Os nossos leitores poderão não acreditar, mas então não é que hoje de manhã nos caiu no terraço um satélite originário doutro planeta! Observámos com atenção o referido objeto, estudámos as informações que continha e concluímos sem margem para dúvidas que os marcianos nos andam a espiar.
Era com um certo espanto que íamos acompanhando nas TV’s as recentes notícias de que há instituições credíveis, como por exemplo a NASA ou o Congresso do México, que levam a sério a possibilidade de andarmos a receber visitas de seres alienígenas.
Até à presente data, pensávamos nós que isso era matéria de exclusivo interesse dos espectadores de filmes de ficção científica e de uns quantos lunáticos, mas depois disto, e diante do satélite que nos caiu no terraço, sabemos que afinal não.
Não sabemos se sabem, mas este crescente interesse das TV’s com ET’s prende-se com a descoberta de que houve uma série de avistamentos inexplicáveis de objetos voadores não identificados (OVNI’s) realizados no espaço aéreo norte-americano, ou nas suas proximidades.
Simultaneamente, há uns dias, no congresso mexicano foram exibidos dois pequenos “corpos”, com três dedos em cada mão e cabeças alongadas, que supostamente são extraterrestres encontrados numas grutas no Peru em 2017.
Como em tempos cantou Lou Reed numa canção intitulada “Satellite of love”:
“Things like that drive me out of my mind
I watched it for a little while
I like to watch things on TV”
Na realidade quem somos nós para opinarmos se há ou não mais gente no universo infinito e, caso a haja, se nos vieram ou não visitar? Até hoje de manhã não éramos ninguém, mas agora temos em nossa posse os dados de um satélite caído de Marte. Já os analisámos e portanto, no atual momento, sabemos bem do que estamos a falar.
Uma das maiores surpresas que tivemos, foi a de que os marcianos andam a investigar fenómenos mais assim a atirar para o terra-a-terra, mas que, e mesmo assim sendo, são fenómenos absolutamente incompreensíveis para a sua inteligência alienígena. Querem um exemplo do que falamos? As escadas rolantes!
Com efeito, um dos maiores mistérios para as mentes marcianas e igualmente para as nossas, diga-se de passagem, é a razão pela qual em Portugal muitas das escadas rolantes no metropolitano, nas estações de comboio e nos aeroportos estão quase sempre estragadas. É algo que acontece de norte a sul do país e não se consegue perceber porquê. Nem aqui, nem em Marte.
Nem precisámos de ver nas TV’s para o sabermos, conhecemos vários sítios em que as ditas escadas estão frequentemente em manutenção durante seis meses, um ano ou até bastante mais.
Ninguém nos contou, fomos nós próprios que o vimos e, por consequência, podemos afiançar a quem nos lê que esses estranhos fenómenos realmente existem, não são fruto da imaginação de ninguém. Vimos nós e os marcianos também.
Mesmo não necessitando das TV’s e dos jornais para o confirmar, ainda assim, refira-se que no passado mês de agosto houve umas quantas notícias sobre o assunto, nomeadamente no jornal Público e na SIC Notícias. Nessa ocasião, era do metropolitano de Lisboa que se falava.
Deixamos-vos essas notícias, pois encontrámos os seus links entre os dados que o satélite marciano que nos caiu no terraço continha:
Bom, já temos então montes de fenómenos inexplicáveis, OVNI’s, satélites caídos, alienígenas e escadas rolantes, acrescentemos agora a todos esses mais um: a insistência das TV’s em afirmar que a escola pública portuguesa não funciona como um elevador social.
Para nós, esta insistência das TV’s nesse tema é ainda mais misteriosa e inexplicável que os OVNI’s, os ET’s, que um satélite no terraço ou que as escadas rolantes em constante manutenção. É-o para nós e, mais uma vez, também para os marcianos, pois também sobre esse assunto havia abundantes dados no seu satélite.
Ainda ontem, numa visita à renovada Escola Secundária Alexandre Herculano no Porto, quando questionado por repórteres sobre esse assunto, o atual primeiro-ministro recusou a ideia que a escola pública tenha deixado de desempenhar o papel de elevador social.
O nosso ponto não é que um primeiro-ministro em funções o tenha dito, isso ninguém estranha, está conforme à ordem natural das coisas. O que verdadeiramente nos importa é que há muito mais quem também o diga.
Entre os dados que recolhemos no satélite marciano, encontrava-se o recente estudo da OCDE “Education at Glance 2023”. Este concluiu que em média, nos países da OCDE, quem tem o ensino superior ganha mais 44%, enquanto que em Portugal ganha mais 58%.
Da leitura desse estudo da OCDE, resulta também a constatação de que a probabilidade de acesso ao ensino superior continua a ser maior por parte de alunos que vêm de contextos económicos mais prósperos, mas não é, de modo absolutamente nenhum, tão abissal como era há uns quantos anos. Houve uma evolução muito positiva do próprio sistema educativo, existindo uma maior mobilidade social do que anteriormente alguma vez existiu.
Aparentemente é disso que os marcianos têm ciúmes de nós e que os deixa também confusos, ou seja, o nosso sistema educativo efetivamente funciona como um elevador social, mas as TV’s agem como se não.
Deixa-os confusos isso, e o facto das escadas rolantes não funcionarem e quem tem essa responsabilidade agir como se essa fosse uma situação normal.
Independentemente dos problemas do nosso sistema de educação pública, que inegavelmente existem e não são poucos, o que é misterioso e inexplicável, é o tom catastrofista das TV’s relativamente à escola pública e à sua função como elevador social.
Descobrimos que os marcianos, a propósito do estudo “Education at Glance 2023” e do que este diz sobre Portugal, foram verificar se a nível internacional o tom das notícias é o mesmo das TV’s que operam no território nacional. Para tal, pegaram apenas em excertos de frases publicadas num site de uma cadeia global de notícias. Dada sua inteligência alienígena, os excertos chegaram-lhes para apreciarem o tom. Escolheram uma das grandes “networks” mundiais, cuja sede fica bastante longe de Portugal, de modo a assim terem, presumimos nós, uma perspetiva mais isenta, imparcial e distante.
Dito isto, vejamos então se lá por fora, o tom é o mesmo que por cá: “According to a recent report from the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Portugal shows a promising education landscape…”, “The situation in Portugal is less problematic than the average in the OECD or the European Union…” e “The ‘Education at a Glance’ report, a comprehensive study on education from pre-school to higher education in 48 countries, also highlights an increase in Portuguese with higher education…”
Cremos que nem para os nossos leitores, nem para os marcianos, há discussão possível, o tom é completamente distinto. Lida por inteiro a notícia, esta salienta também os problemas da educação nacional, contudo, o que aqui interessa é verificar o tom e acerca disso não há dúvidas. Tal como não há dúvidas dos ciúmes que os marcianos sentem do nosso sistema público de educação.
Em qualquer dos casos, aqui fica o link com o artigo completo:
Em resumo, a conclusão dos marcianos é a de que em Portugal o ensino público funciona como elevador social tão bem, ou até melhor, de que como em média funciona nos restantes países da OCDE.
Se tudo o resto na nossa nação também funcionasse como funciona em média nos outros países da OCDE, de certeza absoluta que já teríamos chegados aos lugares cimeiros.
E com isto nem sequer estamos a referir-nos a coisas muito complexas como a produtividade, a modernização tecnológica ou o desenvolvimento, bastava que coisas tão simples como as escadas rolantes funcionassem, e só com isso, já chegávamos mais depressa lá acima.
E pronto, terminada esta surpreendente manhã, vamos almoçar, aguardando ansiosamente que, à semelhança do que nos sucedeu a nós, caia algum satélite vindo de Marte no terraço de uma TV, a ver se descobrem que o tom que dão certas notícias sobre educação está completamente equivocado. Na verdade, está tão longe da realidade, que é mesmo do outro mundo.
Para finalizar, “Satellite of Love” de Lou Reed, que nos conta de um modo elíptico, a história de um rapaz que tinha uma rapariga e de como à volta dela rodavam constantemente imensos “satélites”, coisa que o deixava a ferver de ciúmes:
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