A partir de hoje vamos passar a escrever neste blog num compasso ternário: inspiração, intenção e divagação. Após no dia de ontem termos anunciado a nossa mudança de estratégia, vamos agora dar-vos os restantes pormenores.
Quem ontem nos leu, está ciente de que o nosso objetivo original era partilhar os guiões de aprendizagem que fomos construindo. Contudo, a carne é fraca e nós deixámos-nos cair em tentação, acabando mais por divagar sobre todo o tipo de assuntos, do que propriamente a fazer aquilo a que nos tínhamos proposto. Pretendemos emendar esse desvio, voltando a colocar os guiões de aprendizagem no centro das atenções, ainda assim, não é por isso que deixaremos de divagar.
O método que para tal iremos adoptar é simples. A cada início de semana, digamos à segunda ou terça-feira, publicaremos um guião de aprendizagem acompanhado por um texto de reflexão sobre os temas e assuntos que o inspiraram. A esse primeiro momento da semana, chamaremos INSPIRAÇÃO.
Na segunda metade da semana, à quinta ou talvez à sexta-feira, haverá um segundo momento, cuja designação será INTENÇÃO. Em tal ocasião, explicitaremos a intencionalidade pedagógica subjacente à criação de cada guião, ou seja, quais as aprendizagens essenciais que pretendíamos trabalhar, as competências que queríamos desenvolver e também as áreas disciplinares e conteúdos curriculares envolvidos.
Finalmente, ao sábado ou ao domingo, ou em ambos os dias, teremos um terceiro momento, no qual cruzaremos temas da atualidade, polémicas recentes, graçolas diversas e reflexões avulsas com o guião de aprendizagem publicado no início dessa semana. Designaremos esse último momento como DIVAGAÇÃO.
Na semana seguinte, publicaremos um novo guião de aprendizagem, repetiremos todo o procedimento e assim sucessivamente. Em síntese, partindo sempre de um guião, o ritmo semanal deste blog passará a ser o seguinte: INSPIRAÇÃO, INTENÇÃO e DIVAGAÇÃO.
Damos-vos um exemplo para vosso melhor esclarecimento. Imaginemos que temos um guião de aprendizagem dedicado às alterações climáticas. Para o elaborar vamos usar obras de arte, músicas, filmes e passagens literárias que se relacionem com esse tema. No primeiro momento, INSPIRAÇÃO, falaremos dessas obras de arte, músicas, filmes ou passagens literárias.
No que diz respeito a um guião relativo às alterações climáticas, não seria de todo em todo despropositado, que nos inspirássemos e falássemos longamente de uma canção de Marvin Gaye, “Mercy, mercy me”. Se escutarem com atenção a letra, perceberão imediatamente por qual razão:
Ainda no que concerne ao mesmo assunto, não seria igualmente descontextualizado, que procurássemos inspiração e escrevêssemos acerca de um pintor mancuniano. Bem sabemos que tal adjetivo em Portugal quase caiu em desuso, contudo, para quem eventualmente não saiba, mancuniano designa quem é de Manchester. O artista a que nos referimos, é o hoje quase esquecido L.S. Lowry (1887-1976), pintor que retratou os nefastos efeitos da poluição nessa cidade do norte de Inglaterra.
Mas passemos ao segundo momento da semana, INTENÇÃO, no qual revelaremos quais as competências e as áreas disciplinares envolvidas em cada guião de aprendizagem. Mantendo o tema que escolhemos como exemplo, as alterações climáticas, é fácil de perceber que relativamente a esse assunto se podem desenvolver competências relacionadas com o bem-estar, saúde e ambiente, com o saber científico técnico e tecnológico e com pensamento crítico e criativo, isto só para citar as mais evidentes.
Em boa verdade, praticamente todas as áreas disciplinares poderiam ser convocadas para um tema tão abrangente. Em qualquer dos casos, a ideia é que neste segundo momento da semana explicitemos quais as áreas que efetivamente estão presentes em cada guião de aprendizagem. O documento que nos orientará nessa tarefa será o “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória”.
Fica o link:
No último momento de cada semana, DIVAGAÇÃO, a conversa será mais incerta. No caso do tema do guião ser as alterações climáticas, poderíamos muito bem começar a divagar sobre o modo como estas nos afetam.
Façamos um ensaio sobre tipo de coisas que escreveríamos a esse propósito. Tomemos como exemplo uma docente do 1° ciclo ou de Português. Estamos em meados de outubro, e em princípio, pela manhã, a dita docente vestiria uma roupa mais agasalhada. Todavia, caminhamos para o inverno e continua a estar um calor abrasador. E agora? O que fazer? O que vestir?
E se porventura algum aluno lhe faz uma composição acerca do outono escrevendo sobre o quão quente é e como nessa estação se usam as mesmas roupas que se usaram ao longo de todo o verão? E se isso acontece? Será que a composição está errada? Será que está certa?
Imaginemos que a docente faz como sempre fez ao longo de toda a sua carreira. Diz aos alunos que uma composição sobre o outono tem obrigatoriamente de discorrer acerca das primeiras chuvas, das temperaturas mais baixas e das roupas aconchegadas. Porém, se ela própria estiver com uma indumentária fresquinha e de quando em vez suspirar pelo tanto calor que faz, a sua situação torna-se paradoxal. Como resolver tal dilema?
Isto já para não falar no São Martinho. Mas a quem é que vai apetecer comer castanhas quentinhas com este calor? E como explicar em que consiste o verão de São Martinho, se o tempo está continuamente quente?
Devida às alterações climáticas, esta hipotética docente está completamente desorientada, nem sabe o que vestir, nem o que ensinar, nem o que corrigir, nem nada, só sabe que anda cheia de calor.
E pronto, é este o tipo de coisas que diremos no terceiro momento, o da DIVAGAÇÃO.
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