Nós por aqui gostamos
de escrever sobre os mais efervescentes temas da atualidade abordando-os de
improváveis perspectivas. A nossa estratégia é de uma enorme e finíssima
complexidade conceptual, mas resume-se com grande simplicidade. Se há um tema
do qual toda a gente fala, nós escrevemos sobre ele, só que escrevemos a partir
de um ângulo inabitual, isto só para parecer que temos coisas novas, originais
e interessantes para dizer. Na verdade não temos, como já terão verificado, mas
às vezes dá mesmo a sensação que sim, e isso é que importa.
Nesse contexto, hoje
decidimos escrever sobre um tema cuja atualidade é eterna. Um tema com imenso
potencial para ser abordado das mais diversas e inusuais perspetivas. Trata-se
do mais fascinante tema de sempre, um que não deixa ninguém indiferente faça
chuva ou faça sol, ou seja, o tempo.
Vai-se num elevador,
está-se numa sala de espera, faz-se conversa de chacha num balcão de café,
está-se com a família ou com amigos e em todas estas e em muitas outras
circunstâncias de que se fala? Do tempo que faz, claro está.
Está de chuva? Está
sim senhor. Faz frio? E é de rachar. Ufa… que calor! Pois se é o tempo dele. Em
resumo, não há ninguém, que neste ou naquele momento, não tenha algo a dizer
sobre o tempo.
Sendo agora verão, o
tempo é de intenso calor e é portanto dele que vamos falar. Hoje por acaso até
está frescote, mas dá-nos no mesmo, é do tempo quente que falaremos. Fica a
promessa que quando for inverno falaremos do frio. Fica também a promessa, que
na próxima primavera falaremos das andorinhas, e no outono que há de vir das
folhas que caem. Um dia destes, poderemos igualmente falar das alterações
climáticas, que é um assunto que também vem sempre a propósito, dá um ar mais
intelectual à conversa e dispõe sempre bem.
Tendo nós já anunciado
que vamos escrever sobre o tempo, e mais concretamente do calor que faz, coisa
da qual atualmente toda a gente fala, para prosseguirmos a nossa já referida
estratégia, vamos agora arranjar um ângulo inusitado para o fazer.
Uma coisa da qual
nunca se ouve falar, é da relação existente entre os resultados escolares e o
calor, no entanto, é algo que é por demais evidente e está amplamente estudado.
Não estavam mesmo nada
à espera desta, pois não? Resultados escolares e calor! Está ou não bem visto?
Apostamos que os nossos leitores já estarão a pensar que coisas novas, originais
e interessantes teremos nós para dizer sobre este premente assunto. Nada de
jeito, claro está, mas dá mesmo a sensação que vai sair daqui uma grande coisa.
Dá ou não dá? Avisamos já que não, mas ainda assim, nem que seja só por
curiosidade, venham lá ver o que é que a casa gasta.
Talvez a mais
conhecida investigação sobre este tema, o calor e os resultados escolares,
seja a que foi levada a efeito por cientistas da Universidade Harvard, que num
estudo intitulado “Heat and Learning”. Comprovaram que os efeitos do calor no
aproveitamento escolar, começam a fazer sentir-se a partir dos 21 graus. A
partir desse valor, a cada subida de 0,55 no mercúrio dos termómetro,
corresponde uma queda de 1% nas notas médias dos alunos.
Um estudo da
Universidade de Harvard, upa, upa! Digam lá se citamos ou não instituições que
são grandes referências académicas a nível mundial? Ah pois é!
Se porventura alguém
quiser dedicar-se a ler as conclusões dessa investigação, poderá fazê-lo no
link que vos deixamos lá mais para abaixo. Nós aconselhamos vivamente a leitura
desse estudo. Para quê? Perguntarão os nossos leitores. Para parecer que têm
uma perspetiva nova e original sobre o calor, um tema do qual toda a gente
fala, respondemos nós. E para que queremos nós ter uma perspetiva nova e
original sobre o calor, perguntarão mais uma vez os nossos leitores.
Imaginem por exemplo
que estão na praia e que por casualidade encontram uma colega que é professora
de matemática. Ela cumprimenta-vos e diz-vos: “Ui, que calor está”. Já viram a pintarola que era responderem do seguinte modo: “Sabe a colega que na região
norte-americana do Mississipi, os resultados escolares dos alunos desceram em
média 3% em consequência da temperatura ter subido 1,65 graus Celsius?”.
Responde-vos ela espantada: “Ai ó colega, não me diga uma coisa dessas, que até
se me dá arrepios de frio na espinha!”. Replicam logo vocês: “Cautela, não se
vá constipar, olhe que este tempo engana muito”. E depois continuam: “Se por
acaso a colega quiser ir a um sítio mais aconchegado, tenho ali guardado um
estudo da Universidade de Harvard que explica isto do calor tintin por tintin,
com gráficos, tabelas e tudo”.
Em síntese, como já terão
percebido, é uma leitura académica que vale muito a pena e que para mais tem
grande potencial, para numa qualquer eventualidade abrir interessantes
perspetivas sobre o eterno tema do calor.
Se quiserem ler, fica
abaixo o link, se não quiserem não leiam, paciência, queremos cá saber. Só que
depois não se queixem que a colega de matemática que encontraram na praia não
vos ligou nenhuma e que a classe docente não é nada unida e coisas desse
género:
https://www.hks.harvard.edu/publications/heat-and-learning
Um pequeno aparte.
Tenhamos ou não lido o estudo da Universidade de Harvard, todos nós conhecemos
os efeitos do calor. Assim sendo, todos hão de concordar connosco, que quem
nalgum dia, num qualquer passado longínquo, decidiu que em Portugal e noutros
países quentes se realizassem provas, testes e exames escolares em finais de
junho e por julho adentro, só pode ter sido um sádico. Quem determinou tais
datas, foi certamente alguém que gostava de castigar os corpos, de os ver
suados e a sofrer até ficarem quase à beira de uma apoplexia. Acabou o aparte.
Dito isto, que
soluções propõem os investigadores norte-americanos para resolver os problemas
relacionados com o calor nas escolas, a resposta é simples: instalar aparelhos
de ar condicionado por todo o lado. O que se perde em ecologia, ganha-se em
pedagogia.
Bom, vamos terminar
por aqui a análise reflexiva do estudo da Universidade de Harvard acerca dos
nefastos efeitos do calor em contexto escolar. Estamos radicalmente contra o ar
condicionado. Neste blogue temos intenção de fazer avançar a pedagogia, mas não
à custa da ecologia, coitadinha.
O que agora vamos
fazer é procurar soluções mais eco-sustentáveis do que a do ar condicionado,
para aliviar os efeitos do calor. Para tal, vamos seguir uma abordagem mais
ampla e transdisciplinar. Mais ampla porque vamos falar de calores que estão
muito para além das paredes das escolas, e transdisciplinar porque vamos
convocar outros saberes, que não apenas os da pedagogia.
Nesse sentido, estamos
em crer que o cinema nos pode trazer pistas importantes. Para além disso,
permitir-nos-á continuar a falar de calor de uma perspetiva menos séria, formal
e académica, do aquela em que o temos feito até este momento.
Em síntese, o cinema
vai trazer-nos transdisciplinaridade ao assunto e também uma perspetiva mais
solta, leve e fresca. Esqueçamos o calor escolar, vamos lá desbundar, mas
mantendo sempre um tom cultural.
Escolhemos dois filmes
para esse exercício de desbunda. O primeiro contém uma das mais célebres e
icónicas cenas da história do sétima arte. Marylin Monroe, numa quente noite de
verão, sai de uma sala de cinema acompanhado por Tom, o seu vizinho do andar de
baixo, cuja esposa foi passar as férias de verão para fora.
Passeiam-se lentamente
pelas ruas de Manhattan e subitamente Marylin sente subir-lhe por entre as
pernas acima uma “delicious breeze”. Sensação que experimentará não apenas uma
vez, mas múltiplas. A brisa vem de um respiradouro do metropolitano e resulta
do ar deslocado pelas carruagens. A cena pertence ao clássico de sempre “O
Pecado mora ao lado”:
No muito premiado filme do espanhol Pedro Almodóvar, “A Lei do Desejo”, a noite também está quente. Carmen Maura passeia-se pelas ruas de Madrid com a sua pequena filha, Ada. Vão acompanhadas por Pablo, irmão de Carmen e tio de Ada. Nisto, deparam-se com um técnico de higiene urbana, que se prepara para iniciar o seu trabalho de lavagem das ruas. Na mão tem uma mangueira da qual a água jorra em grande abundância. Carmen não resiste, corre para a frente do homem e roga-lhe que a regue, que a encharque toda. O homem segura firmemente na mangueira e satisfaz-lhe o desejo enquanto o seu irmão e a sua filha a olham pasmados:
Ora bem, há as lições
a retirar destes dois filmes relativamente ao modo de nos aliviarmos do calor.
A primeira retira-se da cena do filme “O Pecado mora ao lado” passada junto ao
respiradouro do metro. A lição é a de que basta tão-somente haver uma abertura
lá mais em baixo, para que possa vir uma (ou mais) “delicious breeze” por aí
acima. Só isso já dá para se ir indo aliviando o calor.
A segunda lição, a que
se retira do filme “A Lei do Desejo”, é a de que uma mangueirada também ajuda a
resolver o assunto. Em síntese, com uma abertura e uma mangueirada temos uma
solução para aliviar o calor perfeitamente eco-sustentável.
Mas dito tudo isto, há
quem pense de outro modo e ache que quanto mais quente melhor. É essa a tese
apresentada num outro clássico do cinema, “Some like it Hot”, também este
interpretado por Marylin Monroe.
E é precisamente com
ela, que vos deixamos numa cena desse filme em que canta “I Wanna Be Loved
By You”:
Comentários
Enviar um comentário