INTENÇÃO – Fomos ao documento oficial das Aprendizagens Essenciais, e aí encontrámos inspiração para viajarmos pelo oriente, pela arte, pela cultura e por quem somos… tudo isto está nas alíneas a) e b). No final perceberão porquê.
"Bela e Cruel" é um guião de aprendizagem cheio de segundas intenções e de múltiplos reflexos. Há uma primeira intenção óbvia, que é a de preparar os alunos para uma visita ao Museu Gulbenkian, mas depois existem outras. Como por exemplo, fazer com que os alunos reflitam sobre a sua relação com costumes, tradições e gentes diferentes, e muito particularmente com as do Japão. Para além disso, queríamos ainda falar da natureza, tanto da sua brutal força, como da sua delicada harmonia.
Tudo isto se mistura neste guião, Gulbenkian, Japão e natureza acabam por mutuamente se refletir, convergindo para um mesmo espelho onde tudo acabará por se juntar e fundir. Esse espelho é cada um dos alunos.
Abaixo a imagem de uma obra de Vincent Van Gogh onde as estrelas, o céu, o rio, a cidade e tudo o mais se mistura e funde num todo.
Vincent Van Gogh foi imensamente influenciado pelas antigas gravuras japonesas. Os seus afamados quadros com girassóis, prados e campos de flores jamais existiriam caso o pintor não tivesse antes visto iguais temas desenhados por ancestrais mestres nipónicos.
Não existirão certamente muitas outras civilizações,
que tenham uma tão requintada relação com a natureza como a japonesa. Não se
trata tão-somente de a proteger ou de a respeitar, é algo distinto disso. É
como se no Japão cada pétala de flor, cada riacho, cada monte ou cada pedra,
dissesse e revelasse muito mais, do que noutros locais do mundo.
Por alguma razão, pressentimos nessas paragens distantes um entendimento entre as coisas humanas e as naturais, que não vemos nos demais lugares. Quase sem que se dê por isso, é como se ambas se refletissem umas nas outras e convivessem harmoniosamente, fundindo-se num todo sem mais nem porquê.
Não é bem verdade, porque há sítios fora do Japão, onde pressentimos igual entendimento. Um deles é na Fundação Calouste Gulbenkian. A delicadeza e o cuidado colocado no desenho da paisagem natural, na construção dos edifícios e modo como tudo convive, terão sido tão grandes, que tudo parece refletir-se e fluir, havendo uma tranquila transição entre o natural e o artificial, que tal e qual como no Japão, quase nos passa despercebida. É por isso o lugar ideal para ver arte, razão pela qual o iremos visitar.
Queremos com isto dizer, que não há quem não consiga
sentir em si a harmonia, a pureza e a beleza da natureza. Nos nossos melhores e
mais felizes momentos, quando estamos calmos e em paz, a natureza como que
entra por nós adentro. Nesses instantes zen de absoluta tranquilidade, como que
a sua harmonia se espelha em nós e nós nela e tudo convive, se junta e se
funde.
Foi por essa razão que pedimos a cada um dos alunos que nos contasse uma coisa boa e bela da sua vida. Fizemo-lo na ficha de exploração deste guião .
Seria precisamente nesses momentos em que simplesmente se deixavam estar a contemplar a natureza, que nos milenares templos budistas os antigos monges-poetas japoneses compunham os seus haikus. Foi isso mesmo que tentámos que os alunos conseguissem. Que também eles sentissem uma profunda ligação aos montes, ao mar, às árvores, às flores, às pedras, ao céu e às estrelas e compusessem e ilustrassem um haiku.
Houve quem falasse da neve:
E houve também quem falasse das flores:
Mas a natureza tem uma outra face, uma muito mais
brutal e imprevisível, que revela todo o seu tremendo poder em certos momentos.
Foi o que sucedeu aquando do terramoto de Lisboa no dia 1 de novembro de 1755.
Aí houve tudo menos paz, tranquilidade e harmonia. O que houve foi caos,
destruição e morte.
É importante que a natureza não seja compreendida
apenas como uma coisa bela e idílica, ou seja, que se perceba, que nela há
igualmente um lado selvagem e cruel. Tal conhecimento não nos serve apenas para
nos prevenirmos e tomarmos medidas protetoras para a eventualidade de termos
de lidar com desastres ou catástrofes naturais, como cheias, tempestades, fogos
ou sismos, serve-nos igualmente para refletirmos e sabermos quem somos.
Significa isto, que a consciência de que temos de
estar preparados para enfrentar a imprevisibilidade da natureza não tem apenas
um valor prático, preventivo e utilitário, tem também um valor para nossas
vidas enquanto indivíduos.
Mais uma vez, é como se a natureza se refletisse bem
dentro de cada um de nós, pois que, com toda a certeza, em algum momento
teremos de enfrentar nas nossas vidas, situações que nos parecerão ser como
vendavais, abalos, ventos contrários ou marés adversas.
É nesses momentos, que aqueles que estão plenamente
conscientes de que tal faz parte da natureza da vida, não se resignam e traçam
planos, reconstroem-se e erguem-se do chão, tal e qual como Lisboa renasceu das
cinzas sob as ordens do Marquês de Pombal. É portanto também uma lição moral e
emocional, essa que a natureza nos dá quando nos revela a sua face mais cruel.
Foi igualmente essa a lição que quisemos que os alunos aprendessem e nela
refletissem.
Talvez se recordem, que no início deste texto, dissemos
que nos inspirámos no documento oficial das Aprendizagens Essenciais.
Transcrevemos agora abaixo, a fonte da nossa inspiração:
O documento AE estrutura-se de acordo com os domínios mencionados,
sendo que, em cada um são identificados os conhecimentos a adquirir, as
capacidades e as atitudes a desenvolver indispensáveis, relevantes e
significativos. Também são indicadas, a título
exemplificativo, ações estratégicas de ensino orientadas para as áreas de
competências definidas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória
(PA). Assim, ao longo do 1.º ciclo do ensino básico, o aluno deve:
a) Adquirir um conhecimento de si próprio, desenvolvendo atitudes de
autoestima e de autoconfiança;
b) Valorizar a sua identidade e raízes, respeitando o território e o seu ordenamento, outros povos e outras culturas, reconhecendo a diversidade como fonte de aprendizagem para todos;
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