Avançar para o conteúdo principal

O regresso às aulas é fixe!


Caros leitores, dantes eram só alunos e professores que regressavam às aulas, mas agora não. Atualmente ninguém quer ficar de fora e não há quem em setembro, ou até umas semanas antes, não volte à escola. Neste texto vamos apresentar-vos uma série de produtos para um bom início de ano letivo, mas não para os promovermos e sim a título meramente exemplificativo.

Com certeza que já todos se deram conta de que “O regresso às aulas” é como o Natal, cada vez começa mais cedo. Este ano, logo para aí na terceira semana de agosto, começaram a surgir nos jornais, na rádio, na internet e nas televisões insistentes campanhas publicitárias para nos recordar que alunos e professores à escola vão voltar. Não era preciso tanta diligência, que ninguém se haveria de esquecer, mas pronto, os comerciantes e anunciantes são assim, não há nada a fazer.

Talvez haja quem creia que em termos comerciais, “O regresso às aulas” consiste essencialmente na aquisição de manuais, mochilas, cadernos, lápis, borrachas e demais materiais escolares, contudo, a coisa tem uma vastidão muito maior do que essa. O que aqui nos propomos hoje, é apresentar-vos os muitos outros produtos, para além dos óbvios, para um conveniente regresso à escola.

No fundo, é uma espécie de serviço público de informação aquilo que vamos fazer. Não estamos sozinhos nesta missão, entre muitos outros, a Pescanova por exemplo, também está connosco. Com efeito, na sua página da internet consta um artigo com conselhos sobre a alimentação mais adequada para o regresso às aulas.

Acreditem em nós quando vos dizemos que desconhecíamos totalmente, que existisse uma alimentação própria para regressar às aulas, não fazíamos sequer ideia. Em qualquer dos casos, segundo a Pescanova, é importante que todas as semanas se comam pelo menos quatro refeições de peixe ou marisco. À partida não temos nada a opor, desde que seja fresco, por nós tudo bem:


Outra campanha que nos faz companhia neste regresso às aulas é a da Nestlé. Aparentemente, se forem seguidos os conselhos dedicados a este tema que constam da sua página da internet, “ficam garantidas condições ótimas para um excelente desempenho escolar”.
Para além de desvendar qual o segredo para um bom pequeno-almoço e que tão importante como a quantidade é a qualidade, a Nestlé fornece-nos também um outro tipo de conselhos.
Sabiam por exemplo que se nos levantarmos um pouco mais cedo para tomar o pequeno-almoço, não precisamos de andar a correr? E que se deixarmos tudo preparado de véspera, ainda melhor? Ah pois é, sábios conselhos destes, só na Nestlé:


Teríamos muitas outras empresas do ramo alimentar para vos apresentar, mas passemos agora ao sector financeiro. Acreditem ou não, a Caixa Geral de Depósitos, também se preparou para o regresso às aulas e diz-nos assim: “Este ano não espere pelo segundo toque. Prepare este regresso às aulas sem preocupações e com tudo a que os seus filhos têm direito para um ano letivo cheio de sucessos.”
Quem é que haveria de dizer que o sucesso do ano letivo estava relacionado com créditos pessoais e cartões de crédito? Não desconfiávamos que assim fosse, mas se assim é, quem somos nós para a Caixa contrariar:


Mas a Caixa não foi o único banco a preparar o regresso às aulas, o Santander, entre demais exemplos possíveis, não se ficou atrás. Até 14 de setembro vende aos seus clientes portáteis, tablets, auscultadores, colunas, smartphones e muito mais com grandes descontos. Quem quiser aproveitar, tem de fazê-lo antes do primeiro dia letivo se iniciar:


Que comprar roupa para regressar às aulas fosse um dos rituais mais importantes para dar as boas-vindas ao novo ano letivo, era coisa que antes não sabíamos, mas que ficámos agora a saber.
A avaliar pelo site da GAP, a lista de compras é longa. Razão pela qual, partilhamos convosco uma “checklist” copiada do referido site, de modo a que não haja esquecimentos:

  1. Camisolas
  2. Blusões
  3. Casacos
  4. Calças
  5. Leggins
  6. Fatos de treino
  7. Mochila
  8. Meias

Surpreendentemente, ou talvez não, o regresso às aulas também implica cuidados redobrados com a nossa pele. Mas podemos estar descansados, que há uma vasta gama de cremes que a hidratam e protegem. Não só cremes, como suplementos alimentares, que para além de protegerem o sistema imunitário, favorecem também o funcionamento cognitivo.
Com tais cremes e suplementos, certamente que não vai haver quem não tenha uma pele fresca e natural e um percurso escolar notável e brilhante:


A Fnac anuncia-nos o seguinte: “Regresso às aulas: sugestões de cozinha e eletrodomésticos”. Fomos pesquisar no site e nesta campanha vendem-se coisas tão essenciais para voltar à escola como por exemplo torradeiras, máquinas de café e um espremedor de citrinos.
Não sabemos a opinião dos nossos leitores, mas a nós custa-nos a acreditar que com o pretexto de se voltar às aulas se vendam espremedores de citrinos. Mas custando-nos ou não a acreditar, o anúncio aqui fica para o comprovar:


Não nos vamos alongar muito mais com exemplos, só mais um pouco. Porventura já pensaram qual será a melhor viatura para o regresso às aulas? Não vos ocorreu tal ideia? Pois há a quem tenha ocorrido.
Transcrevemos na íntegra o início de um anúncio: “Seleção dos melhores carros familiares para o regresso às aulas. As férias estão quase a terminar e as famílias começam a preparar o início do novo ano letivo. Para facilitar a tarefa, preparamos uma seleção dos melhores carros familiares para um regresso às aulas em grande.”


Para terminarmos, não podíamos deixar de referir a Vodaphone, que para a sua campanha escolheu o seguinte slogan: “Voltar às aulas nunca foi tão fish”.


Mais uma vez não sabemos o que pensarão os nossos leitores da campanha. Em boa verdade, nem nós próprios sabemos o que pensar, a única coisa que sabemos, é que a Pescanova deve estar neste momento a roer-se de inveja de não se ter lembrado de tão original slogan neste regresso às aulas. A acompanhar com umas pescadinhas de rabo na boca, ia mesmo bem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os professores vão fazer greve em 2023? Mas porquê? Pois se levam uma vida de bilionários e gozam à grande

  Aproxima-se a Fim de Ano e o subsequente Ano Novo. A esse propósito, lembrámo-nos que serão pouquíssimos, os que, como os professores, gozam do privilégio de festejarem mais do que uma vez num mesmo ano civil, o Fim de Ano e o subsequente Ano Novo. Com efeito, a larguíssima maioria da população, comemora o Fim de Ano exclusivamente a 31 de dezembro e o Ano Novo unicamente a 1 de janeiro. Contudo, a classe docente, goza também de um fim de ano algures no final do mês de julho, e de um Ano Novo para aí nos princípios de setembro.   Para os nossos leitores cuja agilidade mental eventualmente esteja toldada pelos tantos comes e bebes ingeridos na época natalícia, explicitamos que o fim do ano letivo é em julho e o início em setembro. É disso que aqui falamos, esclarecemos nós, para o caso dessa subtil alusão ter escapado a alguém.   Para além da classe docente, são poucos os que têm esta oportunidade, ou seja, a de ter múltiplas passagens de ano num só e mesmo ano...

Que bela vida a de professor

  Quem sendo professor já não ouviu a frase “Os professores estão sempre de férias”. É uma expressão recorrente e todos a dizem, seja o marido, o filho, a vizinha, o merceeiro ou a modista. Um professor inexperiente e em início de carreira, dar-se-á ao trabalho de explicar pacientemente aos seus interlocutores a diferença conceptual entre “férias” e “interrupção letiva”. Explicará que nas interrupções letivas há todo um outro trabalho, para além de dar aulas, que tem de ser feito: exames para vigiar e corrigir, elaborar relatórios, planear o ano seguinte, reuniões, avaliações e por aí afora. Se o professor for mais experiente, já sabe que toda e qualquer argumentação sobre este tema é inútil, pois que inevitavelmente o seu interlocutor tirará a seguinte conclusão : “Interrupção letiva?! Chamem-lhe o quiserem, são férias”. Não nos vamos agora dedicar a essa infrutífera polémica, o que queremos afirmar é o seguinte: os professores não necessitam de mais tempo desocupado, necessitam s...

Se a escola não mostrar imagens reais aos alunos, quem lhas mostrará?

  Que imagem é esta? O que nos diz? Num mundo em que incessantemente nos deparamos com milhares de imagens desnecessárias e irrelevantes, sejam as selfies da vizinha do segundo direito, sejam as da promoção do Black Friday de um espetacular berbequim, sejam as do Ronaldo a tirar uma pastilha elástica dos calções, o que podem ainda imagens como esta dizer-nos de relevante? Segundo a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, no pré-escolar a idade média dos docentes é de 54 anos, no 1.º ciclo de 49 anos, no 2.º ciclo de 52 anos e no 3.º ciclo e secundário situa-se nos 51 anos. Feitas as contas, é quase tudo gente da mesma criação, vinda ao mundo ali entre os finais da década de 60 e os princípios da de 70. Por assim ser, é tudo gente que viveu a juventude entre os anos 80 e os 90 e assistiu a uma revolução no mundo da música. Foi precisamente nessa época que surgiu a MTV, acrónimo de Music Television. Com o aparecimento da MTV, a música deixou de ser apenas ouvida e pa...

Avaliação de Desempenho Docente: serão os professores uns eternos adolescentes?

  Há já algum tempo que os professores são uma das classes profissionais que mais recorre aos serviços de psicólogos e psiquiatras. Parece que agora, os adolescentes lhes fazem companhia. Aparentemente, uns por umas razões, outros por outras completamente diferentes, tanto os professores como os adolescentes, são atualmente dos melhores e mais assíduos clientes de psicólogos e psiquiatras.   Se quiserem saber o que pensam os técnicos e especialistas sobre o que se passa com os adolescentes, abaixo deixamos-vos dois links, um do jornal Público e outro do Expresso. Ambos nos parecem ser um bom ponto de partida para aprofundar o conhecimento sobre esse tema.   Quem porventura quiser antes saber o que pensamos nós, que não somos técnicos nem especialistas, nem nada que vagamente se assemelhe, pode ignorar os links e continuar a ler-nos. Não irão certamente aprender nada que se aproveite, mas pronto, a escolha é vossa. https://www.publico.pt/2022/09/29/p3/noticia/est...

A propósito de “rankings”, lembram-se dos ABBA? Estavam sempre no Top One.

Os ABBA eram suecos e hoje vamos falar-vos da Suécia. Apetecia-nos tanto falar de “rankings” e de como e para quê a comunicação social os inventou há uma boa dúzia de anos. Apetecia-nos tanto comentar comentadores cujos títulos dos seus comentários são “Ranking das escolas reflete o fracasso total no ensino público”. Apetecia-nos tanto, mas mesmo tanto, dizer o quão tendenciosos são e a quem servem tais comentários e o tão equivocados que estão quem os faz. Apetecia-nos tanto, tanto, mas no entanto, não. Os “rankings” são um jogo a que não queremos jogar. É um jogo cujo resultado já está decidido à partida, muito antes sequer da primeira jogada. Os dados estão viciados e sabemos bem o quanto não vale a pena dizer nada sobre esse assunto, uma vez que desde há muito, que está tudo dito: “Les jeux sont faits”.   Na época em que a Inglaterra era repetidamente derrotada pela Alemanha, numa entrevista, pediram ao antigo jogador inglês Gary Lineker que desse uma definição de futebol...

Aos professores, exige-se o impossível: que tomem conta do elevador

Independentemente de todas as outras razões, estamos em crer que muito do mal-estar que presentemente assola a classe docente tem origem numa falácia. Uma falácia é como se designa um conjunto de argumentos e raciocínios que parecem válidos, mas que não o são.   De há uns anos para cá, instalou-se neste país uma falácia que tarda em desfazer-se. Esse nefasto equivoco nasceu quando alguém falaciosamente quis que se confundisse a escola pública com um elevador, mais concretamente, com um “elevador social”.   Aos professores da escola pública exige-se-lhes que sejam ascensoristas, quando não é essa a sua vocação, nem a sua missão. Eventualmente, os docentes podem até conseguir que alguns alunos levantem voo e se elevem até às altas esferas do conhecimento, mas fazê-los voar é uma coisa, fazê-los subir de elevador é outra.   É muito natural, que sinta um grande mal-estar, quem foi chamado a ensinar a voar e constate agora que se lhe pede outra coisa, ou seja, que faça...

Luzes, câmara, ação!

  Aqui vos deixamos algumas atividades desenvolvidas com alunos de 2° ano no sentido de promover uma educação cinematográfica. Queremos que aprendam a ver imagens e não tão-somente as consumam. https://padlet.com/asofiacvieira/q8unvcd74lsmbaag

Pode um saco de plástico ser belo?

  PVC (material plástico com utilizações muito diversificadas) é uma sigla bem gira, mas pouco usada em educação. A classe docente e o Ministério da Educação adoram siglas. Ele há os os QZP (Quadros de Zona Pedagógica), ele há os NEE (Necessidades Educativas Especiais), ele há o PAA (Plano Anual de Atividades), ele há as AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular), ele há o PASEO (Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória), ele há a ADD (Avaliação do Desempenho Docente), ele há os colegas que se despedem com Bjs e Abc, ele há tantas e tantas siglas que podíamos estar o dia inteiro nisto.   Por norma, a linguagem ministerial é burocrática e esteticamente pouco interessante, as siglas são apenas um exemplo entre muitos outros possíveis. Foi por isso com surpresa e espanto, que num deste dias nos deparámos com um documento da DGE (Direção Geral de Educação) relativo ao PASEO, no qual se diz que os alunos devem “aprender a apreciar o que é belo” .  Assim, sem ...

Dar a matéria é fácil, o difícil é não a dar

  “We choose to go to the moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard."   Completaram-se, no passado dia 12 de setembro, seis décadas desde que o Presidente John F. Kennedy proferiu estas históricas palavras perante uma multidão em Houston.  À época, para o homem comum, ir à Lua parecia uma coisa fantasiosa e destinada a fracassar. Com tantas coisas úteis e prementes que havia para se fazer na Terra, a que propósito se iria gastar tempo e recursos para se ir à Lua? Ainda para mais, sem sequer se ter qualquer certeza que efetivamente se conseguiria lá chegar. Todavia, em 1969, a Apolo 11 aterrou na superfície lunar e toda a humanidade aclamou entusiasticamente esse enorme feito. O que antes parecia uma excentricidade, ou seja, ir à Lua, é o que hoje nos permite comunicar quase instantaneamente com alguém que está do outro lado do mundo. Como seriam as comunicações neste nosso século XXI, se há décadas atrás ninguém tive...

És docente? Queres excelente? Não há quota? Não leves a mal, é o estilo minimal.

  Todos sabemos que nem toda a gente é um excelente docente, mas também todos sabemos, que há quem o seja e não tenha quota para  como tal  ser avaliado. Da chamada Avaliação de Desempenho Docente resultam frequentemente coisas abstrusas e isso acontece independentemente da boa vontade e seriedade de todos os envolvidos no processo.  O processo é a palavra exata para descrever todo esse procedimento. Quem quiser ter uma noção aproximada de toda a situação deverá dedicar-se a ler Franz Kafka, e mais concretamente, uma das suas melhores e mais célebres obras: " Der Prozeß" (O Processo) Para quem for preguiçoso e não quiser ler, aqui fica o resumo animado da Ted Ed (Lessons Worth Sharing):   Tanto quanto sabemos, num agrupamento de escolas há quota apenas para dois a cinco docentes terem a menção de excelente, isto dependendo da dimensão do dito agrupamento. Aparentemente, quem concebeu e desenhou todo este sistema de avaliação optou por seguir uma de...