INTENÇÃO - Comecemos pela capa onde vemos olhares inquietos que se interrogam e nos interrogam com uma questão: "Onde é que está a matéria?"
Mas esses olhares dão-nos logo uma
primeira resposta. Temos olhares na flor da idade e mais amadurecidos, uns
modernos e outros antigos, e também cubistas e figurativos. Com efeito, ao
compormos a capa deste guião pensámos que a exploração deste conjunto de
imagens permitiria trabalhar pelo menos uma das aprendizagens essenciais da
área de Educação Artística:
- Captar a expressividade contida na
linguagem das imagens e/ou outras narrativas visuais.
Quem anda há muito nisto da educação,
já viu de tudo: objetivos mínimos, objetivos gerais, objetivos específicos,
metas, programas, e tutti quanti. Nos tempos atuais temos Competências,
são as que constam do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória
(PASEO).
Haverá muito quem pense que este é só
mais um “palavrão” a juntar a uma multidão de tantos outros. Mas nós não! Razão
pela qual tentámos que a palavra Competências tivesse significado e não
fosse tão somente mais um termo técnico destinado à mesma sorte de todos os
anteriores, ou seja que não correste o risco de se tornar letra morta e nada
significar.
Assim, resolvemos explorar com os
alunos o significado das Competências e fazê-los pensar na sua
importância para concretizarem o que sonham ser. Vejamos um primeiro exemplo.
Há um aluno que sonha fazer doces com
o avô…
Um outro, ambiciona um futuro a desenhar heróis e vilões. Sonha com o mundo da BD…
E um terceiro quer ser arqueólogo. Acha ele…
A verdade é que, apesar destes alunos serem de tenra idade, conseguiram compreender o que são e para que servem as Competências.
Se bem repararam, um quer ser
doceiro, outro quer ser autor de BD e o último, arqueólogo. Há uns anos atrás
era improvável que estas fossem as profissões sonhadas. Há uns anos atrás havia
objetivos e não competências… mudam-se os tempos, mudam as vontades.
Curiosamente foi precisamente esta a expressão, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, com que continuámos o nosso guião. Não só usámos a expressão, como o poema em toda a sua extensão
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
À partida dir-se-ia que o poema de
Camões não seria compreensível para alunos tão jovens, todavia, não é esse o
nosso parecer. Cada vez mais, há expressões que pouco ou nada nos dizem. São
expressões mortas, meros clichés, lugares-comuns. Contudo, nós queremos
devolver significado às palavras. Tal e qual como o tentámos fazer com o termo Competências,
tentámo-lo igualmente com a expressão “mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades”. Para isso, pedimos aos alunos que recitassem o poema, trabalhando
assim as seguintes aprendizagens essenciais de português:
- Compreender textos narrativos,
poéticos e dramáticos, escutados ou lidos.
- Ler poemas em público, com
segurança.
- Fazer a leitura dramatizada de obras literárias.
Não há momentos em que mais se mudem
os tempos e as vontades, do que aqueles em que se dão grandes transformações,
como foi o caso na transição da Monarquia para a República. Tal como sucede com
as palavras, também por vezes acontece às datas históricas tornarem-se letra
morta. Todos sabem que é feriado, mas poucos saberão por qual razão…
Explicitar de que forma se exerce o
poder numa monarquia ou numa república e quais as Competências
necessárias em cada um dos regimes, faz com que a data histórica recupere o seu
sentido e não seja só um dia livre. Em síntese, o 5 de outubro de 1910 não é
apenas uma matéria, é um acontecimento revestido de significado.
Mais do que isso, esse significado está vivo e cruza-se com a realidade e a atualidade. Simulámos um referendo no qual os alunos teriam de optar por um dos regimes e justificar a razão dessa sua opção. Deixamos-vos um exemplo.
Com esta atividade, trabalhámos
aprendizagens essenciais de Cidadania e Desenvolvimento e de Estudo do Meio:
- Instituições e participação
democrática
- Conhecer personagens e aspetos da
vida em sociedade relacionados com os factos relevantes da história de Portugal,
Terminámos este guião com imagens de jardins com padrões geométricos. Os do Palácio de Versalhes, claro está, mas também os de Belém e os da Fronteira. No entanto, também os há na Beira, como por exemplo, em Castelo Branco.
Quando olhamos para um jardim geométrico sabemos imediatamente onde está a matéria. É tal e qual como num manual. Há um padrão que se repete. A função do jardineiro é fazer com que nada mude nem se transforme. Já quando olhamos para os jardins da Gulbenkian, o nosso olhar inquieta-se e interroga-se. Pergunta-se “Onde é que está a matéria?” É tal e qual como num poema, tudo reflete a mudança dos tempos e das vontades. E por isso, quem o vê, vê-o revestido de significados, tenha para isso “arte e engenho”, ou seja, Competências para saber passear, deambular e divagar.
Mas quanto à DIVAGAÇÃO, fica para a
próxima publicação.
Recordamos que quem quiser saber mais
sobre a nova recente orientação deste blog, o poderá fazer lendo o texto
anterior intitulado “INSPIRAÇÃO, INTENÇÃO e DIVAGAÇÃO”, as três graças que
partir de agora serão as nossas musas.
https://ifperfilxxi.blogspot.com/2023/10/inspiracao-intencao-e-divagacao.html
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