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Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso mundo de doidos

 


Foi no dia 20 de julho de 1944 que se deu um famoso atentado à bomba contra Adolf Hitler. Apesar da forte explosão, o homem safou-se e mais convencido ficou que o seu destino era ganhar a guerra e fundar um império: o Reich dos mil anos. Era doido.

 

Como todos sabemos, doidos há muitos, mas graças a Deus, nem todos são como o Adolf. A maior parte dos doidos são inofensivos, são tão-somente maçadores e por vezes irritantes. Aborrecem-nos com as suas arrelias e teorias, sobretudo com as da conspiração, mas felizmente, não chateiam muito mais do que isso.

Como é evidente, não falamos de pessoas com problemas de saúde mental, falamos sim de doidos, desses que andam por aí, que encontramos todos os dias e são pessoas perfeitamente saudáveis e funcionais.

 

Há duas características comuns a todos os doidos, uma é que são absolutamente inabaláveis na convicção de que têm razão seja lá qual for assunto em questão, a segunda é a de que conseguem vislumbrar tramóias por todo lado. Tramóias cujo único objetivo é prejudicá-los a si e aos seus semelhantes.

 

Na mundovisão dos doidos, nas suas famílias, nos seus empregos, na sua vizinhança, no país e até nas mais altas instituições internacionais, há sempre umas quantas gentes que dedicam a sua existência a conspirar e a construir esquemas com o exclusivo intuito de os enganar ou de lhe fazer alguma mal-feitoria. Ou é a prima Adélia, ou é a tia Alzira, ou é o chefe de secção, ou é o vizinho do quinto esquerdo, ou é o partido político tal e tal, ou é a NASA, ou são os americanos, ou são os chineses, ou é a Microsoft ou é sabe-se lá o que mais. O que é certo, é que alguma coisa é.

Por consequência, a pergunta que se impõe é a seguinte: como lidar com os doidos? A forma mais óbvia é fugir deles e deixá-los a falar sozinhos. Se os doidos não forem pessoas que nos sejam próximas, é coisa relativamente fácil de fazer. É uma questão de estarmos com atenção e mudarmos de passeio sempre que na rua se avista um deles à distância.

É igualmente importante não entrarmos em qualquer café ou restaurante sem uma prévia inspeção do espaço. Para maior segurança, convém questionar o dono do estabelecimento se fulano e sicrano está previsto aparecerem, em caso de resposta positiva, é procurar imediatamente um outro estabelecimento.

 

Se porventura o doido for alguém com quem se tenha obrigatoriamente de lidar todos os dias, é respirar fundo e aguentar. O único conselho que vos podemos dar é de recorrerem a expressões como hum-hum, não, pois, sim ou ‘tou a ver.

 

O grande problema é quando algum doido toma o poder. Qualquer poder que seja. Se um doido se torna chefe de secção, está tudo tramado. Se é eleito administrador de condomínio, inferniza a vida da vizinhança. Se vai para a junta de freguesia, cruz-credo. Se lhe dá para ser influencer ou YouTuber, é preciso muito cuidado. Se chega a presidente dos Estados Unidos, nem vale a pena falar disso. Tornando-se Führer, é a humanidade inteira que está em risco.

 

Nunca se deve subestimar o perigo que constitui um doido com poder. Sem poder um doido é inofensivo, apenas maça. Com poder pode ser letal. O Führer conseguiu implementar um regime de terror pela Europa inteira. Se não o tivessem parado, provavelmente hoje viveríamos num mundo muito pior do que aquele em que atualmente vivemos.

 

A Polónia, a Áustria, a Hungria, a Checoslováquia, a Holanda, a Bélgica, a Grécia, a Dinamarca, a Finlândia e até a França, já tinham sucumbido ao avanço dos panzers de Hitler, afortunadamente alguém decidiu fazer frente ao tremendo doido.

 

Winston Churchill liderou o Reino Unido ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial. Resistiu aos avanços da Alemanha nazi, inspirou com os seus discursos os seus compatriotas e insuflou-lhes coragem para lutarem e suportarem os terríveis bombardeamentos aéreos a que Londres e outras cidades britânicas foram sujeitas. Bombardeamentos a que os ingleses chamam “The Blitz”.



A importância histórica de Churchill na luta contra o doido nazi é sobejamente conhecida. O que não é assim tão conhecido, é o modo como Churchill fez frente a outro tipo de doidos, desses que não detêm qualquer poder, que são apenas maçadores. São as histórias dessas batalhas de Churchill contra os chatos, aquelas que agora vos queremos relatar.

 

Para além de crerem que têm sempre razão e verem conspiradores por todo o lado, os doidos também gostam muito de denunciar, apontar, julgar e sentenciar. Uma das áreas onde os doidos mais se entusiasmam e se sentem particularmente bem a chatear os outros, é em temas relacionados com a saúde e estilos de vida saudável. São os chamados fascistas da saúde.

 

Não estamos a dizer que as instituições não façam a promoção da saúde, mas qualquer pessoa minimamente informada, sabe perfeitamente o que lhe faz bem e mal à saúde. Dito isto, sendo-se adulto, cabe a cada um fazer as suas escolhas. Haverá lá coisa mais irritante, que estar uma pessoa a desfrutar de um belo repasto, acompanhado com uma boa pinga, e nisto começa um doido o perorar que comer isto ou aquilo faz mal, que beber não é bom, que fumar é terrível, que se deve praticar desporto, alimentar-se à base de fruta e produtos hortícolas e dormir oito horas por dia?


Vejamos como lutou Churchill contra estes doidos. 

Um dia, um repórter perguntou a Winston Churchill, que na ocasião já teria bem mais de 80 anos, qual era o segredo da sua longevidade e como conseguia manter-se ativo já com tão avançada idade. Churchill respondeu então o seguinte:

- Cigars, Whiksy and no sports.

 

Winston era exímio em, com respostas espirituosas, colocar imediatamente os doidos no seu lugar. Uma vez, numa festa, uma lady escandalizada dirigiu-se a Winston e disse-lhe: “Sir, o senhor está bêbado”. Ao que este respondeu: “Madam, hoje estou bêbado, amanhã estarei sóbrio, mas a senhora continuará feia.”

Uma outra lady, disse-lhe: “Winston, se fosse sua esposa, punha-lhe veneno no seu café”. Churchill não se ficou e replicou imediatamente: “Se porventura fosse seu marido, eu bebia-o.”



Há doidos para todos os gostos. Por exemplo, há uns que são ativistas climáticos e se põem a furar pneus de automóveis. Há outros doidos, que em sentido exatamente oposto, negam todas as evidências de que haja alterações climáticas, ou seja, que é tudo uma conspiração internacional.

 

Há uns anos apareceram uns doidos que se intitulam a si mesmos terraplanistas. Como o próprio nome indica, os terrasplanistas acreditam piamente que a Terra é plana. Qualquer prova que se lhes apresente em contrário, é negada. Mostrem-lhes fotografias tiradas a partir da lua, logo respondem que a ida do Homem à lua foi tudo uma grande encenação realizada a partir de Hollywood. Falem-lhes de imagens captadas por satélites, logo vos dirão que são falsas. Digam-lhes o que disserem, a Terra é plana e acabou-se a conversa.

 

 uns doidos já antigos, que acreditam que o Elvis está vivo. Mais recentemente, surgiram uns outros doidos, cuja doidice vem mesmo a propósito desta época do ano.

Um senhor cujo nome é James Middleton, a partir da sua conta de Instagram, difundiu a tese que os protetores solares não servem para nada, são o resultado de uma conspiração conjunta das companhias farmacêuticas e das autoridades sanitárias. Surpreendentemente, a conta de Instagram deste senhor é regularmente seguida por 250.000 pessoas.

https://elpais.com/icon/2023-07-17/la-nueva-conspiranoia-que-se-extiende-por-internet-las-cremas-solares-no-sirven-para-nada.html

 

Bom, terminamos como começámos, com Shakespeare:

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