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Em busca do tempo perdido

 


INSPIRAÇÃO/INTENÇÃO - Como todos sabemos, atualmente é quase como se só existisse o presente. No espaço público, por exemplo, a um grande acontecimento mediático sucede-se um outro que faz esquecer o anterior e assim continuamente. Nada permanece durante muito tempo, vai-se vagamente vivendo conforme a espuma dos dias.

 


Tal não sucede apenas nas notícias, acontece o mesmo por todo o lado, a cada momento vemos contínuas novidades, que rapidamente se tornam velhas e obsoletas. Mesmo coisas relativamente recentes, parecem já pertencer a um mundo passado e serem de há uma eternidade.

 

Esta voragem do presente arrasta-nos numa espiral em que tudo é velozmente consumido, esquecido e substituído. O que isso provoca é uma ausência de perspetiva, tudo é vivido como se fosse pela primeira vez e pouco ou nada se aprende com o passado.

 

Foi partindo dessa constatação que criámos o guião de aprendizagem "A Espiral do Tempo". Em termos genéricos, interessava-nos que os alunos percebessem donde vinham, ou seja, do espaço histórico, cultural e civilizacional europeu, onde se insere o seu país e também a sua cidade, neste caso, Lisboa. Deixamos-vos ainda a ficha de exploração.

 

Como daqui a uns tempos iremos visitar o Museu Calouste Gulbenkian, queríamos ainda que se apercebessem das metamorfoses pelas quais passou o local onde o referido museu se encontra.

Por fim, pretendíamos que conhecessem algumas gravuras e pinturas que espelhassem as diversas idades por que vamos passando ao longo da nossa vida. Em síntese, o objetivo era que entendessem que nada se esgota no presente e que há muito a aprender com o passado.

                    

Para começar mostrámos-lhe um mapa da Europa que se vai transformando ao longo dos séculos, inicia-se no ano 400 a.C. e vai continuamente mudando até à atualidade.

Em cerca de dez minutos, podemos observar o nascimento, expansão e queda do Império Romano. Mas também como a civilização moura entrou pela Península Ibérica adentro, a conquistou e aí permaneceu durante largos séculos. Assistimos depois à formação de reinos como os de Castela e Leão e, claro está, o de Portugal. Vemos ainda a formação de poderosas nações europeias como França, Alemanha, Itália ou o Reino Unido. E mais para o fim, os efeitos que as duas grandes guerras mundiais tiveram nas fronteiras.

 

Aqui fica o link, para quem quiser assistir a tudo isto:

                       

Queríamos também que os alunos vissem as transformações sofridas ao longo dos tempos por Lisboa, cidade que já foi Olissipo no tempo dos romanos e Alusbuna no tempo dos mouros.

É conhecido o muito que a civilização romana nos deixou, desde todas as estradas que vão dar a Roma, até às leis. É igualmente sabido o que os mouros nos legaram, entre outras coisas, a sua numeração, bem como palavras como Algarve, azeite, almofada e oxalá. O que talvez já não seja tanto do conhecimento comum, é que entre os mouros que viviam no território que é agora o de Portugal, existiam grandes poetas.

Esses poetas foram traduzidos para português, tendo as suas poesias sido reunidas num livro intitulado “O meu coração é árabe”. Aqui vos deixamos duas passagens de poemas desse tempo. O autor de ambas é Ibn Ammar, que viveu entre 1031 e 1084:

eis nuvens…

que espessas são!

parecem formadas,

deste azul lado do céu,

do fumo que ao arder

madeira verde lhes deu.

vem chuva fina!

poalha de prata

polvilhar terra ambarina.

e se um instante

o sol se fica a brilhar

é uma escrava provocante

que se mostra a quem a quer comprar.

 

Este poema é para ti, Como um jardim que a brisa visitou
Sobre o qual repousar o orvalho da noite
Até que o ataviou de flores.
Do teu nome fiz-lhe uma veste de ouro.
Com o teu louvor derramei o melhor almíscar
Quem me suplantará? Se o teu apoio é sândalo
Eu o quereria no fogo do meu génio
Quando as brasas estavam ainda a arder.
O orgulho no amor – temei-o – é a sua vergonha
Mas o prazer – aproveitai-o – é o seu ardor…

Mas como já dissemos, para além de os alunos atravessarem a história do continente europeu, a de Portugal e a de Lisboa, queríamos também que atravessem a história de um lugar mais concreto, a do local onde atualmente se encontra a Fundação Calouste Gulbenkian e o respetivo museu.

É curioso verificar, que esse sitio já cumpriu diversas funções, aí houve um palácio, posteriormente um jardim zoológico, depois um velódromo, e por fim, em meados do século XX, uma feira popular.

Talvez entre quem nos lê, haja ainda alguém que se lembre dessa antiga feira popular e dela guarde ternas recordações. A esse propósito apetece citar o poeta francês Charles Baudelaire: ”La forme d’une ville change plus vite, hélas, que le coeur des mortels.” (A forma da cidade muda mais depressa que o coração de um mortal.)

Mesmo no final do guião, apresentámos algumas gravuras que ilustram a passagem do tempo e as diversas idades do homem ao longo da vida, desde que nasce até que desaparece.

Terminamos com uma citação de T.S. Elliot:

Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present...

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