escrevemos para
todos aqueles professores que nasceram algures entre finais dos anos 60 e
meados dos anos 70, que na verdade são a larga maioria da classe docente.
Uma vez que trabalham
no ensino há algum tempo, com toda a certeza já terão encontrado um adulto de
vinte e tal anos de idade, no máximo trinta, que em jovem foi vosso aluno.
Dependendo das
circunstâncias, quando tais reencontros se dão, das duas uma: ou as coisas lhe
correram bem e ficamos satisfeitos por aquele jovem de outrora, atual adulto,
estar encaminhado na vida e por de algum modo termos também contribuído para
tal; ou as coisas lhe correram mal e sentimos um leve desconforto por aquele
antigo aluno, hoje adulto, andar um tanto ou quanto ao Deus dará e de certa
forma também termos participado nisso.
Ainda mais estranho, é
quando se reencontra quem dantes era um excelente aluno, mas que agora como
adulto, não é lá essas coisas. Nesses momentos, questionamo-nos sobre o que
entretanto se terá passado, para que o Zé Manel (nome fictício), que tanto
prometia em miúdo, tendo crescido, se tenha transformado numa alma triste.
Provavelmente não se
passou nada de especial. Sim senhor, que o Zé Manel era um excelente aluno,
tudo muito bem, mas tirando isso, não era excelente, nem sequer particularmente
apto, em absolutamente mais nada.
Tirava muito boas
notas na escola, mas competências sociais, emocionais e outras, não as tinha.
Respondia corretamente a todas as questões com que se deparava nos testes e
exames, mas autonomia, iniciativa e pensamento crítico eram coisas que não
possuía.
Uma vez fora do
circuito escolar, e mesmo que tenha concluído algum tipo de formação, o ter
sido um excelente aluno e tirado boas notas para pouco ou nada serviu ao Zé
Manel, pois não se orientou e anda por aí aos caídos sem saber para que lado se
há de virar.
Em conclusão, visto do
ponto em que presentemente se encontra, o melhor que se pode dizer do Zé Manel
é que tem um grande passado à sua frente.
Como é evidente, agora
a escola já nada pode fazer pelo Zé Manel, acerca disso estamos conversados. O
que a escola pode fazer é pelos seus atuais alunos, evitando que alguns deles
sejam exclusivamente excelentes alunos, pois há muitas outras coisas que também
podem ser, de modo a não se tornarem futuras vítimas do seu sucesso escolar.
Como é evidente, há
muito quem tenha sido um excelente aluno e tenha vingado na vida. Em boa
verdade, é até o mais provável de acontecer, no entanto, como já terão
percebido, não é desses que vingaram de quem hoje vos queremos falar.
Há também quem tenha
sido um aluno sofrível e só tenha transitado de ano para ano graças a uma certa
complacência dos professores que foi tendo ao longo da sua escolaridade, mas
que como adulto, se safou muito bem. São aqueles de quem se dizia que não iam ter
grande futuro e contas feitas, afinal tiveram.
Posto isto,
ocorreu-nos uma interessante questão, e se, como no filme “Regresso ao Futuro”,
pudéssemos efetuar uma viagem ao passado?
Imaginem que podíamos
viajar no tempo e voltar ao passado e, uma vez lá chegados, olhar para os
jovens alunos que então tínhamos, mas sendo já conhecedores do seu futuro
destino como adultos.
Foi algo de semelhante
a isso que sucedeu com a personagem principal de “Regresso ao Futuro”
interpretada por Michael J. Fox, que foi transportado para o passado, sabedor
do destino futuro de todos aqueles que lá encontra. Não por acaso, parte
significativa da narrativa passa-se numa escola.
Na cena cujo link
abaixo vos deixamos, Michael encontra o seu próprio pai, enquanto este era um
jovem estudante. O pai era um excelente aluno, mas isso não lhe valeu de muito.
Encontra também Biff, um mau aluno que sabe aproveitar-se dos outros. E
encontra ainda um rapaz trabalhador, que tendo abandonado a escola, quer voltar
a estudar para no futuro ser alguém na vida. Toda a cena roda em volta de
chatices relacionadas com os TPC’s:
Imaginando um contexto
semelhante a este, se porventura regressássemos ao passado sabendo o futuro,
como veríamos nós os nossos antigos alunos? O que com eles faríamos de
diferente? Nada? Tudo? Uma coisinha ou outra?
Claro que para esta
interessante questão que nos ocorreu, só há respostas fantasiosas. Com efeito,
por enquanto, é impossível voltar atrás no tempo e mudar seja o que for, exceto
na imaginação. Uma vez dito isto, poderíamos terminar por aqui este nosso texto,
fechar a porta, apagar a luz e irmos à nossa vida.
Vamos lá ver uma
coisa, nós tivemos uma ideia interessante, escrevemos meia dúzia de parágrafos
acerca dela, daqui para a frente é convosco. Compete-vos a vós imaginar e
fantasiar com os excelentes alunos que eventualmente tiveram e cujos percursos
de vida não foram tão bons como esperariam.
Bem sabemos que há
fantasias mais fascinantes para se ter, disso não duvidamos, mas ainda assim,
pensar num excelente aluno que se teve há uma década ou duas e que não fez nada
jeito da sua vida, mesmo não sendo tão excitante como outro tipo de pensamentos
fantasiosos, dá bem para uma pessoa se entreter durante uns bons dois ou três
quartos de hora. Tal como noutras fantasias, é uma questão de se usar a imaginação.
Falta-vos imaginação
para isso? Querem que vos ajudemos a começar? Talvez uma musiquinha auxilie,
certo? A música costuma ajudar quem tem pouca imaginação e necessita de um
certo estimulo inicial. Mas que música poderá ser? Vejamos…algo relacionado com
imaginação…
Não! Nem pensem nisso.
Não nos digam que vos ocorreu o tema “Imagine” do John Lennon? Se foi isso, por
favor esqueçam. “Imagine” está para a música Pop, tal e qual como um excelente
aluno que amadureceu mal está para a vida adulta.
Os paralelismos são
demasiado evidentes. Até determinada idade, o John Lennon prometia grandes
coisas, nesse entretanto casou-se com a Yoko Ono e partir daí foi sempre a
descer. Aconteceu o mesmo com muitos excelentes alunos, foram as más companhias
que os deitaram a perder.
Quando acompanhava com
os restantes Beatles, o John Lennon compunha excelentes canções, quando passou
a acompanhar com a Yoko Ono, foi um autêntico ver-se-te-avias. O “Imagine” é
pura e simplesmente insuportável, não há vivalma que não tenha imediatamente
espasmos nervosos, logo que ouve os primeiros acordes. Em síntese, esqueçam o
“Imagine”, é tão “démodé”, tão “uncool”. Não vos vai estimular a imaginação, só
vos vai fazer mal.
Vamos lá ser sérios,
se o vosso problema é dar corda à imaginação e aquecerem o motor, tenham algum
estilo por favor, aconselhamos-vos que se inspirem em “Just my Imagination”:
Uma vez tendo sido
dado um primeiro estímulo à vossa imaginação, voltemos ao assunto em questão, o
“Regresso ao Futuro”. Pretendem então imaginar-se há vinte ou há trinta anos
com jovens excelentes alunos de então, que hoje já são adultos e a vida não
lhes correu bem. Pretendem pensar no que nesse caso fariam de diferente. Se
nada, se tudo, se uma coisinha ou outra.
Se pudessem regressar
ao passado e soubessem o que hoje sabem, uma sensata recomendação que poderiam
ter dado aos vossos excelentes alunos, era que se dedicassem ao turismo e à
hotelaria. Ao invés de andarem a estudar para doutores, ter-se-iam safado
melhor nessa área, há muito futuro nos TuK-Tuks e ainda mais nos hotéis e
hostels.
Se no passado tivessem
dado tais recomendações aos vossos excelentes alunos, teriam contribuído para
que a escola tivesse funcionado como um autêntico elevador social.
Parem, não se
entusiasmem. Nem pensem nisso! Ainda há uns momentos estavam com falta de
imaginação e agora já estão a esticar-se? Vamos com calma, não se ponham com
ideias tontas. Lá por causa de estarmos a falar de hotéis e hostels e da canção
ser do vosso tempo, que não vos ocorra porem a tocar o “Hotel California”. A
esse passado não queremos regressar. Tenham dó.
Os Eagles? A sério? Já
está a tocar? Não conseguiram resistir? Já não fomos a tempo de vos impedir? É
pena. Mas que raio se passa convosco? Sois masoquistas? Gostais de sofrer?
Quererdes ter otites?
Já acabou? Graças a
Deus. Voltemos então ao nosso “Regresso ao Futuro”. Um conselho que no passado
também poderiam ter dado aos vossos excelentes alunos é que seguissem a
carreira de “Influencers” ou de “YouTubers”. Com certeza que agora estariam
melhores. Foram-lhes dizer para irem para doutores e foi o que se viu.
O quê? Têm uma
“playlist” no YouTube. “With or without you” dos U2 e “Still loving you” dos Scorpions? Só podem estar a brincar. Já estão a abanar-se e a acenar com um isqueiro
aceso? Tenham piedade, pedimos-vos que se contenham.
Há mais? A playlist
não terminou? Não queremos saber. Este “Regresso ao Futuro” está a tornar-se
numa verdadeira viagem auditiva ao inferno. Vamos embora, não aguentamos mais,
é urgente, estamos com violentas cólicas.
Dada a banda sonora desastrosa que resultou deste regresso ao futuro, o melhor é esquecerem tudo o que acima dissemos. Se porventura avistarem um vosso antigo aluno, mudem simplesmente de passeio e sigam com a vossa vida, é que nós vamos fazer a partir de agora.
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