Contrariamente ao que sucede no último dia de dezembro durante o réveillon, no primeiro dia de setembro, diante o início de um novo ano letivo, não há cá festas nem champagne do bom. Por vezes, até anda tudo com cara de enterro e regressa-se ao trabalho como se fôssemos para um desterro ou nos tivessem aplicado uma condenação a pena de prisão.
No entanto, não há qualquer razão objetiva para sentirmos tal aflição no regresso ao trabalho. Como não? Perguntarão os nossos leitores. A solução para essa questão é simples, mas simultaneamente complexa. Simples porque uma vez percebida a resposta é absolutamente clara e transparente. Complexa porque exige grande concentração, capacidade de abstração e de dedução.
Aos nossos leitores que choram pelo fim das férias e do verão, propomos uma equação que vos vai aquecer o coração. Tudo se sintetiza do seguinte modo, se pensarem com emotividade (Em) e subjetividade (Sj), os dias de um ano de trabalho (At) parecer-vos-ão muitos e demorarão uma infinidade de tempo a passar, já se pensarem com lógica (Lg) e objetividade (Oj), verão que os dias passarão com leveza e tranquilidade e que um ano de trabalho (At) não vos custa nada.
Matematicamente a coisa resume-se assim:
se (Em + Sj) então At = ∞, se (Lg + Oj) então At = Ø
Mas antes de nos alongarmos em mais explicações e equações, vamos a uma pausa musical. Não queremos começar logo à bruta com uma grande reflexão. Vamos a pouco e pouco, pois que ainda estamos em período de transcrição.
Para que percebam que nem todos amam assim tanto as férias, o sol e o tempo quente, e que isto é tudo muito relativo, um clássico da música ligeira italiana em que se diz repetidamente “oddio l’estate”, ou seja, odeio o verão:
Bom, agora já mais repousados, vamos lá então a mais reflexões, equações e explicações. Fomos fazer contas e descobrimos que em termos abstracto-matemáticos, ou seja, objetivos, não há grande razão para se desesperar com o regresso ao trabalho, pois que os dias passados a laborar, não são afinal assim tantos quanto isso.
Por estranho e absurdo que vos possa parecer, em termos abstracto-matemáticos, é até difícil de se perceber em que dias efetivamente se vai mesmo trabalhar. Segundo as nossas contas, e sendo completamente objetivos, não se vai! Está-se o ano inteiro sem se fazer nada!
Não nos interpretem mal, não estamos a insinuar que alguém não seja um bom profissional ou não cumpra com o seu dever laboral, não é de nada disso que estamos a falar. Como já vos dissemos, as nossas afirmações prendem-se tão-somente com cálculos abstratos da mais elevada objetividade e complexidade matemática. Se nos acompanharem, já perceberão.
Decidimos combinar os métodos de cálculo infinitesimal, coisa que nem sabemos bem o que seja, com o princípio matemático da relatividade de Einstein, que é outra coisa acerca da qual também pouco sabemos. Ainda assim, juntámos ambas e obtivemos resultados absolutamente surpreendentes.
Não vos vamos agora aqui apresentar todos os nossos extensos e elaborados cálculos, pois não queremos aborrecer-vos. Para nos acompanharem, basta saberem que a matemática abstrata e relativa, pressupõe uma objetividade que vai muito para além das vulgares e habituais realidades subjetivas. Tendo presente essa noção, tudo o resto compreenderão.
O que descobrimos nas nossas contas e equações, foram coisas de que jamais suspeitaríamos e que com certeza os nossos leitores também não. Descobrimos um paradoxo lógico, ou seja, que neste país, apesar de aparentemente se trabalhar bastante, analisando as coisas no contexto do princípio da relatividade abstrata-matemática, objetivamente passam-se os dias sem se fazer absolutamente nada.
Vejamos como, simplificando os nossos exaustivos cálculos, de modo a que todos sejam acessíveis.
Ao rigor, um ano tem 365,242199 dias. Contudo, o que aqui verdadeiramente nos importa não é propriamente essa rigorosa exatidão, mas sim quantos desses dias são efetivamente passados a trabalhar.
Sejamos práticos pois que 365,242199 não é número nada certo, por consequência, vamos arredondar para cima. Deste modo, para efeitos desta nossa conversa, um ano passa então a ter 366 dias exatos, nem mais nem menos.
Não vale pena serem picuinhas e virem-nos com a conversa dos anos bissextos. É mais fácil assim, uma vez que as contas com vírgulas são muito difíceis e complicadas de se fazer e nós não andamos nisto para nos maçarmos com minudências.
Tendo um ano 366 dias, se dormirmos em média oito das vinte e quatro horas que cada um desses dias tem, um terço portanto, por extensão já lá vai um terço do ano sem termos de trabalhar.
As contas são fáceis de fazer, se ao total dos 366 dias do ano retiramos o terço do tempo em que estamos a dormir, ou seja, 122 dias, restam-nos então dois terços, ou seja, temos 244 dias para trabalhar.
Mas como é evidente, normalmente ninguém trabalha durante as restantes 16 horas de cada dia. Na maioria das vezes, está-se ao serviço em metade desse tempo, ou seja, por oito horas diárias. Logicamente, os 244 dias que antes nos restavam, ficaram agora reduzidos a metade, a saber, a 122 de trabalho.
Como em média há 52 fins-de-semana por ano, somando todos os sábados e domingos, contabilizamos um total de 104 dias. Se formos então aos 122 dias que sobraram e subtrairmos os 104 dias dos fins-de-semana, ficam apenas 18 dias para trabalhar.
Não contando com o Carnaval nem com os feriados municipais, há 13 feriados nacionais, logo, dos 18 dias sobram tão-somente 5. Se destes cinco dias ainda retirarmos uma ou outra ponte, uma greve, uma tolerância de ponto e algum outro momento em que estejamos engripados e fiquemos acamados, o resultado está à vista, ficamos a dever dias de trabalho à entidade patronal.
Cremos que os nossos leitores terão conseguido acompanhar a complexidade matemática dos cálculos que apresentámos, mas perante o resultado final, haverá quem se coloque a seguinte questão: mas se eu me levanto todos os dias da cama à hora certa e vou trabalhar, como pode ser possível que ainda fique a dever dias ao patrão?
A resposta já a demos antes, quem pensa com emotividade e subjetividade, crê que passa os dias a trabalhar, já quem pensa matematicamente e com objetividade, sabe que não.
Sabe que, mesmo levantando-se diariamente pela manhã, indo para o emprego, esforçando-se e chegando a casa cansado, tudo isso não passa de uma ilusão subjetiva, pois que, de acordo com o princípio da relatividade e com os mais sofisticados cálculos matemáticos que dele decorrem, objetivamente nada fez.
Dirão agora alguns dos nossos leitores, que toda esta nossa conversa é uma parvoíce pegada. Pois sim, mas a esses diremos nós que também a Galileu Galilei lhe disseram que era parvo, quando ele disse que era a terra que rodava em volta do sol e não o contrário.
Em resumo, as grandes descobertas científicas são sempre recebidas por muitos com incredulidade, mas posteriormente acabam por ser aclamadas por toda a humanidade. Aguardemos com serenidade.
Muitas vezes, a cultura popular como que antecipa as grandes descobertas. Antes de existirem viagens espaciais, há muito que o cinema as encenava. Foi o que também parece ter sucedido nesta situação. Fomos desenterrar ao arquivo um tema musical de Sheena Easton intitulado “Nine to five”.
Na canção fala-se de horários laborais, mais concretamente os daqueles que trabalham na ferrovia das nove às cinco. Quem se der ao trabalho de ir ver o vídeo, verificará que ninguém está com um ar de estar objetivamente a trabalhar. Riem, brincam, sorriem e cantam. Ou muito nos enganamos, ou algures nos anos 80, Sheena Easton antecipou os cálculos que hoje aqui vos apresentámos e descobriu que o trabalho é uma ilusão subjetiva.
Terminamos deixando-vos o vídeo para que o comprovem:
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