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Ó Miguel, por que nos abandonaste…

Diz-se que um dia o Sousa Tavares disse que “os professores são os inúteis mais bem pagos deste país”. Ele diz que nunca o disse, mas se não o disse, disse qualquer coisa de parecido. Fomos pesquisar e encontrámos o artigo de jornal do qual se diz que ele disse aquilo que não disse. Ē de junho de 2013, abaixo fica o link para quem não se fia no disse-que-disse:



É mais ou menos consensual, a opinião de que entre a classe docente e o Sousa Tavares há uma espécie de ódio de estimação. Não interessa se esse ódio é ou não real, mesmo que não o seja, faz-se de conta que sim e siga que é mais engraçado.

Ter um ódio de estimação a alguém e ser correspondido, não é coisa que se encontre todos os dias. Mais difícil ainda, é que esse ódio se tenha mantido vivo durante mais de uma década com a mesma intensidade e paixão do primeiro momento.

É só ir pesquisar na internet, encontram-se logo flores e ramalhetes lançados de parte a parte, desde pelo menos 2010 para cá. A relação entre o Tavares e os docentes assenta num sentimento mútuo, sem hesitações nem vacilações.

Todavia, uma coisa que tem sido tão bonita e divertida, parece agora encaminhar-se para o seu fim. Então não é que o Tavares esqueceu os professores e anda agora pegado com os transexuais!

Aparentemente tudo terá começado por causa do homem ter dito na televisão, que a vencedora do concurso Miss Portugal não deveria ser transexual. A nós tanto nos faz como nos fez quem é a Miss Portugal, é coisa que não acompanhamos, mas para ele não, a Miss tem de ser mulher e não há cá mais conversa.

Em boa verdade, até certo ponto compreendemos o ponto do Miguel, contudo, não é esse o ponto que nos interessa. Não estamos aqui para entrarmos em polémicas por causa de tais pontos, o que na realidade nos importa, é que o Tavares anda agora a ser odiado por outros, que não os professores.

As redes sociais estão incendiadas, a coisa é viral, não se fala de mais nada, há milhares contra e outros tantos milhares a favor do que o Tavares disse sobre a nova Miss Portugal. O rebuliço é grande, vejam lá que até a Elma Aveiro, a irmã do Ronaldo para quem não saiba, veio dar a sua opinião sobre o assunto. É sinal evidente que a coisa é de monta.

Mas então e os docentes, Miguel? Já não lhes ligas nenhuma? Esqueces assim de repente de um ódio estimação de tantos anos? E tudo por causa de um transexual que é Miss Portugal? Olha que está mal Miguel, não se faz.

De entre todas as desconsiderações que a classe docente sofreu nos últimos anos, esta é a que mais dói. Qual reposição do tempo de serviço, quais subidas de escalão, qual congelamento das carreiras ou melhoramentos dos vencimentos, o que os professores não mereciam era perder o Miguel. E agora? Que fazer? Como agir? Para onde ir?

Apesar de estarmos meio aparvalhados com a situação, vamos andar para a frente e reagir. Temos uma proposta para reconquistar o ódio de estimação do Miguel. Do que se necessita é de um gesto grandioso, de algo que faça com com que ele volte a olhar para os professores.

Essa reconquista é uma luta na qual as estruturas sindicais são decisivas. O que propomos é simples, mas simultaneamente surpreendente e arrebatador. O Miguel vai ficar com os olhos arregalados de espanto e nunca mais vai largar a classe docente.

A proposta é esta, os mais conhecidos líderes dos sindicatos de professores, o Mário Nogueira e o André Pestana, em prol da luta da classe docente pela recuperação do ódio do Miguel, submeter-se-iam a uma pequena intervenção cirúrgica, dirigiam-se de seguida ao registo civil para efetuar uma alteração no respetivo cartão de cidadão, e no próximo ano, aquando do concurso Miss Portugal 2024, concorreriam ao título da mais bela. A inscrição custa 50 €.

Temos a certeza absoluta que o Miguel não ficaria indiferente a tão espetacular gesto. Se eventualmente um dos líderes sindicais acabasse por vencer o concurso e ser eleita a mais bela, ainda melhor, era a cereja no topo do bolo.

Digam lá se não é uma boa ideia?

Bem sabemos que ainda há que esperar quase um ano até esse momento, mas aguenta-se e nesse entretanto, pode-se ir fazendo umas greves, pode ser que o Miguel comente e o ódio se vá reacendendo.
Caso contrário, só resta esperar, feitas contas não é assim tanto tempo, não são seis anos, seis meses e vinte e três dias.



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