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Se és um docente deslocado e não encontras casa ou quarto...

Em setembro há muitos docentes deslocados que procuram uma habitação, o problema é que esta não existe a um valor minimamente decente. A nossa solução para resolver a situação é uma simples e lógica equação: se não há casas para docentes a preços decentes, resta aos docentes serem indecentes. Ou seja, se A implica B e B implica C, então, A implica C. 

Já detalharemos mais à frente a nossa ideia, mas antes disso, uma breve contextualização. Uma das novidades dos últimos anos foi a de que, sobretudo em Lisboa e no Algarve, os professores deslocados para esses lugares, passaram a ter graves problemas em arranjar habitação.

Se até há uns tempos havia casas a preços normais, que eram arrendadas conjuntamente a dois ou três docentes, ficando cada um deles com o seu quarto individual e partilhando os espaços comuns, agora até o valor mensal da renda de apenas um só quarto parece ser praticamente incomportável. 
Os docentes deslocados que eventualmente nos estejam a ler ficam já a saber que podem contar com a nossa solidariedade. Ainda bem recentemente tentámos arrendar o quarto da fotografia abaixo e pediram-nos a módica quantia de 8.500 euros por dia! Um escândalo!


Lemos no início de agosto no jornal Observador, que tendo em vista fazer frente a este premente problema, o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana e a DGAE assinaram um protocolo que visa garantir habitação a professores deslocados.
Ao lermos, percebemos que esse protocolo prevê que sejam disponibilizados quinze apartamentos no centro da cidade de Portimão e outros catorze em Lisboa, uma fartura... acrescente-se um outro pormenor, estes vinte e nove apartamentos não se destinam exclusivamente a professores, mas também a profissionais da saúde igualmente deslocados.
Houve quem começasse a fazer as contas e concluísse que mesmo sendo esta a primeira fase do protocolo, ainda assim, o número de apartamentos disponíveis era um tanto ou quanto risível face ao número total de professores deslocados. Mais risível se torna, se somarmos a esse primeiro total, também o número total de profissionais de saúde deslocados. Talvez a intenção seja mesmo essa, alegria no trabalho é coisa boa para os profissionais da educação e da saúde. O que faz falta é animar a malta! 

Há quem goste de ser desmancha-prazeres e, por consequência,  começaram logo a chover críticas, como a deste artigo no Observador:
Nós aqui não vamos opinar, pois que não nos metemos em questões políticas. Para além disso, como ao início anunciámos, temos uma solução na nosso mão e que também promete ser animada. 
Essa solução poderá ser implementada nos apartamentos disponibilizados através do protocolo acima referido, mas também numa qualquer outra habitação que seja arrendada pelos docentes deslocados aos seus legítimos proprietários.
Uma coisa parece-nos óbvia, os problemas de falta de habitação dos docentes deslocados seriam muitos menores, se estes começassem a dormir num mesmo quarto e a partilhar uma mesma cama. Por exemplo, num apartamento com dois quartos individuais, ao invés de se alojarem apenas dois docentes, ficando um em cada quarto, podiam perfeitamente alojar-se quatro (ou quiçá mais), ou seja, ficariam pelo menos dois em cada quarto, compartilhando para isso uma mesma cama.

Quem nos lê compreende agora todo o alcance da nossa solução e da equação lógica que apresentámos: se as casas para docentes estão a preços não decentes, o que resta aos docentes é serem indecentes.
Vamos a um exemplo. Suponhamos que uma docente de Economia, proveniente de Mirandela e senhora casada há mais de vinte anos, séria e decente, é deslocada para uma escola de Lisboa. Procura sítio para ficar durante o ano letivo e vê um anúncio de um quarto de dez metros quadrados por oitocentos euros em Alcabideche.
Suponhamos também, que um professor de História de Portugal vindo de Vila Viçosa, homem recatado, casto e viúvo de longa data, foi deslocado para a mesma escola de Lisboa. Procura igualmente alojamento. Conhecedora desse facto, a professora de Mirandela dirige-se ao seu novo colega de Vila Viçosa e questiona-o arrojadamente:

- Não lhe pareceria ao colega, ser pertinente em termos económico-financeiros, que durante este ano letivo partilhássemos a mesma cama num quarto em Alcabideche?
Inicialmente o docente de Vila Viçosa reagiria com espanto perante tão indecente sugestão, mas uma vez sendo-lhe explicados os fundamentos da proposta, compreenderia imediatamente as suas vantagens e logo retorquiria:

- Pois sim, que aceitaria. Dividiríamos o valor da renda e, assim sendo, de verbas mais avultadas ambos disporíamos ao final de cada mês. A proposta que me faz é tão vantajosa, que me deixa tão feliz e excitado como se porventura tivesse subido quatro escalões de seguida na carreira docente.

- Quatro escalões de seguida?!!! De seguida?!!! Já estou a ver que ao colega ambição e imaginação não lhe faltam, vamo-nos de certeza dar bem na nossa cama de Alcabideche.
Como os nossos leitores já terão percebido, a indecente partilha de quarto e de cama pelos decentes docentes deslocados, não só solucionará os seus problemas de habitação, como lhes trará também compensações emocionais e toda uma outra feliz excitação ao imaginarem que vão subir de escalão. Com esta solução, e se não lhes faltar ambição, seriam muito mais os que chegariam ao cume da carreira docente e ao último escalão.
No exemplo que apresentámos, a todas as vantagens referidas, que já de si não são poucas, juntar-se-iam também outras, como por exemplo, o poder-se ir comendo coisas diferentes. Com efeito, não é descabido pensarmos que o docente de Vila Viçosa de quando em quando, não se importaria de cozinhar uma iguaria da sua terra, tipo umas migas ou uns pezinhos de coentrada, e que por sua vez, a docente de Mirandela, retribuiria tal gentileza, com uma bela alheira confecionada por ela.
Como é evidente, esta indecente solução que propomos, em determinadas circunstâncias poderia ter os seus problemas. Em boa verdade, ter-se-ia que levar em consideração as áreas disciplinares dos docentes, pois nem todas seriam convenientes. Como todos sabemos, nem todas as articulações, sejam elas verticais ou horizontais resultam na perfeição.
Imagine-se a seguinte conjugação de professores deslocados a compartilharem a mesma cama: ele professor de Educação Física que só pensa em fazer ginástica, ela professora de Físico-Química que não se cansa de fazer experiências. Alguns dos nossos leitores poderão pensar neste momento, que essa situação até poderá ter o seu encanto, contudo, se pensarem bem, vão ver que não.
Com efeito, a aprendizagem da Educação Física baseia-se bastante na prática de exercícios de repetição até se atingir a perfeição: sempre o mesmo aquecimento, iguais saltos e extensões e as mesmas cambalhotas. Já a Físico-Química vive de testar hipóteses, de fazer experiências e de realizar novas descobertas. Com certeza que já todos perceberam o potencial problema que neste caso pode vir a existir.
Todavia, também para este eventual problema de coabitação, há uma solução: o Conselho Municipal de Educação. No início do ano letivo, todos os diretores de cada concelho reunir-se-iam e fariam não a distribuição de serviço, mas sim a distribuição de quartos e camas. Analisando as formações e habilitações de todos os docentes deslocados para a sua localidade, e de acordo com critérios previamente estabelecidos, procederiam a uma distribuição que acautelasse quais as áreas disciplinares mais propícias para uma boa coabitação entre docentes de modo a que as articulações transversais fossem as melhores. 

Em conclusão, os problemas de habitação têm solução. Desde o momento que haja boa vontade e trabalho colaborativo, toda a classe docente terá um excelente ano letivo!

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