"Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, vivá nossa caminete! Por favor senhor condutor, ponha o pé no acelerador. Se bater não faz mal, vamos parar ao hospital. Hospital de Santa Maria é uma ganda porcaria. Hospital de São José, que cheira sempre a chulé."
Hoje pretendemos apresentar-vos algumas inovadoras
sugestões sobre visitas de estudo. No final temos uns humildes e modestos
guiões para vos servir de exemplo. Mas isso será só muito mais à frente, não
temos pressa nenhuma em lá chegar. Vamos indo com calma e aproveitando o
percurso para irmos cantando e rindo pelo caminho.
A cantilena com que iniciámos este texto, é um
conhecido hino, que antigamente, turmas inteiras, do 1° ao 12° ano de
escolaridade, entoavam em coro na “caminete”, durante um percurso de ida e
volta numa qualquer visita de estudo.
Numa rápida análise hermenêutica ao conteúdo semântico
dessa célebre cantilena, dir-se-ia que nela se revela um desejo premente de que
o caminho de ida e volta entre a escola e o local a visitar, fosse percorrido tão rapidamente quanto possível.
Esse premente desejo de velocidade, teria nessa época
uma tal intensidade, que suplantava inclusivamente a plena consciência dos
riscos de acidente que lhes estariam associados. Facto claramente comprovado
pela expressiva passagem “Se bater não faz mal”.
Nem sequer a constatação de que uma eventual
hospitalização em Santa Maria (uma “ganda” porcaria”) ou em São José (cheira a
chulé), pudesse não ser uma experiência particularmente agradável, travava o
imenso entusiasmo com que os alunos das turmas de então incentivam o chofer de
serviço a andar mais depressa, ou seja, a pôr o pé no acelerador.
Apesar de hoje em dia, o hino da “caminete” já não
aparecer em visitas de estudo com a frequência doutros tempos, o desejo de se
ir do ponto de partida ao ponto de chegada e voltar o mais rapidamente
possível, continua bem presente.
Se uma turma parte da Escola Y em visita de estudo e
se desloca até ao Museu XPTO, fá-lo como se o percurso a realizar entre o ponto
inicial e o ponto final, para pouco ou nada interessasse. É pena, pois pelo
caminho há sempre muito que ver.
Temos a certeza absoluta, de que se porventura
existisse uma máquina que nos teletransportasse do ponto Y para o ponto XPTO,
sem que tivéssemos de percorrer o caminho que dista entre ambos, muitos de nós
não hesitaríamos em a usar.
No entanto, se assim fosse, seria muito o que
perderíamos, pois que numa qualquer viagem, seja esta do ponto Y para o ponto
XPTO, ou destine-se esta a atingir um qualquer outro ponto, tipo o A, o B, o C
ou o G, percorrer o caminho constituirá certamente parte do prazer.
“Numa viagem, o caminho é parte do prazer” é uma frase
lapidar, daquelas que podiam estar escritas na pedra ou ser ditas por alguém
que ganhe a vida a fazer “coaching”.
Não é que nós pretendamos ganhar a vida no “coaching”,
mas ainda assim, fechem os olhos e imaginem-se numa qualquer viagem prazerosa
em que tivessem decidido embarcar. Já imaginaram?
Se sim, pensem lá bem, se parte significativa do gozo,
não estará precisamente no caminho a percorrer, até se chegar ao ponto final. A
resposta parece-nos mais que óbvia e com certeza a vós também.
Está bem que percorrer o caminho por si só não é tudo,
mas dito isto, ir à grande pressa e atingir precocemente o fim, também não será
grande coisa. Em síntese, se por um lado é certo que ficar pelo caminho e não
se chegar ao fim da viagem deve ser um tanto ou quanto frustrante, por um outro
lado, é igualmente certo, que chegar ao fim do percurso num instante, sem se
gozar do caminho, vai dar praticamente ao mesmo.
Daqui se concluiu então, sem margem para grandes
dúvidas, que numa qualquer viagem, incluindo claro está, uma visita de estudo,
é fundamental atingir-se o destino a que se deseja chegar, pois de outra forma
não faz sentido, mas é também igualmente importante, saber-se degustar do
percurso até lá se chegar.
Que ninguém tente ser mais rápido que a própria sombra
e simultaneamente atingir em cheio o alvo final, não vai resultar. Façanhas
desse género, é algo que só está ao alcance de heróis da banda desenhada como o
Lucky Luke, e não de nós, pobres seres mortais.
Se o caminho a percorrer é algo a que devemos estar
atentos, não menos importante, é a fase anterior ao início da viagem
propriamente dita. Para exemplificarmos este ponto, contamos com o auxílio de
uma canção, que nos dá preciosas indicações sobre a importância do momento
prévio a uma qualquer viagem ou visita de estudo.
A canção intitula-se “Bus Stop”. É uma canção dos anos
60, de um não muito conhecido grupo de Manchester, que se chamava “The
Hollies”.
Normalmente, quando estamos numa paragem de autocarro,
estamos simplesmente à espera que o dito veículo chegue, para que penetremos
então no seu interior e iniciemos a viagem.
O que a canção “Bus Stop” nos ensina, é que, mesmo
sendo a paragem de autocarro um ponto prévio e preliminar à viagem em si, ainda
assim, a sua importância pode ser determinante, quando não decisiva.
A mensagem que a canção nos transmite, é que a fase
preliminar de uma viagem (ou de uma visita de estudo), não é algo que se deva
descurar, pois tudo se inicia antes de se iniciar.
A canção “Bus Stop” celebra um amor iniciado numa
paragem de autocarro, ou seja, precisamente no ponto preliminar ao início da
viagem. Em Manchester era verão e chovia a potes dia após dia. Todas as manhãs
os dois se encontravam na paragem, até que uma vez, enquanto esperavam, ele
voltou-se para ela e disse-lhe “Please, share my umbrella".
Foi assim que tudo começou ainda antes de começar.
Escutemos a música e observemos as imagens, pois nelas há muitas “caminetes”:
E pronto, chegámos ao fim desta nossa viagem, que
esperamos ter sido tão boa para vós, como foi para nós. Deixamos-vos os guiões,
nos quais poderão verificar a importância que demos à fase preliminar de uma visita
de estudo à exposição "Histórias de uma Coleção" patente na Fundação Calouste Gulbenkian, e ao caminho a percorrer:
Guião de aprendizagem nº 1 "Pelo caminho há uma coleção de histórias"
https://drive.google.com/file/d/1crXqj0Flkx51H18XPPtPAZCvCR3VlF21/view?usp=sharing
Guião de aprendizagem nº 2 "Pelo caminho há uma coleção de histórias"
https://drive.google.com/file/d/1aL73Ne8UzX3q8_2GljgqgZ0OnUyoKGuw/view?usp=sharing
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